Por João Damasceno Júnior (*)
João Damasceno Júnior |
Escrevo este modesto artigo na intenção
de render homenagem à cidade de São João Batista pela passagem dos seus 61 anos
de emancipação político-administrativa. E o faço a partir de uma perspectiva de
pesquisador sobre a etnologia indígena e com o compromisso de contribuir
minimamente, em um determinado aspecto, com a história da nossa querida cidade.
Antes de receber o nome de batismo do
santo do carneirinho, o distrito de São João era conhecido pelo nome Ibipeaura, cujo toponômio é procedente
da língua tupi guarani que provavelmente seria grafada Ibiperewá (ibi = terra,
chão + perewá = ferida),
literalmente: terra ferida. Esse nome indígena nos remete a diversas reflexões
quanto às nossas origens advindas dos primeiros habitantes do Brasil. Fato que,
infelizmente, foi sendo apagado da nossa história e memória.
Essa ocultação e invisibilidade da
nossa origem indígena foi, na verdade, algo arquitetado e executado em todo o
Brasil, desde o período colonial, até o atual sistema republicano. Pois, para
afirmar-se enquanto nação, a matriz indígena não serviria como referência por
estar associada a algo “atrasado”, ao “não civilizado”, ideias estas baseadas
numa visão etnocêntrica e preconceituosa a respeito das culturas diferentes dos
colonizadores europeus.
Deixando, por enquanto, de lado esse
debate, voltemos ao significado do primeiro nome de nossa cidade, enquanto
ainda era um território pertencente ao município de São Vicente de Férrer (até
1958). Consultando diversos linguistas e dicionários, chego à conclusão que
esse nome tupi, Ibiperewá, tem a ver
com o fato de que no período da estiagem, os nossos campos se tornam áridos ao
ponto de surgirem rachaduras no solo, os torrões. Dando a impressão de
estarmos, literalmente, pisando em um chão ou uma terra ferida.
Muito embora esse nome não tenha
prosperado, conforme atesta o ilustre conterrâneo Luiz Figueiredo, em seu livro
São João Batista: suas lutas conquistas e
vitórias (2010), o nosso município possui uma forte influência cultural
indígena, aliás, como toda a região da baixada maranhense.
A presença dessa matriz étnica
manifesta-se nos hábitos cotidianos dos habitantes dessa região, tais como:
dormir em redes; conversar de cócoras; o banho frequente; a roça de coivara; a
cultura da mandioca; a crença em entidades sobrenaturais (currupira, curacanga,
mãe d’água); as diversas armadilhas e técnicas de pesca, somente para citar
algumas dessas influências. Sobre estas especificidades culturais do
baixadeiro, retomarei a abordagem em outro momento.
São João Batista possui ainda diversos
povoados que confirmam, através de seus nomes, a origem dessa matriz étnica e a
manutenção desses nomes deve servir de orgulho a todos nós. Pois, preservá-los,
significa não apagar da nossa memória a herança ancestral de povos que tanto
contribuíram e contribuem para a formação da cultura brasileira. Somente a
título de curiosidade e informação, pesquisei alguns nomes dessas comunidades e
seus significados:
Capim Açu - capim grande.
Coroatá - Um
tipo de planta.
Buraçanga
é uma palavra tupi guarani que significa: porrete, cacete, bengala.
Iguaratuba (Ilha
de) - local onde há abundância de
guará ou garças.
Jabutituba - local
onde há abundância de jabuti.
Jurupari – ser
pertencente à mitologia e cosmovisão indígena.
Janduaba - Nome
de uma espécie de arara.
Manival - Nome
comum da mandioca. Rama da mandioca ou parte da rama destinada ao plantio.
Pirapendiba – local
onde há abundância de peixes.
Quiriri - Silencioso;
calado.
Sarnambi - tipo
de molusco.
Tabaréu - morador da aldeia.
Tauá - Argila
amarela empregada para colorir a louça de barro.
Urucu - planta
que se faz um pó vermelho usado como corante.
Ubá – canoa
feita de um tronco de árvore.
Concluo informando que este breve
levantamento foi feito a partir de uma pesquisa bibliográfica. No entanto,
acredito que a pesquisa in loco, nas
conversas com moradores mais antigos, revelarão diferentes significados, cujo
exercício seria instigante para ser realizado por estudantes dessas
localidades.
*João Damasceno Figueiredo Jr. - Antropólogo, natural de São João Batista;
Graduado em Ciências Sociais (UFMA) e Mestre em Cartografia Social e Política
da Amazônia (UEMA); Coordenador do Setor de Etnologia do Centro de Pesquisa de
Arqueologia do Maranhão.
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