sábado, 1 de setembro de 2012

Procura-se Ninguém


Miosótis Lúcio
Miosótis Lúcio

Distantes na lembrança e no tempo vão aqueles dias em que o conheci. Já nem sei contar se eram tristes ou alegres; vagamente recordo sua presença forte, sentida. Noutras, escondia-se, a me confortar com seu esquecimento.
Desconfio que esteja sempre por perto. Como naquela fase em que findou uma paixão intensa, voraz como fogo em capim que sofre estiagem. Ainda sentia em meu corpo o calor das labaredas, com suas línguas de fogo a consumir urgente todo o meu ser. E, como tudo que é urgente finda com a rapidez de sua fome, ligeiro se esgotou.

“Na primeira manhã que te perdi, acordei mais cansado que sozinho”... Repetia a música de Alceu Valença, escolhida para embalar minhas lembranças. Veio o tempo destinado à calmaria, ao refazimento.

Mas eu falava dele. Daquele que retornou quando eu havia feito um pacto comigo mesma de que “paixão nunca mais”. Bem ao estilo “gato escaldado tem medo de água fria”; dedicava meu tempo a viver o dia a dia, com sua rotina tão combatida e tão segura, que me protegia dos sobressaltos próprios de quem se lança ao novo.

Dias, meses se passaram. A rotina segura começou a ter som de porta rangendo, reclamando cuidados. Porta fechada com trincos de dor, que, num pequeno descuido deixou entrever a luz. Claridade que elucida, mostra verdades bonitas e não.

E, nesta fresta de luz pude vê-lo inteiro, em sua força e graça; vibrante, em encanto e promessas. Nele reconheci aquele que me garantiram um dia chegaria majestoso e que me amaria fiel e ardentemente, com quem seria feliz eternamente. Num momento de viva alegria, eu clamei seu nome: Ninguém! Naquele instante tive a certeza que se cumpria a promessa. A verdade bradava em meu coração: “Ninguém me ama! Ninguém me quer! Ninguém me chama de meu amor”!

Assustado com minha intensa paixão, meu mais puro objeto de amor sumiu, escafedeu-se.
Alimentada pela esperança de reencontrá-lo, hoje gasto meus dias a procurar Ninguém!
Ei, você viu Ninguém?

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