terça-feira, 29 de dezembro de 2020

VÁ EM PAZ, JOSÉ BRÍGIDO!

 Por Marcondes Serra Ribeiro

Para além do artista, um homem exemplar, carismático, cidadão, filho, irmão, esposo, pai, amigo, com uma história de vida marcada pelos traços inconfundíveis do talento e amadurecimento com responsabilidade e temor a Deus!

É muito difícil juntar as palavras e expressar o sentimento, a comoção que me acometeu ao receber a notícia. Juntou-se à tristeza, alimentando-a e avultando-a, descontrolado e inevitavelmente, muitas lembranças de tantos momentos grandiosos e a certeza de que nossa cidade fica bem mais pobre em muitos aspectos, melancolicamente enlutada. José Brígido da Silva Neto chegou à maturidade, compondo uma história de vida pespontada por grandes realizações. Entristecido, confesso que perdi um ídolo com quem convivi e aplaudi ao vivo!

Assim que o conheci, uma das referências que lhe atribuíam era a participação em um concurso de talentos musicais na região: “A Voz de Ouro ABC”, onde ele teria se consagrado como um dos vencedores. Não precisei confirmar, porque sua voz, sempre bem tecnicamente impostada nas caprichadas e pessoalíssimas interpretações, dissipava qualquer dúvida. Assim, aproximados por ideias tão afinadas, tornamo-nos amigos, mas eu e todos nós que compúnhamos aquele seleto grupo de pessoas ligadas à música e à cultura, considerávamos-lhe  um ídolo.

Ouso garantir que nossos cantores se inspiravam e ainda se inspiram nele e colocando-o como referência, não só da cidade, mas do universo musical. Tivemos a oportunidade de comprovar seu talento teatral, quando encenamos  a peça “Episódio Árabe”, criação e direção de João Andrade, outro ícone de nossa época. Brígido protagonizou o anti-herói, simpático, fanfarrão, irreverente – uma lembrança de nossos tempos dourados, onde  tudo era muito disciplinado, respeitoso, trabalhado com dedicado talento natural.

Nenhum participante jamais esquecerá a mágica momesca a seu comando, quando “Os piratas” bailavam e cantavam alegremente coloridos: “Ponha uma arco-íris em sua moringa, é lucido é válido, inserido no contexto...” e aqueles momentos maravilhosos, aquele espírito de amizade e alegria, não apenas ficaram nos anais, mas também conosco, para sempre, como ele também permanecerá!

Reflito sobre a vida e suas nuances, as vitórias e derrotas, o mundo em constantes mudanças, a condição humana quase sempre angustiada, conflitante com a realidade;  as necessidades de adaptação aos ambientes e seus consequentes aprendizados; a vontade e o sonho esperançoso de construir algo belo e altruísta no torrão natal, atributos que fazem certas pessoas caminharem por uma distinta vereda, que depura a sensibilidade e aflora a  inspiração, culminando com a autoria poética, a criação artística, que compõe vidas com corações apaixonados e apaixonantes, caracteres generosos, almas grandiosas, ícones que se eternizarão entre nós!

Acredito que assim tenha acontecido com Brígido, um dos maiores expoentes de nossa geração, engrandecida por ele, com notáveis realizações artísticas. É uma perda significativa para todos nós, todos os amigos, pessoas dedicadas à arte e cultura. Perda para cidade e para a região. Ficamos mais sós e reduzidos, mais angustiados, especialmente nesse momento de apreensão e medo que nós vivemos. José Brígido transpõe a tênue linha da eternidade e deixa-nos o perpétuo legado de um grande artista, poderoso, insubstituível, máximo, modelar!

Brígido foi uma ser humano exemplar, sempre animado, positivo e cheio de energia, em todas as fases de sua vida, desde a juventude. Muito cortês, hospitaleiro, amigo e bem disposto às reflexões e conselhos, um experiente homem que recebia todos muito efusivamente, sempre sorrindo, aproveitando para fazer citações espirituosas.  Perdemos um grande cidadão, um artista especialmente múltiplo, cantor, compositor, ator, um homem dedicado e submisso aos ensinamentos do evangelho. Estamos perdendo uma figura da história de São João Batista e isso nos deixa profundamente consternados. É como se todos nós estivéssemos perdendo uma pessoa da família.

A morte de José Brígido da Silva Neto é uma perda irreparável para o universo artístico e cultural de São João Batista – celeiro de expressividades. Sem poupar reconhecimento, na verdade, é uma perda cultural da Baixada Maranhense e estadual. Junto-me aos amigos lamentosamente entristecidos pelo golpe fatal e registro minha solidariedade aos familiares e à sociedade joanina.  Sentimo-nos todos enlutados. Perdemos um artista eclético, múltiplo, que sem dúvidas deixará um vazio em nossa cidade. Nossas saudosas lembranças serão eternas e acontecerão de muitas formas, principalmente quando executarmos nosso hino, eternizador de sua maravilhosa e incomparável voz. Seu talento continuará nos inspirando e servindo de referência para as novas gerações!

Marcondes Serra Ribeiro é professor e autor do livro de poemas "Revérbero amarelo".

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