Por Luiz Figueiredo
A Baixada Ocidental Maranhense é uma
das regiões mais próximas da capital e uma das mais belas do Estado,
constituída por 21 municípios, com potencial hídrico extraordinário, onde
reside uma a biodiversidade muito diversificada, comparável somente ao Pantanal
Mato-grossense. A sua importância econômica sempre foi destacada ao longo
dos séculos XlX e XX prosseguindo pelo século atual, sempre foi considerada o
celeiro da capital São Luís para onde eram encaminhados e comercializados os
principais produtos da região, tais como as carnes bovinas, suínas e caprinas,
caças, aves, frutas e cereais, tudo de primeira qualidade, transportados em
barcos à velas e pequenas lanchas, através dos Portos de Alcântara, São Bento,
Raposa, Cajapió, Bacurituba, Gabarras, Guimarães, Cururupu e outros.
A Baixada Maranhense sofreu um
terrível processo de degradação agravado pelo descaso de sucessivos governos
estaduais e municipais que não deram a real importância para esse quadro de
abandono e sofrimento do nosso povo. A situação tem se agravado a cada ano com
a perda incalculável do volume de água doce drenada para o mar, pelo aumento do
número de canais e igarapés cada vez mais profundos, fazendo com
que rapidamente os campos verdejantes, transformem-se em áreas secas e
improdutivas. Em 1986 quando ocupava a presidência da República o
maranhense José Sarney, lideranças da Baixada juntamente com deputados
federais, estaduais, prefeitos e vereadores, por mais de uma vez, reivindicaram
do presidente uma solução para a contenção das águas dos campos naturais, fonte
de riqueza, renda e alimentação para aquela população carente.
Conhecedor da nossa realidade,
pinheirense que é, e sensível aos apelos das lideranças, determinou que fosse
feito um estudo seguido de projeto executivo, encargo que ficou sobre a
responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DENOCS.
Projetos prontos e aprovados logo foi dada ordem de serviço, tendo início pela
construção da Barragem de Pericumã, obra majestosa e importante, cuja
inauguração ocorreu com muita festa, e com a presença do Presidente José
Sarney, prefeitos da região, deputados e muita participação popular. Lamentavelmente
ficou por aí, e aquela importante realização que tantos benefícios poderia
estar trazendo até hoje foi abandonada pelo poder público, deteriorando-se pela
ação do tempo sem qualquer manutenção.
De lá até hoje foram-se quase trinta
anos, e a situação da Baixada se agravando a cada período de estiagem,
desertificando os campos, diminuindo o pescado e prejudicando os criadores e
pescadores e porque não dizer todo o povo da região. Passaram-se todos
esses anos e nenhuma voz mais se ouviu em defesa das barragens da Baixada. Eu
que acompanhei toda essa luta desde Brasília até a inauguração no município de
Pinheiro, e com conhecimento de causa, pois fui prefeito de São João Batista e
enfrentei esse grave problema construindo pequenas barragens de contenção para
barrar a água salgada e não deixar drenar a água dos campos junto com uma
incalculável quantidade de peixes que descem para o mar, tudo com muita
dificuldade pois essas barragens eram feitas pelo braço do bravo trabalhador, o
homem forte da nossa região.
Diante do exposto, resolvi em 2005
tomar a iniciativa de levar técnicos do governo para verificar ‘in loco’, a
extensão da crise. Visitamos as localidades Carnaubal, Beira da Baixa e Coroatá
todas no município de São João Batista. Ficamos estarrecidos com aquelas cenas
que presenciamos; total falta d’agua, região árida, sem vegetação, animais
magros caminhando sem destino entre o junco e o capim secos, homens e mulheres
carregando latas d’agua na cabeça e em lombo de animais. Documentamos com
fotografias e retornamos para São Luís, onde dias depois realizamos a primeira
reunião, eu, Reginaldo Telles, Léo Costa, Manoel Bordalo e técnicos da
Secretaria de Agricultura. Foi primeiro passo para uma série de outras
providências; envolvemos no debate os Secretários da Agricultura, Indústria e
Comércio, Projetos Especiais e conseguimos o apoio de Neiva Moreira,
intransigente defensor da nossa ideia. Com a formação desse grupo destacamos o
empenho e o interesse de Luiz Raimundo Azevedo e Júlio Noronha e assim foi
possível convencer o governador sobre a importância do projeto.
Com a mudança de governo o projeto
foi mais uma vez reformulado e ampliado com a inclusão de mais municípios,
passando por novas avaliações sobre impactos ambientais, e outras, enfim uma
série de medidas a meu ver desnecessárias pois só contribuíram para protelar a
execução do que será um dos maiores empreendimentos de contenção de água doce e
preservação do meio ambiente e de uma biodiversidade só comparável ao pantanal
de Mato Grosso e Guaquil no Equador, região com as mesmas características da
Baixada, extensão muito aproximada, e paradoxalmente uma das mais desenvolvidas
daquele país.
A Companhia de Desenvolvimento do
Vale do Parnaíba -CODEVASP está coordenando e acompanhando o andamento do
projeto, já totalmente concluído e em fase de licitação, dependendo apenas de
uma decisão de governo para início dos trabalhos, mas pelo que observamos não
será este ano que o governo do Estado dará sinal verde, ficando a Baixada
mais uma vez a mercê da sensibilidade de seus governantes. Finalizando afirmo a
recuperação da Baixada é prioridade, a água torna-se cada vez mais escassa no
planeta e não podemos permitir que esse magnífico potencial hídrico da Baixada
continue se perdendo a cada ano.
Luiz Figueiredo,
empresário e diretor-presidente da Rádio Beira Campo e da Fundação Chiquitinho
Figueiredo e ex-prefeito de São João Batista
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