segunda-feira, 12 de maio de 2014

Os meninos de Bacuri...

Ouve-se muito dizer por aí que a vida é cruel. É..., pode ser! Mas tem quem seja mais cruel que a vida. O homem que a possui. A vida é dádiva divina e não cabe aos homens interromper seu curso natural.

Nascemos todos para a vida. E procuramos vivê-la nos mais belos e vãos momentos. Sonhamos com futuros brilhantes na inocência pacífica de meninos. Queremos muitas vezes ser aquilo que é bem distante de nossas cruéis realidades, ainda mais aqui, nos lugares que, embora sendo, não parece que seja nosso. Mas e daí...? Sonhar não custa nada.

Como diz os versos de uma antiga canção “todo menino é um rei...”. E constroem em seus reinados de fantasia o sonho da felicidade eterna. Os meninos de Bacuri, um município como tantos deste grande Maranhão, também sonharam certamente sonhos de uma felicidade eterna. Cumpriam suas obrigações como filhos e como estudantes. Com certeza, pensavam um dia, mesmo driblando as dificuldades que a vida lhes impunha, que os seus futuros seriam promissores. Só sonharam. Pois não viveram o bastante. Havia no meio da estrada uma pedra, aliás, muitas pedras. Havia e há no meio dos sonhos destes meninos de Bacuri, e muitos outros municípios, homens muitas vezes insensíveis que não se veem responsáveis pela felicidade dos outros. O pequeno príncipe já nos ensina que “nos tornamos responsáveis por tudo aquilo que cativamos”.

A tragédia que se abateu sobre os estudantes do município de Bacuri parece algo anunciado por este Brasil afora. A realidade de lá, parece com a daqui e de acolá..., pois muitos haverão de assim dizer. O transporte de estudantes, ou não, em caçambas e carrocerias de caminhões, em paus-de-arara, sem a menor segurança, é quase uma constante em terras maranhenses, pra não irmos muito longe. (E não me digam as autoridades que não sabiam ou não sabem desta realidade!) Tudo isto porque não dispomos de uma política de governo nos municípios que estabeleça a educação como fator prioritário, e mais, esta situação piora quando não temos gestores públicos comprometidos e responsáveis com o bem estar da população de seus municípios.
É lamentável sobre todos os aspectos que gestores municipais cruzem os braços diante das demandas urgentes que borbulham em suas administrações. A educação precisa deixar de ser palavra eloquentemente propalada em discursos vazios, numa retórica declaradamente mentirosa, e passar a ser política responsável de todos, sem exceção.

Devem sentir vergonha todos os administradores que de alguma forma contribuem para alguma mazela na educação de seus municípios. Desde a falta do mais simples material didático, como lápis, caderno, borracha, o giz, passando pela ausência da merenda escolar, ao atendimento de um transporte escolar inadequado (como neste caso de Bacuri), à falta de professores, salários indignos ou na contratação meramente política dos agentes (professores e supervisores) da educação.

São igualmente idiotas todos os gestores que perdem a oportunidade de se tornarem notáveis em seus municípios. Perdem a credibilidade de seus munícipes, ao atrasarem salários, em descumprirem o que fora prometido, em não governarem ou governarem de forma desastrada e se encarapuçarem do manto da empáfia gestora. São tanto quanto imbecis os gestores que perdem a chance de entrarem para a boa história de seu povo, ao fazerem governos sérios, voltados ao bem estar da coletividade, ao invés de entrarem para a mais negra história, associados na maioria das vezes a atos ímprobos e à corrupção. Como se vê, Bacuri é só mais um entre muitos...

Transporte Escolar na maioria dos municípios maranhenses
Uma cultura mais humanística se faz por demais necessária aos nossos gestores municipais. O respeito e a humildade devem ser práticas recorrentes nas administrações de qualquer ente federado. Hoje mais do que nunca, os nossos gestores devem atentar para o que dizem os versos da canção “Tocando em frente”: “Cada um compõe a sua história/ e cada ser em si carrega o dom de ser capaz/ de ser feliz”. Em nossos municípios de alguma forma a história está sendo escrita. Pena que, às vezes, é escrita com letras manchadas de dor, lágrimas e decepções.

Espera-se que outros jovens sonhadores não sejam necessários sucumbirem à crueldade dos maus gestores, para que os ditos “homens da lei” possam levantar de suas cadeiras e verem o quanto de errado há em nossos municípios, seja na saúde, na segurança, como na educação. Espera-se igualmente que a sociedade seja mais criteriosa e organizada no momento de suas escolhas e decisões.


Que no mais, Deus esteja conosco, com os que morrem, com os que vivem e sobrevivem todos os dias à sanha destes homens maus.

(Artigo publicado no Jornal Pequeno deste domingo-  Edição de 11 de maio de 2014)

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