Por Marcondes Serra Ribeiro
Para além do artista, um homem exemplar, carismático, cidadão, filho, irmão, esposo, pai, amigo, com uma história de vida marcada pelos traços inconfundíveis do talento e amadurecimento com responsabilidade e temor a Deus!
É muito difícil juntar as
palavras e expressar o sentimento, a comoção que me acometeu ao receber a
notícia. Juntou-se à tristeza, alimentando-a e avultando-a, descontrolado e
inevitavelmente, muitas lembranças de tantos momentos grandiosos e a certeza de
que nossa cidade fica bem mais pobre em muitos aspectos, melancolicamente
enlutada. José Brígido da Silva Neto chegou à maturidade, compondo uma história
de vida pespontada por grandes realizações. Entristecido, confesso que perdi um
ídolo com quem convivi e aplaudi ao vivo!
Assim que o conheci, uma das
referências que lhe atribuíam era a participação em um concurso de talentos
musicais na região: “A Voz de Ouro ABC”, onde ele teria se consagrado como um
dos vencedores. Não precisei confirmar, porque sua voz, sempre bem tecnicamente
impostada nas caprichadas e pessoalíssimas interpretações, dissipava qualquer
dúvida. Assim, aproximados por ideias tão afinadas, tornamo-nos amigos, mas eu
e todos nós que compúnhamos aquele seleto grupo de pessoas ligadas à música e à
cultura, considerávamos-lhe um ídolo.
Ouso garantir que nossos cantores
se inspiravam e ainda se inspiram nele e colocando-o como referência, não só da
cidade, mas do universo musical. Tivemos a oportunidade de comprovar seu
talento teatral, quando encenamos a peça
“Episódio Árabe”, criação e direção de João Andrade, outro ícone de nossa
época. Brígido protagonizou o anti-herói, simpático, fanfarrão, irreverente –
uma lembrança de nossos tempos dourados, onde
tudo era muito disciplinado, respeitoso, trabalhado com dedicado talento
natural.
Nenhum participante jamais
esquecerá a mágica momesca a seu comando, quando “Os piratas” bailavam e
cantavam alegremente coloridos: “Ponha uma arco-íris em sua moringa, é
lucido é válido, inserido no contexto...” e aqueles momentos maravilhosos,
aquele espírito de amizade e alegria, não apenas ficaram nos anais, mas também
conosco, para sempre, como ele também permanecerá!
Reflito sobre a vida e suas
nuances, as vitórias e derrotas, o mundo em constantes mudanças, a condição
humana quase sempre angustiada, conflitante com a realidade; as necessidades de adaptação aos ambientes e
seus consequentes aprendizados; a vontade e o sonho esperançoso de construir
algo belo e altruísta no torrão natal, atributos que fazem certas pessoas
caminharem por uma distinta vereda, que depura a sensibilidade e aflora a inspiração, culminando com a autoria poética,
a criação artística, que compõe vidas com corações apaixonados e apaixonantes,
caracteres generosos, almas grandiosas, ícones que se eternizarão entre nós!
Acredito que assim tenha
acontecido com Brígido, um dos maiores expoentes de nossa geração, engrandecida
por ele, com notáveis realizações artísticas. É uma perda significativa para
todos nós, todos os amigos, pessoas dedicadas à arte e cultura. Perda para
cidade e para a região. Ficamos mais sós e reduzidos, mais angustiados,
especialmente nesse momento de apreensão e medo que nós vivemos. José Brígido
transpõe a tênue linha da eternidade e deixa-nos o perpétuo legado de um grande
artista, poderoso, insubstituível, máximo, modelar!
Brígido foi uma ser humano
exemplar, sempre animado, positivo e cheio de energia, em todas as fases de sua
vida, desde a juventude. Muito cortês, hospitaleiro, amigo e bem disposto às
reflexões e conselhos, um experiente homem que recebia todos muito
efusivamente, sempre sorrindo, aproveitando para fazer citações
espirituosas. Perdemos um grande
cidadão, um artista especialmente múltiplo, cantor, compositor, ator, um homem
dedicado e submisso aos ensinamentos do evangelho. Estamos perdendo uma figura
da história de São João Batista e isso nos deixa profundamente consternados. É
como se todos nós estivéssemos perdendo uma pessoa da família.
A morte de José Brígido da Silva Neto
é uma perda irreparável para o universo artístico e cultural de São João
Batista – celeiro de expressividades. Sem poupar reconhecimento, na verdade, é
uma perda cultural da Baixada Maranhense e estadual. Junto-me aos amigos
lamentosamente entristecidos pelo golpe fatal e registro minha solidariedade
aos familiares e à sociedade joanina.
Sentimo-nos todos enlutados. Perdemos um artista eclético, múltiplo, que
sem dúvidas deixará um vazio em nossa cidade. Nossas saudosas lembranças serão
eternas e acontecerão de muitas formas, principalmente quando executarmos nosso
hino, eternizador de sua maravilhosa e incomparável voz. Seu talento continuará
nos inspirando e servindo de referência para as novas gerações!
Marcondes Serra Ribeiro é professor e autor do livro de poemas "Revérbero amarelo".
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