HOJE É DIA
DE...
MIRREGUE,
O PEGADOR!
(*) Nonato Reis
Nonato Reis |
Eu
participava de uma operação nacional do Projeto Rondon em Mari, um município
nos arredores de João Pessoa, na Paraíba. Como a minha função era de
supervisão, sobrava-me tempo para conversar com os moradores, conhecer o seu
quotidiano, identificar seus personagens. Certo dia um líder comunitário
aproximou-se de mim e comentou: pena que você chegou tarde e não conheceu o
“Mirregue”.
Levei um
susto. “Mirregue?” “O que significa isso?” O cara sorriu e explicou. “Mirregue
foi um milagre da espécie macho, o maior pegador que conheci. Ganhou esse
apelido ainda na infância. Baixinho e rechonchudo, adorava fazer sexo com
animais, de preferência vacas e jumentas".
Como não
conseguia alcançar a altura ideal para a cópula, pedia a ajuda de alguém,
dizendo 'mirregue'!, que significa 'me sobe, me levanta'.
Eu caí na
risada e quis saber mais sobre o mito. O líder contou-me que a compulsão por
sexo o fazia diferenciado. “Dizem que nem Salomão foi páreo para ele. Nunca
passou uma noite sem sexo. Teve mais de 2.000 mulheres, e em pelo menos metade
delas deixou herdeiros. Quase formou uma cidade só com os seus descendentes. O
cara era um reprodutor contumaz. Não havia nada igual”.
Ocorre que
o tempo passa para todos, e para ele passou rápido demais. Um dia, sem mais nem
menos, o pinto de Mirregue embicou e parou de funcionar. Para ele foi como
morrer. Entrou em depressão, deixou de comer, ficou transtornado. Os amigos o
aconselharam a procurar um médico, não um médico qualquer, desses que dão
consulta toda semana em postos de saúde, porém um especialista do ramo.
Com muito
sacrifício conseguiu a consulta e explicou o seu drama ao urologista que,
alguns exames depois e meses de espera, receitou-lhe umas pílulas branquinhas,
com a recomendação de que não extrapolasse a dose, que devia ser apenas um
comprimido antes do ato sexual.
Mirregue,
ansioso para ver o companheiro de volta ao batente, ignorou a recomendação do
médico e tomou logo cinco cápsulas de uma vez. O efeito foi avassalador. Com o
pinto vivíssimo novamente, partiu para descontar o atraso. Pegou a esposa e com
ela passou a noite inteira dedicado aos prazeres da carne. No dia seguinte,
morta de sono e alquebrada, e vendo o marido naquela danação louca, arrumou as
trouxas e abandonou a casa.
Ele olhou
em volta e se deparou com a cunhada, que assistia à cena estupefata. Sem tempo
a perder, deitou-a no chão de cimento duro e lançou-se sobre ela. Já no final
da tarde, igualmente exausta, a cunhada se desvencilhou das garras de Mirregue
e bateu em retirada.
Foi até a
cozinha e esbarrou na empregada Tertulina, famosa pelos atributos traseiros,
que procurava algum condimento nos armários da pia. Lá pelas tantas da noite,
Tertulina, suando em bicas e com as pernas bambas, conseguiu escapar do
massacre e correu para a rua, a gritar por socorro. Alguém precisava fazer
alguma coisa. Ou amarravam o patrão ou ele colocaria a população feminina da
cidade em polvorosa.
Vendo
Mirregue de arma em punho, pronto para novas refregas, os vizinhos não tiveram
outra saída: enrolaram-no em um lençol e o levaram para João Pessoa, onde
passou por uma intervenção cirúrgica para desobstrução dos canais que irrigam o
pênis e sustentam a ereção. Mirregue livrou-se do priapismo, mas seu
companheiro de jornada sexual aposentou-se, para sempre condenado à flacidez.
De
desgosto definhou e viu a morte surgir diante dele. No leito mórbido, às
pessoas que o tentavam reanimar, oferecendo-lhe alimento, ele respondia num
fiapo de voz: “eu quero é f...”. Depois, já sem voz, quando lhe perguntavam se
queria alguma coisa, quem sabe um chá ou uma colherzinha de leite, batia várias
vezes com a palma da mão direita na outra mão fechada, num gesto que simboliza
o ato sexual.
Já perto
do fim, pálido e sem forças, apenas encostava a ponta do dedo indicador de uma
mão na entrada do círculo formado pela outra mão, como quem toca cuíca, em
resposta sobre se desejava alguma coisa.
Até que os
movimentos cessaram e o dedo saliente ficou para sempre enterrado no vão da
outra mão. Após sua morte, a casa em que morava virou tapera e palco de
assombrações. Tarde da noite, ao passar por ali, as pessoas diziam ver um vulto
vestido em uma saia branca a implorar por ajuda: “mirregue!!!”
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