O
idioma brasileiro há muito sofre com a invasão de estrangeirismos no seu
léxico. Até aqui tudo bem. Faz parte. Afinal sempre houve anglicismos,
galicismos e palavras de outras origens na constituição do léxico português.
Entretanto, com o advento da globalização, faz-se necessária no mundo moderno,
o domínio de certas palavras e expressões básicas, sobretudo em língua inglesa.
E isto permeia o nosso dia a dia.
Um bom
exemplo, com o qual nos deparamos, é quando se vai a um caixa eletrônico. Lá se
lê: “Take your card” (Insira seu cartão). Nas manhãs de domingo, na fórmula 1,
a “pole position” é palavra de ordem. E por aí vai. Muitos destes vocábulos até
já têm formas aportuguesadas, como é o caso de “xou”, “xerife”, “que quase não
se apercebe sua origem estrangeira em “show” e “sheriff”. Em outros casos
prefere-se as próprias grafias e pronúncias estrangeiras, como é o caso de “site”
e “jeans”. Outras são aportuguesadas por força do falar popular. É o caso de
“xau” – o nosso “tchau”, advindo do italiano “ciao”. Estes incrementos
linguísticos, se não enriquecem, mas deixam diferente o nosso idioma.
Mas a ameaça
ao nosso ver, está na linguagem cifrada usada pela maioria das pessoas que se
utilizam das redes sociais, ou ainda, na exagerada parassíntese utilizada pelos
facebookanos. Chega a ser até incompreensível à primeira leitura. Mas há lógica
linguística. O que dizer de “armaria”? “Êmarrebão”?
“Diabeisso”? Puro facebooquês! Na verdade as expressões em português vernáculo
nada mais são do que as exclamativas: “Ave Maria!”, “Êta mas é bom!” e “Que
diabo é isso!?”. Estas pérolas caracterizam
o neoportuguês falado pela grande massa jovem adeptas dos fecebooks da vida,
dos sms, dos msn, etc.
Mas são
os falantes, sobretudo os jovens, os protagonistas desta epopeia. Sem o cuidado
devido, os desatentos terminam por misturar a norma culta com a norma popular.
O escrito e o oral viram uma coisa só, para se atender à natureza veloz da
comunicação dos tempos atuais. E é bem aqui que mora o perigo. Nas muitas
redações exigidas em testes oficiais, concursos públicos, ou simples
composições escolares, observa-se a grafia destas ditas novas palavras como se
fossem a norma exigível e usual.
Se
conjecturarmos que a educação em nosso país não vai lá essas coisas, e que o
ensino da língua-mãe tem indicadores de competências e habilidades baixíssimos,
poderemos estar num estágio avançado de modificação do idioma português falado
no Brasil. E é aqui a nossa ameaça idiomática.
O fato
não é novo. Foi assim com o Latim. De tanto vulgarizar-se (entenda-se aqui
popularizar-se), perdeu sua consistência e nos contatos com tantos outros
falares transformou-se nas diversas línguas neolatinas conhecidas hoje.
Segundo o linguista suíço Ferdinand de
Saussure, considerado o pai da linguística moderna, a língua possui duas
características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade.
Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo
pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção
social, e mudá-la exigiria o consenso social.
Sabe-se entretanto que são muitas as
mudanças linguísticas que interferem em um idioma, como o tempo histórico, o
espaço geofísico, a diferença das classes sociais e a variedade dos universos
de discurso e ambientes sociais, ligados às diferentes práticas profissionais,
religiosas, recreativas, culturais, etc. que condicionam variadas formas de
expressão do pensamento e se caracterizam por diferentes estilos de escolha
vocabular. Mas, independentemente destas marcas sociais no trato linguístico, o
modismo exagerado é o que mais violenta a inculta e bela – a última flor do
lácio.
É como diria o parnasiano Olavo Bilac:
a língua portuguesa é a um só tempo esplendor e sepultura.
(Artigo publico no Jornal Pequeno. Edição de 03.11.2013)
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