sábado, 23 de janeiro de 2021

AS VELAS DO RIO PINDARÉ

 Por Expedito Moraes (*)



Na minha infância passava horas e horas espiando a subida dos barcos no rio Pindaré.

Surgiam de repente no estirão, quase que na preamar, e o rio se transformava em uma imensa passarela com espetaculares desfiles de barcos. Não sei de onde apareciam tantos. Vinham em bando, um atrás do outro, deslizando silenciosamente com seus panos (velas) de lona triangulares em cores diversas: azul, encarnada, amarela, branca, verde, marrom; com seus cascos bem crenados e pintados com tintas de tons fortes; com nomes escritos com letras bem desenhadas de santos, de estrelas, de mulheres, de peixes, de amores... era um colorido fantástico.

Estes barcos, não motorizados, dependiam das forças da natureza ou das mãos humanas. Hora empurrados pela força das marés (pororocas) que invertiam a corrente do rio e, dependendo das fases da lua cheia ou nova, a velocidade da correnteza rio a cima era muito maior e permanecia durante quase 3 horas elevando a lâmina d'agua até o cimo da barreira, principalmente entre os meses de setembro a dezembro. Nesses dias, entre às 11 e 12 horas da noite ou do dia, quando a pororoca vinha ouvíamos o ronco da “bicha” à distância. Era um "Deus nos acuda". Vinha "lambendo barreira" com mais de cinco metros de altura.

Outras horas eram empurrados rio a cima pelo vento que, quando forte, estufava seus panos e imprimia maior velocidade. E, dependendo do sentido que sopravam, em cada estirão singravam as águas em reta ou bolinando, movimento que consiste ir de uma margem a outra aproveitando a força do vento e que exige do governante uma destreza enorme de lidar com o leme e a mudança do pano de um lado para outro no momento da manobra, que não sendo sincronizados pode causar sérios acidentes, inclusive o naufrágio ou encalhamento da embarcação.

Na falta do vento os barqueiros o chamavam com assobios agudos. E quando este não vinha o jeito era usar a força dos braços vogando ou empurrando à vara. As varas de mais ou menos 7 metros eram usadas pelos barqueiros com o barco abeirando as margens até uma profundidade máxima da metade da vara, de modo que a ponta ficasse à altura do peito e apoiada na mão em concha sobre o tórax empurravam o barco rio acima e contra a correnteza.

Esses tipos de embarcações eram lentos e subiam o rio carregados de sal grosso, querosene, pedras de amolar e outras mercadorias. Passavam dias e dias viajando entre a "Cidade" - expressão ribeirinha interiorana para se referir a SÃO LUÍS -  e o Pindaré. Por onde passavam vendiam suas cargas. Comprávamos o sal em latas de querosene, depois socávamos no pilão pra salgar peixes, carnes, que depois pendurávamos na ponta de um caibro do lado de fora da casa para escorrer a salmoura.

Saudades disso. Não existe mais.

(*) Expedito Moraes é natural de Cajari. É administrador e ex-Deputado Estadual.

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