HOJE É DIA
DE...
MIRREGUE,
MAIOR QUE SALOMÃO
(*) Nonato Reis
Eu participava de uma operação
nacional do Projeto Rondon, em Mari, município nos arredores de João Pessoa, na
Paraíba. Como tinha função de supervisão, sobrava-me tempo para fazer o que
sempre gostei: conversar com os moradores, conhecer o seu quotidiano,
identificar os seus personagens. Certo dia um líder comunitário aproximou-se de
mim e comentou:
- Pena que você chegou tarde e
não conheceu o Mirregue.
Levei um susto.
- Mirregue!!?
Quis saber o que significava
aquilo. O cara sorriu e explicou.
- Mirregue foi um milagre da
espécie macho. Ganhou esse apelido ainda na infância. Baixinho e rechonchudo,
adorava fazer sexo com animais. Como não conseguia alcançar a altura ideal para
a cópula, pedia a ajuda de alguém, dizendo “mirregue!”, que significa me sobe,
me levanta.
Achei aquilo engraçado, e na
mesma hora me lembrei de Charles, um sujeito que morava em Viana e tinha
compulsão por sexo com animais. Dizem que Charles, na fase mais aguda, ali dos
15 para os 18 anos, dizimou a criação de galinhas de sua família e não dava
sossego aos fazendeiros da região. A ponto de Zé Aroucha, um criador de
ovelhas, tê-lo procurado de garrucha em punho, disposto a apertar o gatilho,
coisa que só não aconteceu pela intervenção da esposa dele, que se lançou entre
os dois aos prantos.
- Não faça isso, porque você mata
ele e acaba com a nossa vida.
Mas o assunto aqui é Mirregue, e
devo dizer que me interessei por saber mais sobre o mito. O cidadão contou-me
que o ímpeto sexual o fazia diferenciado.
“Dizem que nem Salomão foi páreo
para ele. Nunca passou uma noite sem sexo. Teve mais de 2.000 mulheres, e em
pelo menos metade delas deixou herdeiros. Quase formou uma cidade só com os
seus descendentes. O cara era um reprodutor incrível. Não havia nada igual”.
Ocorre
que o tempo passa para todos, e para ele passou rápido demais. Um dia, sem mais
nem menos, o pinto de Mirregue embicou e parou. Pediu aposentadoria. Para ele
foi como morrer. Entrou em depressão, deixou de comer, ficou transtornado.
Os
amigos o aconselharam a procurar um médico, não um médico qualquer, desses que
dão consulta toda semana em postos de saúde, porém um especialista do
ramo.
Com
muito sacrifício conseguiu a consulta e explicou o seu drama ao urologista que,
alguns exames depois e meses de espera, receitou-lhe umas pílulas branquinhas,
com a advertência de que não extrapolasse a dose, que devia ser apenas um
comprimido antes do ato sexual.
Mirregue,
ansioso para ver o companheiro de volta à arena, ignorou a recomendação do
médico e tomou logo cinco cápsulas de uma vez. O efeito foi devastador. Com o
pinto vivíssimo novamente, partiu para descontar o atraso.
Primeiro
pegou a esposa e com ela passou a noite inteira dedicado aos prazeres da carne.
No dia seguinte, morta de sono e alquebrada, e vendo o marido naquela danação,
arrumou as trouxas e abandonou a casa.
Mirregue
olhou em volta e se deparou com a cunhada, que assistia à cena estupefata. Sem
lhe dar tempo de reagir, deitou-a no chão de cimento duro e lançou-se sobre
ela. Já no final da tarde, igualmente exausta, a cunhada se desvencilhou das
garras de Mirregue e bateu em retirada.
Foi
até a cozinha e, arma em punho, esbarrou na empregada Tertulina, famosa pelos
atributos traseiros, que procurava algum condimento nos armários da pia.
Lá
pelas tantas da noite, Tertulina, suando em bicas e com as pernas bambas,
conseguiu escapar do massacre e correu para a rua, a gritar por socorro. Alguém
precisava fazer alguma coisa. Ou amarravam o patrão ou ele dizimaria a
população feminina da cidade.
Vendo
Mirregue com o dedo no gatilho, pronto para novas refregas, os vizinhos não
tiveram outra saída: enrolaram-no em um lençol e o levaram para João Pessoa,
onde passou por uma intervenção cirúrgica para desobstrução dos canais que irrigam
o pênis e sustentam a ereção.
Mirregue
livrou-se do priapismo, mas seu companheiro de jornada sexual vestiu o pijama,
sempre condenado à flacidez.
De
desgosto definhou e viu a morte surgir diante dele. No leito mórbido, às
pessoas que o tentavam reanimar, oferecendo-lhe alimento, ele respondia num
fiapo de voz: “eu quero é f...”. Depois, já sem voz, quando lhe perguntavam se
queria alguma coisa, quem sabe um chá ou uma colherzinha de leite, batia várias
vezes com a palma da mão direita na outra mão fechada, num gesto que simboliza
o ato sexual.
Já
perto do fim, pálido e sem forças, apenas tocava com a ponta do dedo indicador
de uma mão na entrada do círculo formado pela outra mão, em resposta sobre se
desejava alguma coisa. Até que os movimentos cessaram e o dedo saliente ficou
para sempre enterrado no vão da outra mão.
Após
sua morte, a casa em que morava virou tapera e palco de assombrações. Tarde da
noite, ao passar por ali, as pessoas diziam ver um vulto vestido em uma saia
branca a implorar por ajuda: “mirregue!!!”
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