quarta-feira, 31 de agosto de 2016

À propósito do impeachment de Dilma Roussef

Por Lucenilton Martins Popito (*)

Lucenilton Martins
Finalmente o desfecho de uma farsa chamada Impeachment. Quem quiser ou puder, que leia a postagem até o fim e não apenas o cabeçalho para não tirar conclusões precipitadas e não julgar equivocadamente meu posicionamento.

Em 2014 eu votaria em Eduardo Campos para presidente se não tivesse falecido tragicamente. Votei em branco. No segundo turno votaria em Marina se ela tivesse disputado. Votaria neles não por achar que seriam os redentores da nação, mas por um misto de falta de opção com alternância de dirigentes no país, embora tivesse certeza que nenhum os fosse.

Sobrou-nos a temida escolha do "menos pior". Acabei optando por Dilma, não por ela, mas pelo que vivenciei em minha adolescência e juventude quando o projeto que Aécio representa quase entregou o país à colonização Norte Americana nos anos 90. Quando a Dilma venceu novamente não foi nada que me fizesse comemorar pois o maior erro do PT foi as temerosas alianças que fizera com caquéticas oligarquias que só permitiram a governabilidade do PT enquanto Lula conseguiu funcionar como uma espécie de conciliador de classes. Ou seja, enquanto no seu governo, pobres melhoraram sua condição humana e ricos conseguiam ganhar ou pelo menos não perder muito e isso é muito difícil num país de histórica deficiência na distribuição de renda. Depois da crise foi " farinha pouca meu pirão primeiro" lá em Brasília. 

Esses dois projetos políticos PT/ PSDB polarizaram as disputas eleitorais no Brasil por 20 anos. É muita coisa! Nós brasileiros temos uma péssima cultura de escolher mal nossos representantes e cobrar errado e até injustamente quando os políticos não correspondem aos interesses da população. A carga sempre pesa no Poder Executivo que toma as principais decisões. Mas esquecemos que muitas coisas dependem das discussões no Legislativo e aí que ocorre muitas vezes, com raríssimas exceções, o pacto da mediocridade política com negociatas e chantagens nocivas aos interesses populares. E quando interesses de poderosos são contrariados sempre sobra para o lado mais fraco, o do povo!

A crise política atual não ocorreu somente por culpa de uma duas ou meia dúzia de pessoas. Foi o contexto geral tendo como pano de fundo o fato de um desses projetos políticos não suportarem mais estarem fora do comando do país.

Sempre me posicionei contra a farsa do Impeachment por vários motivos, sendo os principais: A falta de embasamento jurídico; a incompetência moral dos julgadores; a parcialidade das instituições que contribuíram para a obtenção desse pseudo resultado do afastamento definitivo da presidenta Dilma eleita pela vontade popular mesmo com pouquíssima diferença; a seletividade na indignação popular e a sórdida contribuição dos meios de comunicação que tomaram as dores e trataram de preparar o território para esse GOLPE de estado!

A pressa para acabar com esse processo tem uma explicação lógica: EDUARDO CUNHA! Traduzindo: Ou os golpistas deixam o caminho livre com o Impeachment e deixem Cunha cair no esquecimento OU todo mundo viveria o maior inferno astral de suas vidas nas mãos de Cunha se fosse cassado! Quase todos os ministros de Temer caíram por corrupção ou foram indiciados em menos de um mês de governo ilegítimo.

Deixo bem claro que não se trata de defender a Dilma ou Lula ou PT até por que não tenho político de estimação. Me preocupo com as graves consequências e perigosos precedentes jurídicos que só servirão para por em risco a democracia. Eu por exemplo, como advogado poderei no futuro pedir a quebra de sigilo de investigação se for para beneficiar meu cliente, como fez o parcial juiz Moro no diálogo entre Lula e Dilma e irei sempre citar esse precedente mesmo sendo ilegal. 

Multidões foram às ruas entendendo estar conscientes do que estavam fazendo pediam a deposição de uma presidente e prisão de um ex presidente meramente como vingança, algo abominável no mundo jurídico. Fizeram adesivos de Dilma com pernas abertas no tanque de combustível. Fizeram bonecos presidiários de Lula e Dilma, tudo graças à democracia que eles lutaram a favor. Mas o curioso é que quanto mais próximo ficou esse desfecho, mais as multidões iam conhecendo os "juízes" do Impeachment e menos gente ia às ruas não sei se por vergonha ou perplexidade.

As figuras que julgaram Dilma, possuem doutorado em corrupção inclusive todos figurando na outra farsa chamada lava jato! Em menos de três meses de governo fajuta fomos "presenteados" com extinção de direitos trabalhistas, previdenciários, extinção da universalidade da saúde pública e do SAMU, fim do ensino superior gratuito para pós graduação, aumento proposital de gêneros alimentícios de largo consumo como o feijão causado pela bancada do agro negócio em detrimento do pequeno produtor; porteira livre para políticos corruptos com a revogação da Lei da Ficha Limpa que é parte do acordo entre golpistas e o judiciário. Ah e por falar em judiciário, vamos lembrar do incrível milagre de concessão de reajuste no vencimento dos ministros do STF em plena crise e rombo nas costas so país. Interessante não?

Se a Dilma tivesse vencido o golpe eu não estaria comemorando nem o mínimo possível e sim cobrando de forma geral, serviço desse congresso parasita que nos últimos dois anos tem apenas discutido interesses particulares e poder pelo poder com pautas bombas que só fizeram o país sofrer.

E a vergonha de quem apoiou tudo isso é visível pois não estão nas ruas hoje comemorando o que tanto queriam, demonstrando até certa ingratidão com os padrinhos do tão sonhado Impeachment: Temer, Eduardo Cunha, Cassio Cunha Lima, Aécio, Romero Jucá, Serra, Alckmim, Pauderney Avelino, Gilmar Mendes, Anastasia, Janaina. É só fazer a busca pelos passados de cada um e veremos quem irá dar as cartas em nossa "Nova" República.

Aí alguém pode dizer "cuidado com essa opinião, Popito, vc pode perder votos por que 70% do Brasil queria o Impeachment".

Não tenho esse medo, pois política não é lugar para covardes e hipócritas (embora isso prevaleça). Antes de ser político sou um cidadão comum com direito à democrática exposição de convicção. Além disso a História e o tempo irão se encarregar de me absolver. 

(*) Lucenilton Martins Popito é advogado com atuação na cidade de São Bento. É candidato a vereador naquela cidade.

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