HOJE É DIA
DE...
ZEFA
E O CHÁ DE PENTELHOS
(*) Nonato Reis
Imagem ilustrativa |
Zefa Mata Virgem fez fama nas
terras do Ibacazinho e redondezas, não por ato de heroísmo ou qualquer coisa de
que se orgulhasse e muito menos aos donos da fazenda Caiçara, de cujos filhos
servira como ama de leite. Chegara na Palmela aos 13 anos, egressa do Juncal.
Ali conheceu o antigo proprietário do lugar, Antônio Feliciano de Mendonça, pai
de 14 filhos, entre os quais Mariano (Nhonhô), Macico, Sálvio, Deia, Bidi e
Áureo.
A fazenda Caiçara fazia fronteira
com a Palmela e Zefa interagia com seus moradores como se fossem a extensão de
sua própria família. Gostava da vida simples do mato, cheia de atrativos,
cercada de animais e plantas, na companhia daquela gente.
Acordava às 4 da manhã, para
ajudar na ordenha do leite, a ser vendido em Viana. O transporte do produto no
inverno era feito em canoas, e no verão, em boi cavalo e carro de bois, a
partir de um ponto de apoio com palhoça e curral, construído à beira do Igarapé
do Engenho. Zefa amarrava os animais a serem ordenhados e ao final da operação
era premiada com uma porção espumosa do leite mugido, que tomava junto com
Sálvio e seus irmãos menores.
Crescera naquele ambiente rústico
e de encantamento. Atingira a juventude e, como toda mulher nessa idade,
namorou e apaixonou-se. Perdeu a virgindade com um peão boiadeiro que cruzara a
Palmela de passagem, num acontecimento que marcou a vida do lugar, e muito mais
a de Zefa, que a partir de então ficaria conhecida com o acréscimo no nome de
"Mata Virgem".
É que nessa época de pouca
instrução e hábitos rudimentares a palavra “depilação” ainda não entrara no
vocabulário das localidades do interior e os pelos pubianos de Zefa cresciam
livremente e se entrelaçavam à semelhança de um cipoal que, praticamente,
impediam a penetração de qualquer invasor.
O peão, que levou uma parte de
culpa na história por falta de habilidade com a coisa, entrou errado na
intimidade de Zefa e se deu mal.
O órgão sexual ficou
completamente retalhado, como se cortado de gilete em todas as direções. A
situação saiu do controle dos dois porque o pênis infeccionou e ele precisou
ser levado às pressas para atendimento médico em Viana. A história correu mundo
e Zefa, para sempre, seria lembrada com a alcunha de “Mata Virgem”.
Ocorre que o tempo é o melhor remédio para toda e qualquer ferida. Um dia Ambrósio, vaqueiro criado na fazenda Caiçara junto com Zefa como se fora filho dos patrões, engraçou-se dela e, alheio aos apelos e advertências dos mais velhos, subiu ao altar com Zefa Mata Virgem.
Ocorre que o tempo é o melhor remédio para toda e qualquer ferida. Um dia Ambrósio, vaqueiro criado na fazenda Caiçara junto com Zefa como se fora filho dos patrões, engraçou-se dela e, alheio aos apelos e advertências dos mais velhos, subiu ao altar com Zefa Mata Virgem.
Foi uma festança danada, os donos
da fazenda patrocinaram tudo: mataram bois, contrataram violeiros, prepararam a
igreja que ficou uma beleza. Trouxeram até um sanfoneiro afamado das bandas de
Exu, no Estado de Pernambuco. Os “comes e bebes” duraram dois dias, ao cabo do
qual os noivos receberam de presente uma casinha nos fundos da fazenda,
construída especialmente para eles.
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O começo da vida conjugal foi um
mar de rosas, Zefa não tinha do que se queixar. O marido era habilidoso, sabia
como penetrar a selva protuberante, cobria-a de mimo e de sexo, que faziam em
sessões diárias, ao raiar da aurora e ao morrer do sol. Ocorre que passada a
euforia, o mar perdeu água e virou córrego. Cada vez mais envolvido na labuta
da fazenda, Ambrósio foi se distanciando do ambiente doméstico e dos afazeres
conjugais, até que perdeu o apetite pela coisa completamente.
Atônita e certa de que o parceiro “virara o miolo” por alguma sirigaita das
redondezas, Zefa Mata Virgem procurou Cristina, uma curandeira respeitada por
dar vida a um enfermo desenganado do “Velho Trancoso”, e contratou-lhe os
serviços.
Após tomar pé do problema, a curandeira recomendou-lhe preparar uma infusão de
pentelhos e mel de abelha e dar ao marido, porém com uma advertência. “Não pode
exagerar na dose. São apenas alguns pelos entrelaçados, cozidos e coados e uma
colher de mel". Zefa já abria a porta e ela completou. “Bastam dois
dedinhos e ele volta a brincar na selva”.
Eufórica, Zefa pegou uma tesoura
e devastou metade da cabeleira pélvica. Pôs a maçaroca numa panela com um copo
ao meio de mel e, por sua conta e risco, adicionou uma pimenta malagueta.
Depois de fervido fez o marido beber.
No dia seguinte Ambrósio era um
homem à beira da morte, de tanto vomitar por cima e por baixo. Aflita, Zefa
correu à casa da curandeira e a responsabilizou pela ocorrência. “Meu marido
está morrendo e a culpa é sua”.
Cristina quis saber como ela
preparara a beberagem. Ela explicou que caprichara na retirada dos pentelhos e
depois levantou a saia, sem calcinha, para comprovar o resultado da capina.
Estupefata com o cenário, Cristina levou a mão à boca. “Pela madrugada! Tu
mataste o teu homem! Eu te mandei retirar alguns pezinhos de vassoura. Não
mandei devastar o matagal!”.
(*) Nonato Reis é jornalista, poeta, cronista e romancista. É autor do romance "Lipe e Juliana". Lançará em breve o livro de crônicas "Fazenda Bacazinho".
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