A São Luis de ontem |
Viver a pacata São Luís de
outrora sei que isto não é possível! Mas bem que poderíamos estar bem melhor
como uma capital que é ilha, e que tem a sua maior parte costeira bordada por
belíssimas extensões de praias. E mais.
Por ter sido no passado o berço de grandes poetas. A “Atenas Maranhense”.
Neste tempo, o da Atenas, com
jeito provinciano, e muito mais portuária do que rodoferroviária, a nossa São
Luís encantava o mundo com suas poesias. Daqui saíram, ou quando pouco, beberam
na fonte das verves literárias, muitos dos grandes escritores da Literatura
brasileira, desde os cultistas sermões de Pe. Antônio Vieira, no Barroco, às
versões latinistas de Odorico Mendes, passando pelos consolidados versos
indianistas de Gonçalves Dias e Sousândrade, no Romantismo, o Naturalismo de Artur
e Aluísio de Azevedo, passando por Coelho Neto, Humberto de Campos, Viriato
Correia, entre tantos outros, até nos dias atuais, onde a obra de um Zeca
Baleiro invade o Brasil de norte a sul, onde a poesia de um Nauro Machado soa bem pujante entre os
grandes poetas da atualidade e a prosa de Josué Montelo é pelo cultos
apreciada.
Mas há de se sentir saudade
sobretudo é daquela São Luís pacata, que como terra de poetas, oferecia a
noite para os boêmios, e as únicas confusões eram, no bom sentido, no campo
político, ou quando muito, quando um exagerado bêbado ousava desafiar as
meninas da ZBM.
Há de se sentir saudade de uma
São Luís que, ainda acanhada, tinha espaços nas ruas para os bondes, depois, os
primeiros ônibus, onde todos seus usuários eram trazidos e levados sempre
sentados, onde quase sempre, dava até pra se levar um bom dedo de prosa, fazer
novas amizades, etc. Mas se isto não era possível pela ausência de alguns
níqueis, era possível arriscar-se a voltar a pé pra casa, num fim de tarde
ameno, depois de um dia de trabalho, sem ser incomodado pelo malfeitores. Ia-se
e vinha-se numa sempre tranquilidade.
Há de se sentir saudades dos
nossos cinemas. Dos clubes sociais das altas e baixas classes. Dos cabarés
renomados. Das embarcações que chegavam e saiam da rampa Campos Melo, na Praia
Grande. Dos catraieiros, dos jipes-taxis, etc.
Aos domingos, a pelada na Ponta
d’Areia, a cerveja nos bares de lona (lembro-me do de Caboquinho), o caranguejo
toc-toc, sem o sabor amoníaco de hoje, nos dava a certeza de que vivíamos num
Havaí, no nosso Havaí. E como não éramos confundidos como turistas, os preços
não tinham o salgado dos tempos atuais.
Na linha do tempo de nossa São
Luís são muitas as boas memórias, os bons momentos vividos. O nosso futebol. Os
craques aqui mesmo produzidos. A nossa música. Os programas das rádios AM. As
paródias do Zé Pequeno. Os grandes Edis nas combativas legislaturas municipais.
As grandes escolas. Os grandes desfiles cívicos ao som da Banda da Escola
Técnica Federal.
São Luis de hoje |
Para alguém que tenha vivido
qualquer tempo desta linha, haverá de sentir saudades da São Luís de outrora.
Hoje não se é mais Atenas.
Somos “apenas” mais uma cidade do Estado a sofrer o desmando dos tempos
modernos. Somos apenas mais uma cidade a não se ter mais a tranquilidade de se
viver, mesmo que trancado em nossas casas, no aconchego de nossas famílias. Aliás,
o aconchego foi-se para as cucuias! Somos apenas mais uma cidade onde se vive o
inferno das ruas...
Somos apenas a cidade que não
educa, que não é respeitada e que ignora sua gente...
Uma cidade onde se mata, a cada
fim de semana, mais que em muitas outras capitais, como se quiséssemos chegar a
esse pódio.
É esta a São Luís de agora!
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