quinta-feira, 14 de março de 2019

Hospício Bolsonaro


Por Jorge Oliveira (*)


Jorge Oliveira
Aposta-se aqui, na imensidão da costa do Mar Egeu, na Grécia, quem é o mais pirado desse governo: o capitão, fã do ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner, que tenta controlar seus súditos desmiolados, ou especificamente três figuras, acopladas ao poder, que vêm se apresentando ao país como toscas, exóticas, esquizofrênicas, bizarras e hilariantes: Damares, ministra dos Direitos Humanos, Vélez, o colombiano da educação, e o Ernesto, que cuida do Brasil lá fora. Desde que assumiram o poder, os três não param de fazer loucuras como estivessem no recreio em um pátio de hospício.
Agora, dois deles tentaram instituir a deduragem no país. Estimulam uma geração a desde cedo conviver com a delação, prática nociva e ainda tão viva do regime militar. Querem que os alunos se perfilem diante da bandeira nacional e cantem o hino nacional. Acreditam que isso vai educá-los melhor, melhorar o ensino e dar-lhes cidadanias na falta de melhores escolas, mais professores e mais investimentos na educação. Os que se negarem a cantar terão suas imagens enviadas para o Ministério da Educação, como se ali fosse o DIP, a polícia fascista do Getúlio controlada por Filinto Muller.

A punição à meninada antipatriota, comunista, rebelde e desafiadora ainda não foi estabelecida, mas pelo que parece Vélez deve consultar o seu guru Olavo de Carvalho, nos Estados Unidos, responsável por sua indicação, para estudar caso a caso enquanto a educação, no caos, pede socorro.

Vélez, o nosso educador, foi mais longe numa tentativa servil de bajular o capitão. Enviou uma carta, escrita por ele mesmo, isso mesmo, do próprio punho, para toda rede escolar para que os alunos, perfilados, gritassem, como faziam os adoradores do nazi-fascismo, o slogan de campanha do governo: “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. A proposta é tão esdrúxula, tão idiota que assustou até o vice-presidente, o general Hamilton Mourão. “É contra a legislação. Você não pode colocar uma mensagem que não é de propaganda governamental a algo que seja ligado à propaganda”, disse ele, condenando a iniciativa de Vélez. A reação em cadeia de todos os setores educacionais e da cúpula do governo, logo teve o efeito esperado. Vélez desistiu da ideia do slogan até mesmo porque fere a legislação. Dois dias depois do anúncio, desistiu também de filmar os alunos nas escolas, uma decisão sensata que só aconteceu por causa da repercussão negativa do seu ato. O engraçado é que os bolsonaristas estão muito inquietos. Em um dia louvam o governo por algumas atitudes que consideram corretas, no outro frustram-se com os pedidos de desculpas.

 Lá do outro lado do Atlântico, onde estava numa audiência da ONU, Damares, a ministra biruta, apoiou a ideia de Vélez. Disse tanta besteira, jogou tanta conversa fora para se solidarizar com o colega que, francamente, não gostaria de registrar nesse artigo para não deseducar os brasileiros. É coisa para divã. Mas, infelizmente, quem poderia ajuda-la, a psiquiatra Nise da Silveira, já morreu. Por certo, do seu túmulo mandaria também um recado para que o governo não volte com o eletrochoque nos hospitais, como já anunciou. “Se fizer isso, por favor, comece pelos seus ministros”, diria ela do além-túmulo.

Este governo deveria estar preocupado em resolver os problemas cruciais do país, em coisas mais relevantes do que os factoides dos seus ministros que atraem a atenção para um país folclórico, cheio de alegorias ensandecidas. A professora Eliane da Costa Bruini, colaboradora do site Brasil Escola, chama a atenção para os problemas educacionais do país. Segundo ela, “o Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados.

Mesmo com o programa social que incentivou a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12 anos, 731 mil ainda estão fora da escola (IBGE). O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009; 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler; 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita. Professores recebem menos que o piso salarial”.

Ora, eis aí um problema que Vélez deveria se preocupar em vez de perfilar alunos para cantar o Hino Nacional como se isso fosse resolver os problemas na educação. Chamar-se-ia isso de “desocupação educacional”. Trata-se de um cara vazio de propostas que tenta cobrir a sua ignorância sobre o país que optou para viver com sandices e bajulações extremas para agradar o chefe. É mais reacionário do que o próprio que o alojou lá dentro do Ministério da Educação.

Esses factoides parecem uma coisa orquestrada, pois tiram da mídia o foco das notícias desagradáveis contra o capitão e seus familiares. Inclusive aquelas que botam no colo do Flávio, o Zero Um, a milícia do Rio de Janeiro, que tinha Queiroz como seu principal artífice na extorsão dos salários dos servidores do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio

(*) Jornalista.

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