quarta-feira, 12 de agosto de 2015

OS DIQUES DA BAIXADA: ATÉ QUANDO?

Por Luiz Figueiredo


A Baixada Ocidental Maranhense é uma das regiões mais próximas da capital e uma das mais belas do Estado, constituída por 21 municípios, com potencial hídrico extraordinário, onde reside uma a biodiversidade muito diversificada, comparável somente ao Pantanal Mato-grossense. A sua importância econômica sempre foi destacada ao longo dos séculos XlX e XX prosseguindo pelo século atual, sempre foi considerada o celeiro da capital São Luís para onde eram encaminhados e comercializados os principais produtos da região, tais como as carnes bovinas, suínas e caprinas, caças, aves, frutas e cereais, tudo de primeira qualidade, transportados em barcos à velas e pequenas lanchas, através dos Portos de Alcântara, São Bento, Raposa, Cajapió, Bacurituba, Gabarras, Guimarães, Cururupu e outros.
A Baixada Maranhense sofreu um terrível processo de degradação agravado pelo descaso de sucessivos governos estaduais e municipais que não deram a real importância para esse quadro de abandono e sofrimento do nosso povo. A situação tem se agravado a cada ano com a perda incalculável do volume de água doce drenada para o mar, pelo aumento do número de canais e igarapés cada vez mais profundos, fazendo com que rapidamente os campos verdejantes, transformem-se em áreas secas e improdutivas. Em 1986 quando ocupava a presidência da República o maranhense José Sarney, lideranças da Baixada juntamente com deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores, por mais de uma vez, reivindicaram do presidente uma solução para a contenção das águas dos campos naturais, fonte de riqueza, renda e alimentação para aquela população carente.
Conhecedor da nossa realidade, pinheirense que é, e sensível aos apelos das lideranças, determinou que fosse feito um estudo seguido de projeto executivo, encargo que ficou sobre a responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DENOCS. Projetos prontos e aprovados logo foi dada ordem de serviço, tendo início pela construção da Barragem de Pericumã, obra majestosa e importante, cuja inauguração ocorreu com muita festa, e com a presença do Presidente José Sarney, prefeitos da região, deputados e muita participação popular. Lamentavelmente ficou por aí, e aquela importante realização que tantos benefícios poderia estar trazendo até hoje foi abandonada pelo poder público, deteriorando-se pela ação do tempo sem qualquer manutenção.
De lá até hoje foram-se quase trinta anos, e a situação da Baixada se agravando a cada período de estiagem, desertificando os campos, diminuindo o pescado e prejudicando os criadores e pescadores e porque não dizer todo o povo da região. Passaram-se todos esses anos e nenhuma voz mais se ouviu em defesa das barragens da Baixada. Eu que acompanhei toda essa luta desde Brasília até a inauguração no município de Pinheiro, e com conhecimento de causa, pois fui prefeito de São João Batista e enfrentei esse grave problema construindo pequenas barragens de contenção para barrar a água salgada e não deixar drenar a água dos campos junto com uma incalculável quantidade de peixes que descem para o mar, tudo com muita dificuldade pois essas barragens eram feitas pelo braço do bravo trabalhador, o homem forte da nossa região.
Diante do exposto, resolvi em 2005 tomar a iniciativa de levar técnicos do governo para verificar ‘in loco’, a extensão da crise. Visitamos as localidades Carnaubal, Beira da Baixa e Coroatá todas no município de São João Batista. Ficamos estarrecidos com aquelas cenas que presenciamos; total falta d’agua, região árida, sem vegetação, animais magros caminhando sem destino entre o junco e o capim secos, homens e mulheres carregando latas d’agua na cabeça e em lombo de animais. Documentamos com fotografias e retornamos para São Luís, onde dias depois realizamos a primeira reunião, eu, Reginaldo Telles, Léo Costa, Manoel Bordalo e técnicos da Secretaria de Agricultura. Foi primeiro passo para uma série de outras providências; envolvemos no debate os Secretários da Agricultura, Indústria e Comércio, Projetos Especiais e conseguimos o apoio de Neiva Moreira, intransigente defensor da nossa ideia. Com a formação desse grupo destacamos o empenho e o interesse de Luiz Raimundo Azevedo e Júlio Noronha e assim foi possível convencer o governador sobre a importância do projeto.
Com a mudança de governo o projeto foi mais uma vez reformulado e ampliado com a inclusão de mais municípios, passando por novas avaliações sobre impactos ambientais, e outras, enfim uma série de medidas a meu ver desnecessárias pois só contribuíram para protelar a execução do que será um dos maiores empreendimentos de contenção de água doce e preservação do meio ambiente e de uma biodiversidade só comparável ao pantanal de Mato Grosso e Guaquil no Equador, região com as mesmas características da Baixada, extensão muito aproximada, e paradoxalmente uma das mais desenvolvidas daquele país.
A Companhia de Desenvolvimento do Vale do Parnaíba -CODEVASP está coordenando e acompanhando o andamento do projeto, já totalmente concluído e em fase de licitação, dependendo apenas de uma decisão de governo para início dos trabalhos, mas pelo que observamos não será este ano que o governo do Estado dará sinal verde, ficando a Baixada mais uma vez a mercê da sensibilidade de seus governantes. Finalizando afirmo a recuperação da Baixada é prioridade, a água torna-se cada vez mais escassa no planeta e não podemos permitir que esse magnífico potencial hídrico da Baixada continue se perdendo a cada ano.
Luiz Figueiredo, empresário e diretor-presidente da Rádio Beira Campo e da Fundação Chiquitinho Figueiredo e ex-prefeito de São João Batista


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