Por Marcondes Serra Ribeiro (*)
Acredito que todo bom cidadão, amante de seu torrão, torça positivamente pelo seu desenvolvimento, preocupe-se com as questões mais agravadoras, comprometedoras do sempre lembrado e, na maioria das vezes, tão relaxado Bem Comum. Junto-me aos conterrâneos que se preocupam com todos os problemas, de forma especial, àqueles que influem diretamente sobre a educação, esportes e artes, porque são áreas de dedicada militância profissional e social há anos, que poderiam ter acrescido um pouco mais de melhorias e evolução nesses setores, se não tivessem sofrido a subestimação, os cerceamentos daqueles que poderiam apoiar, dar o necessário suporte, ou mesmo simplesmente liberar a execução. Faz-se mister lembrar o exercício d’alguns cargos exercidos no sistema por algumas pessoas comprovadamente eficientes, experientes, em diferentes mandatos – para mim, confessável sobrecarga do bornal das frustrações, onde a invídia alheia, principalmente dos ocupantes dos degraus acima, motivava a imposição da hierarquia e fechava o cerco, limitando-nos o espaço do quadradinho das atribuições, chegando ao malogro dos planos que sonhávamos realizar.
De verdade, nesta
última oportunidade compondo o Corpo Técnico da SEMED, mesmo com toda limitação
que a malgradada escala de poderes impunha-nos, por razões talvez até
“justificáveis”, nossa modesta equipe conseguiu executar projetos excelentes,
que deveriam ser realizados, pelo menos anualmente, como:
·
Jornadas
Pedagógicas
(2019, 2020) - com conteúdos oportunos e altamente válidos, voltados à melhoria
do processo, ajustadas aos propósitos da BNCC;
·
Os Jogos
Estudantis (2017)
– indiscutivelmente um grandioso evento, além de um sonho meu de tantos anos, prazerosa
e festiva culminância dos trabalhos escolares com as práticas desportivas, tão
benéficas à educação;
·
Mostras
Culturais
(2017 e 2018) – oportunidades de enriquecimento da socialização e ampliação da bagagem
cultural das crianças e dos adolescentes;
·
A Sacola
Literária (2019)
– projeto voltado ao incentivo à leitura, contendo livros paradidáticos
escolhidos, para serem lidos em casa, pelos alunos e familiares;
·
Cânticos
solenes dos hinos nas escolas (2017)– resgate do sentimento cívico, proposto para o
início das atividades escolares, com hasteamento das bandeiras;
·
“Dia das
Mães” (2017 –
2019)- incentivo e apoio à comemoração dos
“sentimentos e virtudes” do incondicional amor
materno;
·
O
Encanto do Aprendizado Natalino (2018 e 2019)– uma proposta construtivista e expositiva
sobre a cultura natalina, abrangendo a história de Jesus demonstrada através das
artes mais destacadas no período, como a música, o teatro e o artesanato;
·
Incentivo
à leitura (2018
e 2019)- projeto para contribuir com os alunos no desenvolvimento da
criatividade, recontagem, a partir de seus pontos de vista, das histórias que
chegaram até eles através dos livros paradidáticos recomendados;.
·
Folclore
Integrado (2019)
– Trabalho elaborado carinhosamente, com uma metodologia construtivista, de
abrangência multidisciplinar, proposto à U. I. “Raimundo Marques Figueiredo”,
de Olinda, como prazerosa atividade recuperadora dos dias de paralização das
aulas, por causa da reforma do prédio;
·
Projetos
de Vida: Religando
saberes, contextualizando o conhecimento (2017)– Ministrado pela UFMA, um
projeto de construção de aprendizagens significativas para professores que
atuam com alunos da educação básica, que não foi concluído, pelo descaso
presencial dos professores da rede.
Alguns outros
trabalhos, tão significativos e necessários, “goraram no papel”, sem o
necessário apoio ou mesmo a autorização em empreender. Infelizmente!
Faz-se de bom
alvitre esclarecer que os objetivos propostos pelo elenco referido, foram encaminhados
às escolas e praticados de forma diminuta. Para muitos, a política partidária
com requintes politiqueiros sobrepõe-se à política educacional. O quê tem sido uma
tradicionalidade por demais lamentável!
De verdade, tivemos impedimentos para executar muitos bons projetos, justificáveis
somente neste 2020, por causa dos cuidados preventivos com o surto pandêmico,
como o distanciamento físico, uso de máscaras, zelo com a higiene das mãos -
recomendação da lavagem com sabão e higienização com álcool em gel, que foram
imposições protocolares consequentes da pandemia e isto se tornou o álibi aceitável para muitas
“impossibilidades” quanto ao trabalhos pedagógicos presenciais, conciliando, com
justeza, as desculpas de tantos que costumeiramente faltam às suas
responsabilidades.
Muito, de tudo que se refere à melhoria do processo educacional, há
anos, deve-se também ao despreparo, à ignorância e ao descaso de alguns
gestores escolares, em todos os níveis, desconhecedores do processo pedagógico
e dos preceitos da administração racional, eficiente e participativa – aqueles
entraves bem costumeiros da gestão pública, que se tornaram maximizados pela
situação nova e surpreendentemente difícil de ser contornada, consequente da
Covid – 19.
Com o alarme pandêmico, ficamos num beco sem
saída, sentindo-nos pressionados na busca de soluções. As aulas
remotas, propostas inicialmente como solução mais eficaz, saída oportuna para
amenizar a paralisação obrigatória das atividades tradicionais presencias,
dependem do sistema mais moderno de comunicação, a Internet - Rede mundial de
computadores conectados para interligar as pessoas, que trocam dados e mensagens virtuais, onde
os professores pudessem atender um planejamento estratégico de atuação com seus
conteúdo, que obviamente depende, por parte de todos os componentes do
processo, da posse ou aquisição de dispositivos (computador, smartphone,
tablets etc), o acesso à Internet de qualidade, inclusive com a disponibilidade
de créditos para essa finalidade, situação que expõe a discrepância nacional que destaca nossa região por
excelência - a terrível desigualdade social que nos impede em ativar a
proposta, configurada como consenso entre todos os consultados na discussão do
problema: Sindicato da classe, professores e técnicos da SEMED.
Reunimo-nos, conversamos, coletamos sugestões dos professores, discutimos
com a entidade de classe dos professores, acompanhamos as propostas virtuais,
analisamos as deliberações, enfim, buscamos alternativas que viabilizassem
nossa situação e concluímos um Plano de Ação, onde as Atividades Impressas - as
mais práticas e possíveis seriam executadas. Distribuímos os Livros Didáticos e
jogamo-nos à produção dos conteúdos de cada ano escolar, em forma de kit, contendo
os Cadernos de Atividades, Cartilha esclarecedora sobre a Covid, Carta aos
pais/responsáveis e outros didáticos de apoio. Esse material foi disponibilizado
às escolas e hoje sabemos que grande parte não chegou aos
alunos e do pouco que chegou, pequena parte teve acompanhamento.
Obviamente que o resultado não poderia ser outro - foi bem menor do que
esperávamos. Muitas comunidades têm problemas quanto à mobilidade e no período
da pandemia, o receio da contaminação afetou a todos e tudo se tornou bem mais
difícil. Faltou-nos muito para conseguir efetivar as ações com as propostas
experimentadas em outras localidades, que nos permitissem alcançar um
contingente razoável de alunos. Fez-se muito pouco e isso foi excludente.
A
constatação do insucesso das aulas remotas, trabalhadas apenas virtualmente, em
razão das dificuldades comuns em muitas localidades brasileiras, fez surgir a
proposta do ensino híbrido, que aplica uma
metodologia conciliativa entre o aprendizado conectado à Internet,
com o tradicionalmente feito em sala de aula, em uma estrutura física, que
acontece de forma presencial, valorizando a interação entre professores e
alunos, obedecendo as necessárias exigências preventivas, quantitativo de
alunos cumprindo o distanciamento protocolar, trabalhado por grupos reduzidos e
alternados, buscando uma solução para a defasagem da proposta inicial
totalmente conectada à Internet.
Mas o ensino híbrido, em
qualquer uma de suas formas, requer também uma infraestrutura adequada, com
professores treinados e isso já poderia estar sendo pensado desde agora, como
parte de um planejamento contemplativo de um ano letivo que amenize as perdas
deste 2020, que capenga arruinado rumo ao fechamento, com raríssimas exceções,
visto que pouquíssimos professores empenharam-se em fazer algo recomendado, como
alternativa institucional, ou mesmo como fruto de suas pesquisas, graças ao
responsável interesse por ações
educativas amenizadoras do problema neste período pandêmico.
O ensino híbrido desponta como uma alternativa que se
manterá por algum tempo, considerando-se a previsível extensão dos cuidados
preventivos com o covid-19, porque é um modelo
que desenvolve o protagonismo e a
autonomia do estudante, levando-o a ser um sujeito participativo, construtor de
conceitos e do próprio conhecimento; maximiza o aproveitamento das aulas e
conteúdos; otimiza o tempo do professor; reduz os custos educacionais; aumenta
o engajamento dos alunos e reduz a evasão; prepara mais eficientemente o aluno
da Educação Básica, com vistas ao ingresso no Médio e permite a adequação de várias
metodologias de aprendizagem.
Uma nova equipe será constituída
e alerto que as dificuldades precisam ser claramente expostas, discutidas, para
que a gestão educacional vindoura tenha reais condições de começar o trabalho
voltado à superação dos problemas, à racional eficiência, conhecendo os maiores
desafios da rede pública de ensino sob sua responsabilidade. Há grande
necessidade de discussão das estratégias da educação municipal sobre os
desafios estabelecidos pela pandemia do novo Coronavírus ao processo educativo.
Pode parecer fácil, como forma vaidosamente simplória de demonstrar disposição
e competência para encarar a responsabilidade com as ações resolutivas do
problema, mas desfaço-me da modéstia e afirmo categoricamente que é
“complicado” como costumava qualificar, todas as situações-problema, uma
ex-gestora da educação joanina, cuja performance foi bem análoga à maioria
antecessora e sucessora. E continuamos a marcar passo, ou retroceder, agora e
por mais algum tempo, por força da pandemia. Não basta uma equipe composta de
profissionais competentes. É necessário que todos que a compõem tenham competência,
responsabilidade, disponibilidade, amor à educação e o secretário(a) tenha a
confiabilidade do gestor e a liberdade de propositura, decisão e ação,
comungadas com o Corpo Técnico da SEMED. Oxalá tudo aconteça satisfatoriamente!
Reafirmo que vejo apreensivo nosso caminhar para o fechamento de um ano letivo que transcorre sob a égide das preocupações preventivas com a COVID-19, e as consequentes dificuldades de aplicação de qualquer ação paliativa, que possa assegurar um mínimo de aprendizado. As perdas são incontestáveis, principalmente onde nada, ou quase nada, pode ser feito. Seria óbvia, irrefutável a necessidade de prosseguir o bom trabalho desempenhado por uma equipe ao longo dos quatro anos de uma gestão, mas a pandemia, que infelizmente se prenuncia extensiva, chegou de chofre, surpreendeu o mundo despreparado para as radicais e necessárias mudanças no processo educacional e nas regiões mais pobres, como a nossa, tudo ficou e continua bem mais difícil, as precariedades de diversas ordens sobrepõem-se às possíveis estratégias, mesmo aquelas que se mostram mais adequadas. Sobre a funcionalidade do ano letivo de 2020, o que será repassado para ter continuidade? É por demais necessário que isto seja discutido seriamente!
Não vejo a promoção massiva
dos alunos como uma forma de sanar o problema do necessário e consequente
atraso de um ano em suas escolaridades. Promover sem aprendizado não é correto.
Deveriam analisar a possibilidade bem elaborada de excepcionalmente em 2021 os
alunos cursarem dois anos simultaneamente, com definição de um currículo
especial, com os assuntos realmente essenciais em cada campo de estudo. Há
algum tempo, faço esta observação e indico-a como a alternativa mais eficiente
para a recuperação deste nefasto ano que se aproxima do término.
Em
quase todas nossas escolas, o mínimo aceitável ao processo do
ensino-aprendizagem foi (?) trabalhado, aconteceu de forma limitada e, por ser
tão ínfima, pouco acrescentou significativamente à aprendizagem dos alunos.
Muito raramente se tem comprovação de professores que se esforçaram e superaram
as dificuldades, mas que não atingiram toda classe, porque muitos alunos
estavam impossibilitados em acompanhar os trabalhos, resultando assim em uma
proposta lamentavelmente antidemocrática, porque não se faz democracia com
exclusão, reafirmo!
Há quem conteste, por
partidarismo politiqueiro, ou antipatias pessoais, mas fizemos “coisas boas” a
nível pedagógico, antes da nefasta pandemia, trabalhos que poderiam repercutir
bem mais amplamente, se entre nós, em nosso quadro professoral, as coisas da
educação também não caminhassem atreladas à politicagem praticada por
significativo número de profissionais. Mais um lamento que atrapalha o
processo, desde muito tempo – desde sempre, como alguns reforçam enfaticamente!
Não apoio, não recomendo a ousada decisão de promoção ampla, geral e
irrestrita dos estudantes e divago pensativo, analisando as propostas
paliativas apresentadas para recuperação deste prejudicado ano escolar, sem
concordar totalmente com nenhuma, sem que se monte uma estrutura que possibilite
a boa aplicação do trabalho e exija-se seu cumprimento. Precisamos de ensinamentos bem ministrados,
motivados, e consequentes aprendizados, duo essencial ao processo e todo
professor que considera essa relação e interessa-se, empenha-se para fazê-la
acontecer, certamente afina com esta posição.
Acho que o ano letivo de 2021 deveria ser trabalhado com um projeto
especialíssimo voltado à contemplação dessa realidade sumariamente defasada.
Somos bem conscientes que os anteriores, transcorridos “normalmente”, sem
contenções obrigatórias como esta que vivemos agora, encerravam-se com débitos
de dias, de aulas, falta de cumprimento das obrigações escolares, registro das
atividades no Diário de Classe, inúmeras faltas justificadas, além dos
costumeiros “faz de contas que ensino”
promovidos por alguns, mas aconteceram, mesmo que carregados de precariedades.
Este é que realmente não aconteceu para a quase totalidade dos alunos!
Há, dentre nossos
profissionais, aqueles que agem eficientemente com as responsabilidades
professorais, esmeram-se na efetivação dos projetos educativos propostos pela
equipe técnica da SEMED e outros por eles planejados, que acontecem nas salas
de aula, ou nos espaços improvisados das escolas, com atividades dinâmicas,
interessantes, engrandecedoras do aprendizado, que só nos frustram pelo tempo
exíguo concedido às suas práticas (desculpem-me pela silepse de pessoa. O
orgulho inclui-me!). Sentimo-nos mesmo bem confortáveis, além das salas de
aulas, nos espaços desportivos, para onde estendemos nossas atividades no apoio
e na promoção dos esportes, ministrando treinos aos alunos, são espaços e tempo
que ocupamos sem nenhuma dependência de qualquer autoridade, onde prevalece a
índole do desportista, o amor pelas artes, a paixão confessa pelas atividades professorais, a disposição
às atitudes motivadoras na transmissão
de conteúdos em cada oportunidade, construindo com os alunos um caprichoso e
rentável labor didático-pedagógico!
Quando nosso grupo de trabalho assumiu, em 2017, a SEMED - Secretaria
Municipal de Educação, recebemos o pouco que foi deixado de forma desorganizada.
Não houve equipe de transição, para efetuar a entrega dos registros e
informações necessários ao começo de nosso trabalho, assim, ficamos desnorteados,
cheios de novas ideias, mas sem saber por onde começar. Nós ficamos sem
condições de atender o roteiro feito previamente e também sem poder dar
continuidade a nada, porque foi premente a necessidade de reorganizar o pouco
recebido e “correr atrás” de outras tantas informações documentais de suma
importância. A mudança de prédio foi outro motivo para reorganizar, visto que
nenhuma secretaria dispõe de espaço próprio e os aluguéis beneficiadores são
exigências das promessas de campanha e precisam acontecer logo nos primeiros
dias do novo mandato.
Precisávamos iniciar um novo ano letivo e estávamos ansiosos para
começar com “pé direito”, mas foi trabalhoso, difícil de organizar tudo para o
início decente das atividades sob novo comando. Sequer encontramos listagem de professores e
respectivas lotações. Precisamos busca-las no Setor de Pagamento, para
situarmo-nos. Não houve a preocupação, da gestão anterior, em deixar a
documentação organizada, para que pudéssemos dar continuidade aos trabalhos já
realizados.
Todos os professores, gestores, coordenadores, supervisores que compõem
um quadro educacional precisam agir conscientes de que as políticas
educacionais não são de curto prazo e, portanto, precisam ter continuidade ao
longo das sucessivas gestões para que sejam eficazes e neste processo, a
documentação que constitui a memória da instituição educacional é de suma
importância!
Por isso, é sumariamente necessário que não se deixe a organização da
documentação constituinte do Memorial da Gestão para a última hora. Como estou
afastado para tratamento de saúde, confio que nossa equipe esteja sendo
orientada para organizar a documentação e a casa para entrega-las
condignamente!
Não se pode dizer agora, ao
avaliar nossa educação, que nestes anos todos, a culpa por sucessivos entraves,
“marcação de passo”, retroação, estagnação sejam por fatores de força
repressora equipolente à pandemia. Neste ano de 2020, sim, com certeza, mas, ao
longo do tempo, nosso caminhar tem sido trôpego, lento, conduzido com certo
descaso, uma observação que faço com mais propriedade, desde que me inseri no
contexto da funcionalidade do sistema, testemunhando improbidades e
cerceamentos. Bons profissionais nós temos, aqueles que se dedicam para que
coisas boas aconteçam na educação – e têm acontecido, embora diminutamente, mas
infelizmente temos testemunhado desatenções e descompromissos em considerável
proporção!
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