sábado, 12 de dezembro de 2020

Pelo bem da Educação...

 Por Marcondes Serra Ribeiro (*)


“Administrar é resolver problemas”, essa é uma definição óbvia e facilmente aceitável, mas concordo e aceito, bem mais satisfatoriamente, aquela que declara enfática e mais responsavelmente a questão de tão nobre responsabilidade à frente dos órgãos encarregados das políticas resolutivas dos problemas do povo: “Administrar bem é nunca acumular problemas”! Esta importante afirmativa deveria ser cumprida, ou, pelo menos, nortear o bom andamento da gestão pública, em atenção ao responsável compromisso de resolvê-los. Problemas sempre existirão, mas, considerando a situação de justificável impossibilidade em não conseguir resolver todos, torna-se até aceitável que o mínimo possível, dentre os prioritários, componha o “presente de grego” da gestão que finda, para a nova, recém-eleita e futura administração. Sabemos que obras importantes e muito necessárias foram realizadas!

Acredito que todo bom cidadão, amante de seu torrão, torça positivamente pelo seu desenvolvimento, preocupe-se com as questões mais agravadoras, comprometedoras do sempre lembrado e, na maioria das vezes, tão relaxado Bem Comum. Junto-me aos conterrâneos que se preocupam com todos os problemas, de forma especial, àqueles que influem diretamente sobre a educação, esportes e artes, porque são áreas de dedicada militância profissional e social há anos, que poderiam ter acrescido um pouco mais de melhorias e evolução nesses setores, se não tivessem sofrido a subestimação, os cerceamentos daqueles que poderiam apoiar, dar o necessário suporte, ou mesmo simplesmente liberar a execução. Faz-se mister lembrar o exercício d’alguns cargos exercidos no sistema por algumas pessoas comprovadamente eficientes, experientes, em diferentes mandatos – para mim, confessável sobrecarga do bornal das frustrações, onde a invídia alheia, principalmente dos ocupantes dos degraus acima, motivava a imposição da hierarquia e fechava o cerco, limitando-nos o espaço do quadradinho das atribuições, chegando ao malogro dos planos que sonhávamos realizar.

De verdade, nesta última oportunidade compondo o Corpo Técnico da SEMED, mesmo com toda limitação que a malgradada escala de poderes impunha-nos, por razões talvez até “justificáveis”, nossa modesta equipe conseguiu executar projetos excelentes, que deveriam ser realizados, pelo menos anualmente, como:

·         Jornadas Pedagógicas (2019, 2020) - com conteúdos oportunos e altamente válidos, voltados à melhoria do processo, ajustadas aos propósitos da BNCC;

·         Os Jogos Estudantis (2017) – indiscutivelmente um grandioso evento, além de um sonho meu de tantos anos, prazerosa e festiva culminância dos trabalhos escolares com as práticas desportivas, tão benéficas à educação;

·         Mostras Culturais (2017 e 2018) – oportunidades de enriquecimento da socialização e ampliação da bagagem cultural das crianças e dos adolescentes;

·         A Sacola Literária (2019) – projeto voltado ao incentivo à leitura, contendo livros paradidáticos escolhidos, para serem lidos em casa, pelos alunos e familiares;

·         Cânticos solenes dos hinos nas escolas (2017)– resgate do sentimento cívico, proposto para o início das atividades escolares, com hasteamento das bandeiras;

·         “Dia das Mães” (2017 – 2019)- incentivo e apoio à comemoração dos  sentimentos e virtudes” do incondicional amor materno;

·         O Encanto do Aprendizado Natalino (2018 e 2019)– uma proposta construtivista e expositiva sobre a cultura natalina, abrangendo a história de Jesus demonstrada através das artes mais destacadas no período, como a música, o teatro e o artesanato;

·         Incentivo à leitura (2018 e 2019)- projeto para contribuir com os alunos no desenvolvimento da criatividade, recontagem, a partir de seus pontos de vista, das histórias que chegaram até eles através dos livros paradidáticos  recomendados;.

·         Folclore Integrado (2019) – Trabalho elaborado carinhosamente, com uma metodologia construtivista, de abrangência multidisciplinar, proposto à U. I. “Raimundo Marques Figueiredo”, de Olinda, como prazerosa atividade recuperadora dos dias de paralização das aulas, por causa da reforma do prédio;

·         Projetos de Vida: Religando saberes, contextualizando o conhecimento (2017)– Ministrado pela UFMA, um projeto de construção de aprendizagens significativas para professores que atuam com alunos da educação básica, que não foi concluído, pelo descaso presencial dos professores da rede.


Alguns outros trabalhos, tão significativos e necessários, “goraram no papel”, sem o necessário apoio ou mesmo a autorização em empreender. Infelizmente!

Faz-se de bom alvitre esclarecer que os objetivos propostos pelo elenco referido, foram encaminhados às escolas e praticados de forma diminuta. Para muitos, a política partidária com requintes politiqueiros sobrepõe-se à política educacional. O quê tem sido uma tradicionalidade por demais lamentável!



 

De verdade, tivemos impedimentos para executar muitos bons projetos, justificáveis somente neste 2020, por causa dos cuidados preventivos com o surto pandêmico, como o distanciamento físico, uso de máscaras, zelo com a higiene das mãos - recomendação da lavagem com sabão e higienização com álcool em gel, que foram imposições protocolares consequentes da pandemia e isto se  tornou o álibi aceitável para muitas “impossibilidades” quanto ao trabalhos pedagógicos presenciais, conciliando, com justeza, as desculpas de tantos que costumeiramente faltam às suas responsabilidades. 

Muito, de tudo que se refere à melhoria do processo educacional, há anos, deve-se também ao despreparo, à ignorância e ao descaso de alguns gestores escolares, em todos os níveis, desconhecedores do processo pedagógico e dos preceitos da administração racional, eficiente e participativa – aqueles entraves bem costumeiros da gestão pública, que se tornaram maximizados pela situação nova e surpreendentemente difícil de ser contornada, consequente da Covid – 19.

Com o alarme pandêmico, ficamos num beco sem saída, sentindo-nos pressionados na busca de soluções. As aulas remotas, propostas inicialmente como solução mais eficaz, saída oportuna para amenizar a paralisação obrigatória das atividades tradicionais presencias, dependem do sistema mais moderno de comunicação, a Internet - Rede mundial de computadores conectados para interligar as pessoas,  que trocam dados e mensagens virtuais, onde os professores pudessem atender um planejamento estratégico de atuação com seus conteúdo, que obviamente depende, por parte de todos os componentes do processo, da posse ou aquisição de dispositivos (computador, smartphone, tablets etc), o acesso à Internet de qualidade, inclusive com a disponibilidade de créditos para essa finalidade, situação que expõe a discrepância  nacional que destaca nossa região por excelência - a terrível desigualdade social que nos impede em ativar a proposta, configurada como consenso entre todos os consultados na discussão do problema: Sindicato da classe, professores e técnicos da SEMED.

Reunimo-nos, conversamos, coletamos sugestões dos professores, discutimos com a entidade de classe dos professores, acompanhamos as propostas virtuais, analisamos as deliberações, enfim, buscamos alternativas que viabilizassem nossa situação e concluímos um Plano de Ação, onde as Atividades Impressas - as mais práticas e possíveis seriam executadas. Distribuímos os Livros Didáticos e jogamo-nos à produção dos conteúdos de cada ano escolar, em forma de kit, contendo os Cadernos de Atividades, Cartilha esclarecedora sobre a Covid, Carta aos pais/responsáveis e outros didáticos de apoio. Esse material foi disponibilizado às escolas   e hoje sabemos que grande parte não chegou aos alunos e do pouco que chegou, pequena parte teve acompanhamento.

Obviamente que o resultado não poderia ser outro - foi bem menor do que esperávamos. Muitas comunidades têm problemas quanto à mobilidade e no período da pandemia, o receio da contaminação afetou a todos e tudo se tornou bem mais difícil. Faltou-nos muito para conseguir efetivar as ações com as propostas experimentadas em outras localidades, que nos permitissem alcançar um contingente razoável de alunos. Fez-se muito pouco e isso foi excludente.

A constatação do insucesso das aulas remotas, trabalhadas apenas virtualmente, em razão das dificuldades comuns em muitas localidades brasileiras, fez surgir a proposta do ensino híbrido, que aplica uma  metodologia conciliativa entre o aprendizado conectado à Internet, com o tradicionalmente feito em sala de aula, em uma estrutura física, que acontece de forma presencial, valorizando a interação entre professores e alunos, obedecendo as necessárias exigências preventivas, quantitativo de alunos cumprindo o distanciamento protocolar, trabalhado por grupos reduzidos e alternados, buscando uma solução para a defasagem da proposta inicial totalmente conectada à Internet.

Mas o ensino híbrido, em qualquer uma de suas formas, requer também uma infraestrutura adequada, com professores treinados e isso já poderia estar sendo pensado desde agora, como parte de um planejamento contemplativo de um ano letivo que amenize as perdas deste 2020, que capenga arruinado rumo ao fechamento, com raríssimas exceções, visto que pouquíssimos professores  empenharam-se em fazer algo recomendado, como alternativa institucional, ou mesmo como fruto de suas pesquisas, graças ao responsável interesse por  ações educativas amenizadoras do problema neste período pandêmico.

O ensino híbrido desponta como uma alternativa que se manterá por algum tempo, considerando-se a previsível extensão dos cuidados preventivos com o covid-19, porque é um modelo que desenvolve o  protagonismo e a autonomia do estudante, levando-o a ser um sujeito participativo, construtor de conceitos e do próprio conhecimento; maximiza o aproveitamento das aulas e conteúdos; otimiza o tempo do professor; reduz os custos educacionais; aumenta o engajamento dos alunos e reduz a evasão; prepara mais eficientemente o aluno da Educação Básica, com vistas ao ingresso no Médio e permite a adequação de várias metodologias de aprendizagem.

Uma nova equipe será constituída e alerto que as dificuldades precisam ser claramente expostas, discutidas, para que a gestão educacional vindoura tenha reais condições de começar o trabalho voltado à superação dos problemas, à racional eficiência, conhecendo os maiores desafios da rede pública de ensino sob sua responsabilidade. Há grande necessidade de discussão das estratégias da educação municipal sobre os desafios estabelecidos pela pandemia do novo Coronavírus ao processo educativo. Pode parecer fácil, como forma vaidosamente simplória de demonstrar disposição e competência para encarar a responsabilidade com as ações resolutivas do problema, mas desfaço-me da modéstia e afirmo categoricamente que é “complicado” como costumava qualificar, todas as situações-problema, uma ex-gestora da educação joanina, cuja performance foi bem análoga à maioria antecessora e sucessora. E continuamos a marcar passo, ou retroceder, agora e por mais algum tempo, por força da pandemia. Não basta uma equipe composta de profissionais competentes. É necessário que todos que a compõem tenham competência, responsabilidade, disponibilidade, amor à educação e o secretário(a) tenha a confiabilidade do gestor e a liberdade de propositura, decisão e ação, comungadas com o Corpo Técnico da SEMED. Oxalá tudo aconteça satisfatoriamente!


Reafirmo que vejo apreensivo nosso caminhar para o fechamento de um ano letivo que transcorre sob a égide das preocupações preventivas com a COVID-19, e as consequentes dificuldades de aplicação de qualquer ação paliativa, que possa assegurar um mínimo de aprendizado. As perdas são incontestáveis, principalmente onde nada, ou quase nada, pode ser feito.  Seria óbvia, irrefutável a necessidade de prosseguir o bom trabalho desempenhado por uma equipe ao longo dos quatro anos de uma gestão, mas a pandemia, que infelizmente se prenuncia extensiva, chegou de chofre, surpreendeu o mundo despreparado para as radicais e necessárias mudanças no processo educacional e  nas regiões mais pobres, como a nossa, tudo ficou e continua bem mais difícil, as precariedades de diversas ordens sobrepõem-se às possíveis estratégias, mesmo aquelas que se mostram mais adequadas. Sobre a funcionalidade do ano letivo de 2020, o que será repassado para ter continuidade? É por demais necessário que isto seja discutido seriamente!

Não vejo a promoção massiva dos alunos como uma forma de sanar o problema do necessário e consequente atraso de um ano em suas escolaridades. Promover sem aprendizado não é correto. Deveriam analisar a possibilidade bem elaborada de excepcionalmente em 2021 os alunos cursarem dois anos simultaneamente, com definição de um currículo especial, com os assuntos realmente essenciais em cada campo de estudo. Há algum tempo, faço esta observação e indico-a como a alternativa mais eficiente para a recuperação deste nefasto ano que se aproxima do término.

Em quase todas nossas escolas, o mínimo aceitável ao processo do ensino-aprendizagem foi (?) trabalhado, aconteceu de forma limitada e, por ser tão ínfima, pouco acrescentou significativamente à aprendizagem dos alunos. Muito raramente se tem comprovação de professores que se esforçaram e superaram as dificuldades, mas que não atingiram toda classe, porque muitos alunos estavam impossibilitados em acompanhar os trabalhos, resultando assim em uma proposta lamentavelmente antidemocrática, porque não se faz democracia com exclusão, reafirmo!

Há quem conteste, por partidarismo politiqueiro, ou antipatias pessoais, mas fizemos “coisas boas” a nível pedagógico, antes da nefasta pandemia, trabalhos que poderiam repercutir bem mais amplamente, se entre nós, em nosso quadro professoral, as coisas da educação também não caminhassem atreladas à politicagem praticada por significativo número de profissionais. Mais um lamento que atrapalha o processo, desde muito tempo – desde sempre, como alguns reforçam enfaticamente!

Não apoio, não recomendo a ousada decisão de promoção ampla, geral e irrestrita dos estudantes e divago pensativo, analisando as propostas paliativas apresentadas para recuperação deste prejudicado ano escolar, sem concordar totalmente com nenhuma, sem que se monte uma estrutura que possibilite a boa aplicação do trabalho e exija-se seu cumprimento.  Precisamos de ensinamentos bem ministrados, motivados, e consequentes aprendizados, duo essencial ao processo e todo professor que considera essa relação e interessa-se, empenha-se para fazê-la acontecer, certamente afina com esta posição.

Acho que o ano letivo de 2021 deveria ser trabalhado com um projeto especialíssimo voltado à contemplação dessa realidade sumariamente defasada. Somos bem conscientes que os anteriores, transcorridos “normalmente”, sem contenções obrigatórias como esta que vivemos agora, encerravam-se com débitos de dias, de aulas, falta de cumprimento das obrigações escolares, registro das atividades no Diário de Classe, inúmeras faltas justificadas, além dos costumeiros  “faz de contas que ensino” promovidos por alguns, mas aconteceram, mesmo que carregados de precariedades. Este é que realmente não aconteceu para a quase totalidade dos alunos!

Há, dentre nossos profissionais, aqueles que agem eficientemente com as responsabilidades professorais, esmeram-se na efetivação dos projetos educativos propostos pela equipe técnica da SEMED e outros por eles planejados, que acontecem nas salas de aula, ou nos espaços improvisados das escolas, com atividades dinâmicas, interessantes, engrandecedoras do aprendizado, que só nos frustram pelo tempo exíguo concedido às suas práticas (desculpem-me pela silepse de pessoa. O orgulho inclui-me!). Sentimo-nos mesmo bem confortáveis, além das salas de aulas, nos espaços desportivos, para onde estendemos nossas atividades no apoio e na promoção dos esportes, ministrando treinos aos alunos, são espaços e tempo que ocupamos sem nenhuma dependência de qualquer autoridade, onde prevalece a índole do desportista, o amor pelas artes, a paixão confessa  pelas atividades professorais, a disposição às atitudes  motivadoras na transmissão de conteúdos em cada oportunidade, construindo com os alunos um caprichoso e rentável  labor  didático-pedagógico!

 


Quando nosso grupo de trabalho assumiu, em 2017, a SEMED - Secretaria Municipal de Educação, recebemos o pouco que foi deixado de forma desorganizada. Não houve equipe de transição, para efetuar a entrega dos registros e informações necessários ao começo de nosso trabalho, assim, ficamos desnorteados, cheios de novas ideias, mas sem saber por onde começar. Nós ficamos sem condições de atender o roteiro feito previamente e também sem poder dar continuidade a nada, porque foi premente a necessidade de reorganizar o pouco recebido e “correr atrás” de outras tantas informações documentais de suma importância. A mudança de prédio foi outro motivo para reorganizar, visto que nenhuma secretaria dispõe de espaço próprio e os aluguéis beneficiadores são exigências das promessas de campanha e precisam acontecer logo nos primeiros dias do novo mandato.

Precisávamos iniciar um novo ano letivo e estávamos ansiosos para começar com “pé direito”, mas foi trabalhoso, difícil de organizar tudo para o início decente das atividades sob novo comando.  Sequer encontramos listagem de professores e respectivas lotações. Precisamos busca-las no Setor de Pagamento, para situarmo-nos. Não houve a preocupação, da gestão anterior, em deixar a documentação organizada, para que pudéssemos dar continuidade aos trabalhos já realizados.

Todos os professores, gestores, coordenadores, supervisores que compõem um quadro educacional precisam agir conscientes de que as políticas educacionais não são de curto prazo e, portanto, precisam ter continuidade ao longo das sucessivas gestões para que sejam eficazes e neste processo, a documentação que constitui a memória da instituição educacional é de suma importância!

Por isso, é sumariamente necessário que não se deixe a organização da documentação constituinte do Memorial da Gestão para a última hora. Como estou afastado para tratamento de saúde, confio que nossa equipe esteja sendo orientada para organizar a documentação e a casa para entrega-las condignamente!

Não se pode dizer agora, ao avaliar nossa educação, que nestes anos todos, a culpa por sucessivos entraves, “marcação de passo”, retroação, estagnação sejam por fatores de força repressora equipolente à pandemia. Neste ano de 2020, sim, com certeza, mas, ao longo do tempo, nosso caminhar tem sido trôpego, lento, conduzido com certo descaso, uma observação que faço com mais propriedade, desde que me inseri no contexto da funcionalidade do sistema, testemunhando improbidades e cerceamentos. Bons profissionais nós temos, aqueles que se dedicam para que coisas boas aconteçam na educação – e têm acontecido, embora diminutamente, mas infelizmente temos testemunhado desatenções e descompromissos em considerável proporção!

 

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