HOJE É DIA
DE...
ROSA
FUDÊNCIO, A DEVORADORA
(*) Nonato Reis
Se havia uma palavra para definir
Rosa Fudêncio com exatidão essa seria “excesso”. A garota tinha uma
predisposição para ultrapassar os limites do permitido. Fosse à mesa de
refeições, ao contar uma estória, nas brincadeiras com os meninos ou no
confessionário com o padre – sempre exagerava na dose.
Comia que nem um jumento, falava
demais, e o que é pior: dizia o que não devia. Era alta, gorda, desengonçada.
Um dia subiu em um pé de cacau e
danou-se a comer os frutos da árvore com caroço e tudo. No dia seguinte, na
hora marcada do bota-fora, passou sufoco. A cólica era intensa e ela não
conseguia se ver livre do inferno que lhe consumia as entranhas.
Fez uma rápida inspeção no
traseiro e viu que havia uma espécie de assoalho de caroços a fechar a saída. O
jeito foi usar o dedo indicador como alavanca. E foi abrindo caminho até
liberar a passagem do principal, que se esparramou no chão de um jato só.
Foi ao confessionário da
igrejinha local e, sem rodeios, avisou ao padre. “Acho que pequei”. O padre
pediu que ela contasse o pecado. “O que minha filha andou fazendo de errado?”.
E ela, candidamente: “Padre, eu me masturbei na frente de um espelho e repeti
três vezes seguidas”.
Quase sem fôlego, o padre cortou
a história. Mandou que ela rezasse dez terços completos e avisou, o dedo em
riste: “Nunca mais ceda a esses impulsos, que são coisas do demônio”.
Os mais velhos diziam que Rosa
não era gente, tal as traquinagens e maquinações que ela engendrava. Um primo
mais novo, de apenas 10 anos, dormia o sono da tarde numa rede de fio de seda,
armada na varanda da casa, um velho costume das populações ribeirinhas da
Baixada Maranhense.
Rosa tirou o calção do menino,
sem que ele despertasse, amassou algumas pimentas malagueta até formar uma
pasta e passou-a no brecoval da criança que, aos berros, correu até o rio e ali
ficou de molho até se ver livre do ardume. O reto, porém, de tão inchado não
conseguia expelir as fezes e ele teve que passar alguns dias internado no
hospital da cidade, para curar a inflamação.
Nem a avó, que ela venerava como
mãe, conseguiu escapar do seu veneno. Certa vez, aproveitando a ausência da
velha, que fora visitar um parente, Rosa entrou na casa vazia, foi até a
cozinha, pegou o bule de café, ainda quentinho, bebeu o seu conteúdo e depois
urinou dentro.
Não satisfeita, mijou a varanda
de ponta a ponta, pegou um pedaço de carvão e escreveu no assoalho: “fui eu!”.
Ao se deparar com a presepada, a velha não teve dúvida da sua autoria e deu-lhe
uma surra com talo de tamarindo, que deixou a bunda da neta em carne viva.
De tanto fazer malvadezas, a
própria Rosa beberia o gosto amargo dos seus excessos. Foi muito tempo depois,
quando já morava em São Luís e contraiu núpcias. Na noite do casamento, Rosa e
o marido danaram-se a fazer sexo.
Passaram a noite, entraram pelo
dia, anoiteceu de novo, amanheceu e os dois em plena atividade. O marido, já só
a pele e os nervos, pedia clemência, mas Rosa, ensandecida no cio, não dava
trégua.
Foi tanto sexo que a genitália
dela inchou até dobrar os grandes lábios. Quando se deu conta, não conseguia
mais sequer urinar e foi preciso recorrer a um serviço de urgência, apesar da
resistência dela em se expor daquela forma.
O médico, antes de examiná-la,
achou graça do seu sobrenome e quis saber a origem, ao que Rosa, incomodada,
tratou de encurtar conversa.
- Eu não sei doutor, deve ser
coisa dos meus antepassados, mas não foi para falar das minhas origens que vim
aqui.
Ao ver o sexo de Rosa, inchado
feito uma cuia emborcada, o médico levou um susto.
- O que foi isso, dona Rosa?
- O que foi isso, dona Rosa?
Rosa, que era tímida, deu-lhe uma
resposta inviezada.
- Doutor, se o senhor não sabe,
eu é que vou saber?
- Mas a senhora não tem nem ideia
do que possa ter causado isso?
Rosa tentou dissimular...
- Acho que foi algum inseto, uma
formiga, quem sabe?
E o médico, entre formal e
risonho:
- Formiga nada, dona Rosa. Isso
foi excesso de fudência.
...
Crônica escrita em 2017, para um segundo livro ambientado no Ibacazinho, ainda sem data para publicação
Crônica escrita em 2017, para um segundo livro ambientado no Ibacazinho, ainda sem data para publicação
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