Por Nonato Reis
O Guaraná Jesus, quem diria! Surgiu de uma tentativa de refrigerante à base de gengibre, amargo para danar. A história de sua criação remete a dois maranhenses, Jesus Noberto Gomes, o legítimo criador; e Sálvio Mendonça, uma espécie de conselheiro. Ambos nasceram praticamente na mesma época. Noberto, em Vitória do Mearim, em 1891; Sálvio, em Viana, em 1892. Norberto veio para São Luís aos 14 anos, à procura de emprego. Sálvio foi para a Bahia estudar Medicina.
O encontro dos dois se deu em São
Luís em 1925, quando Norberto já era dono de farmácia e Sálvio, médico
recém-formado. Dois anos depois surgia a fórmula que seria disputada por
grandes marcas de refrigerantes, e a partir dos anos 2000 se tornou patrimônio
da Coca-Cola. O Guaraná Jesus, de tal forma caiu no gosto dos maranhenses, que
em São Luís chegou a bater em vendagem a própria Coca-Cola, líder mundial desse
segmento.
1905. Ele desembarcou em São
Luís, na Rampa Campos Melo, aos 14 anos, “sem dinheiro no banco ou parentes
importantes”. Vinha do seu berço de origem, Vitória do Mearim, para, como se
diz no interior, “ganhar a vida”. Jesus Norberto Gomes era pobre, não tinha
nada, exceto a vontade de crescer e conquistar um lugar no mundo.
Queria trabalhar “em qualquer
coisa e ganhar qualquer dinheiro”, como escrevera Sálvio Mendonça em seu livro
“História de um menino pobre”. Sálvio, então médico recém-formado, quando
conheceu Jesus Norberto, este já era proprietário da Farmácia Sanitária, em
cujo laboratório gestaria a fórmula do famoso “Sonho Cor de Rosa”.
Seu primeiro emprego, espécie de
zelador e officie-boy, foi na Farmácia César Marques. Lavava vidros, empacotava
remédios e os entregava a domicílio. Inteligente, sagaz, com enorme tino
empreendedor, em pouco tempo Jesus Norberto aprendeu a manipular as receitas e
começou a se familiarizar com os processos de reações químicas em laboratório.
Aos 20 anos, deixou de ser
empregado e tornou-se dono do próprio negócio, com a aquisição da Farmácia
Galvão, na Rua Grande, que arrematou por três contos e 600 mil réis, dinheiro
que economizara durante os seis anos de trabalho duro na farmácia César
Marques.
A Farmácia Galvão estava
praticamente falida: não tinha estoque, capital de giro, nem freguês, o que
exigiu do novo dono suor e determinação.
Jesus Gomes trabalhava dia e
noite no preparo de medicamentos injetáveis, cujas encomendas entregava
pessoalmente a domicílio, independente de horário, de tempo bom ou ruim. Dor de
dente, desarranjo estomacal, cólicas intestinais, o mal que fosse, ele sempre
tinha um remédio para combatê-lo, que poderia ser iodo, gaiacol, elixir
paregórico, porção de Ravier.
Quando Sálvio conheceu Jesus Noberto e os dois se tornaram amigos, a Farmácia Sanitária já funcionava na Rua de Nazaré, em instalações bem melhores do que as da Rua Grande. Ali Sálvio, a convite de Noberto, montou consultório num pequeno espaço cedido pelo proprietário. Atendia casos de doenças venéreas e problemas gástricos.
Começava a expansão das
atividades de Noberto como empreendedor e sua farmácia assumiu ares de indústria
farmacêutica, produzindo medicamentos injetáveis em larga escala.
Norberto cresceu como empresário,
mas procurou manter um regime de cooperativismo com seus empregados, dando-lhes
o direito de participação nos lucros da empresa, o que fazia do empreendimento
algo compartilhado por todos. Em 1922, a Farmácia Sanitária já era estruturada
com sessões de farmácia, drogaria e laboratório.
Sálvio sugere a Noberto que
comece a fabricar águas gasosas e refrigerantes.
Em 1925, num galpão de fundo de
quintal, na rua Nina Rodrigues, dá-se início à fabricação de “guaraná,
cola-guaraná e gengibre”. "Seu Jesus", como era conhecido, havia
comprado uma máquina de gaseificação da Alemanha para fazer magnésia fluida, só
que ele não tinha autorização do Ministério da Saúde para preparar esse
produto, que já era fabricado pela Farmácia Granado, no Rio de Janeiro.
Então lançou-se na tentativa de
produzir um concorrente para o "ginger ale", refrigerante à base de
gengibre fabricado na Ingaterra e muito popular no Brasil, especialmente em São
Luís. Os primeiros produtos eram quase insípidos e amargavam pra chuchu.
Noberto aprimora a fórmula, corrige o sabor. Os filhos dele experimentam e
aprovam. Estava criado o embrião da bebida que faria história dentro e fora do
Estado.
O Guaraná Jesus é talvez hoje o
produto que mais se identifica com o Maranhão. No festival junino de anos
atrás, organizado para celebridades no Convento das Mercês, o refrigerante foi
a grande estrela do evento, dado de presente aos convidados como marca genuína
do Estado. Acabou viralizado nas redes sociais pelo sabor único e inigualável.
O que era reserva do Maranhão ganhou ares de preferência universal.
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