Estamos às vésperas de
mais uma copa do mundo. A primeira do século 21 a ser disputada aqui no Brasil.
Nossa última copa fora em 1950 e já se vão 64 anos. Eram tempos remotos. Nesse tempo, o Brasil tinha
apenas 52 milhões de habitantes, dos quais metade era analfabeta, segundo o
IBGE, e a Fifa tinha apenas 34 países inscritos – desses somente 13 jogariam a
Copa. O Brasil contava com poucos estádios
de futebol, mesmo já sendo este uma paixão nacional. A preocupação também era
pertinente à época, com as condições das nossas praças esportivas.
Ainda que se tivesse o empenho do presidente Eurico
Gaspar Dutra nenhum estádio ficou pronto no tempo estabelecido pela FIFA, que
diga-se de passagem, estabelecia como única exigência o “padrão fifa” somente aos
estádios de futebol. Mas o Brasil precisava demonstrar que era um país em
franca expansão. E a copa aconteceu, com um desfecho que até então parecia
improvável. O Brasil emudeceu diante de uma derrota para a seleção do Uruguai.
Agora, estamos diante de mais um dilema. Temos que
realizar a copa do mundo, e ao que parece as coisas não estão nos eixos. Muita
coisa ainda precisa ser feita para atender as exigências da FIFA no que
concerne a estádios, aeroportos, transportes, segurança, telecomunicações,
mobilidade urbana, enfim, a uma estrutura que atenda à grandeza do evento. Os
gastos extrapolaram a nossa inocente ideia. Os números são imprecisos, mas o
meio esportivo e econômico fazem a conta de que cerca de que 28 bilhões de
reais serão gastos até o fim da copa. Será a mais cara copa do mundo já
realizada.
Diante de tal fato não é de se admirar que o povo
brasileiro, ainda que goste de futebol, tenha ido recentemente às ruas reclamar
por mais recursos para uma educação de qualidade, saúde de qualidade, melhoria
nos transportes públicos e por mais segurança. Afinal é muito dinheiro que está
sendo empregado para uma festa que poucos serão convidados ou estarão
presentes. Já imaginaram quanto poderia se fazer pela educação e pela saúde
deste país com tantos bilhões? Se ganharmos a copa do mundo, certamente
cairemos na festa. Gritaremos a nossa supremacia no futebol mundial. Ainda que
os nossos problemas crônicos permaneçam, mesmo assim estaremos jubilosos pela
conquista de mais um caneco. Seremos hexacampeão do futebol mundial. Mas e se
perdermos?
Certamente o Brasil será outro. É possível que o
gigante acorde novamente, e que o povo cobre do próprio governo a conta que
lhes será imputada. De qualquer forma a copa do mundo servirá entre outras
coisas para expor as nossas mazelas ao mundo. A corrupção já anunciada nos
superfaturamentos dos estádios será o nosso maior “souvenir”, e haveremos de
mostrar ao mundo, com certeza, o nosso “jeitinho brasileiro”.
Que Deus esteja conosco!
(Artigo publicado no Jornal Pequeno, edição de 16/Fevereiro/2014).
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