Por Renato Rovai
Jânio Quadros ganhou a eleição com uma vassourinha que seria usada para
varrer a bandalheira. Era um moralista sem moral que desafiou o sistema e
derrotou os grandes partidos da época.
Fernando Collor saiu de Alagoas para caçar os marajás e combater a
corrupção. Seu programa de governo, aliás, era muito parecido com o de
Bolsonaro. Privatizações, diminuição do Estado, fim da estabilidade do servidor
público, sanha moralista e criminalização dos movimentos sociais e sindical. Collor
também derrotou os grandes partidos e favoritos na primeira eleição
pós-democratização. Na primeira eleição pós fim de um regime militar motivado
pela renúncia de Jânio Quadros.
O fato é que ambos foram substituídos por seus vices em curto espaço de
tempo e derrotados pelo discurso que os levou ao poder. Os vices de Jânio e de
Collor eram muito melhores do que eles, João Goulart e Itamar Franco. O
primeiro acabou sofrendo um golpe militar. O segundo, de alguma maneira, uma
rasteira civil. Itamar apoiou FHC para a sua sucessão, mas este o traiu logo no
início do mandato implementando uma agenda neoliberal, que Itamar, convicto
nacionalista, era contrário.
O que impressiona neste momento é que Jair Bolsonaro, que se elegeu com
a mesma agenda e narrativas de Jânio e Collor, vive antes mesmo de sua posse um
desgaste tão grande que sequer terá a famosa lua de mel, que quando curta, dura
até a semana santa.
O bate-cabeças no PSL, partido do governo, as caneladas do general
Mourão no presidente e em seus filhos, a dificuldade em criar uma base para
eleger os presidentes da Câmara e do Senado e a nomeação de uma série de
ministros inexpressivos e caricatos, indicam que Bolsonaro começa seu mandato
já com cheiro de mofo. Em começo de mandato, governantes costumam ter paz e
capital político para se impor. Mas isso não está acontecendo com o futuro
presidente. Ao contrário, ele está completamente perdido e já começa a ser
visto como um estorvo a ser retirado do cargo.
A questão que vai se colocar em breve se o caso do "esquema
laranja" de Flávio Bolsonaro não vier a ser solucionado e se, por exemplo,
o assessor Queiroz vier a abrir a boca e dizer que a grana que depositou na
conta de Michelle não tem nada a ver com dívida com Bolsonaro, é que se
iniciará a fase "como se livrar do presidente". Porque o capital
financeiro e os agentes políticos não estarão dispostos a viver mais quatro
anos de crise político-econômica, que será ainda maior com a perseguição do
Estado, via Moro, a todos aqueles que incomodarem.
Quando isso acontecer, Mourão, que já está se mostrando bem assanhado
para o cargo, estará sambando em articulações para armar um impeachment rápido
e indolor contra o seu cabeça de chapa.
O Brasil parece estar prestes a mais uma interrupção de governo por
impeachment ou golpe. A forma como a Globo está cobrindo o caso do
"esquema laranja", as entrevistas de Mourão e o jeitão como estão se
movendo as raposas políticas mais astutas é que apontam para isso.
Bolsonaro, o jacaré banguela, pode estar prestes a se tornar bolsa.
Nunca antes da posse um governo em primeira eleição esteve tão desgastado.
Nunca antes na história deste país. Dilma e FHC viveram algo semelhante, mas
nas suas reeleições.
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