A música de autoria de Dom da
dupla Dom e Ravel, a contrário de que muitos pensam não foi uma composição
encomendada pelo regime militar, na pessoa do Presidente da República à época Emílio
Garrastazu Médice.
Ainda que usada pelo governo em
suas propagandas como forma de exaltar o civismo e o sentimento ufanista, a
música fora composta e gravada em 1970 pela Banda “Os Incríveis” por conta do
clima da Copa de 70, e que dada a sua execução e sucesso chegou a ser mais
popular do que a música oficial da competição “Pra frente Brasil”, de Miguel
Gustavo.
Na
época do lançamento o governo fazia uma forte propaganda nacionalista, que ia
muito além dos slogans “Brasil, ame-o ou deixe-o”. A paixão
e a expectativa pelo tricampeonato da Copa de 1970 eram usadas como forte apelo
à aprovação do novo regime autoritário. Também acontecia uma guerra ideológica
dentro da indústria fonográfica. A maioria dos artistas intelectualizados,
como Chico Buarque, Caetano
Veloso, Gilberto
Gil e Milton Nascimento eram
opositores ao militarismo, e escreviam letras politizadas como forma de
protesto.
Foi
dessa treta entre os artistas da música brasileira que se dividiram entre os
que eram contra o regime militar e faziam sutis letras politizadas contra a
ditadura militar, a exemplo da música de Sérgio Sampaio, “Eu quero é botar meu bloco na rua”, ou mesmo a música “Calice” composição de Chico Buarque e
Gilberto Gil, além da lendária “Pra não
dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, e os que ficaram
impassíveis a esta luta e que por isso foram chamados de “adesistas”, mesmo sem
nenhuma relação direta com o governo dos militares.
Havia
portanto um mal-estar entre aqueles que não se posicionavam contra o governo,
que eram tidos como “alienados”, como alguns dos astros da Jovem Guarda. Na
esteira dessas ditas “injustiças” muitos artistas tiveram suas carreiras sacrificadas, como foi o caso de Wilson Simonal, que teve sua vida artística
literalmente arruinada.
Don,
um dos compositores da música ao lado de seu irmão Ravel, afirmou que a letra
só buscava exaltar as belezas naturais do Brasil e de seu povo e que visava
contrapor o sentimento nativista e nacional ao consumismo de coisas e modismos
norte-americanos. Apesar
do grande sucesso entre o público em geral, os irmãos não agradavam a esquerda
do país, de políticos a artistas.
Eustáquio e Eduardo Gomes de Farias, ou melhor, Dom e Ravel
chegaram em São Paulo ainda crianças, nos anos 50, vindos da pequena cidade de
Itaiçaba, no Ceará. Já no final da década seguinte, tentaram uma carreira no
disco e lançaram o LP Terra Boa, que trouxe o
primeiro grande sucesso deles, a música “Você
Também é Responsável”, que acabou
sendo usada dois anos depois como uma espécie de hino ao recém criado Mobral –
Movimento Brasileiro de Alfabetização – órgão criado no governo militar para
melhorar o nível de alfabetização no país que buscava ser uma nação
desenvolvida.
O fato, no entanto, não foi visto com bons olhos pela
comunidade artística, que acabou taxando os irmãos de puxas-saco do governo
militar, o que se agravava ainda mais com as novas composições da dupla, a
maioria enaltecendo o Brasil, coisa que agradava muito aos militares do
governo. São dessa fase os sucessos “Obrigado ao Homem do Campo”, “Só
o Amor Constrói”, e principalmente “Eu Te Amo, Meu Brasil”,
composta pela dupla e gravada pelo conjunto Os Incríveis.
Como se vê, ainda que o ufanismo brotasse das letras das músicas
de Dom e Ravel, suas composições nada tinham de intencional ou conluio com o
governo dos militares. Mesmo assim, a dupla sofreu das injúrias da elite
cultural e amargou o ostracismo a partir de então até o fim de suas vidas, restando
então, a errônea concepção de que suas composições são mensagens da ditadura
militar . Nada a ver.
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