Os irmãos Rui, Jorge e Damasceno Figueiredo |
Soube ainda há pouco, ao abrir
minha rede social Facebook do falecimento de um grande amigo do meu pai, e por
extensão também meu amigo. Refiro-me a Rui Gonçalves Figueiredo. Já era um
senhor idoso. Vivera 84 anos. Natural de São João Batista, Rui, que segundo
informações sofria do Mal de Alzheimer, faleceu na cidade de Parauapebas,
Estado Pará.
O fato em si me comoveu, mas o
que me chamou a atenção, além das muitas condolências manifestadas por muitos
dos que o conheceram e por ele tinham alguma afinidade, ainda que a de simples
conterrâneo, foi a foto postada por um dos seus sobrinhos. Na imagem ali
estavam os três filhos de seu Artur Marques Figueiredo. Todos já falecidos: Rui,
Jorge e Damasceno.
Fiquei a pensar como é de fato
a vida. E como ela é de maneira frágil. Um dia estamos aqui, em outro dia não.
Me fez reafirmar o que já passei a cultivar há um certo tempo: o tempo de hoje.
Valorizar, respeitar e amar os verdadeiros amigos. Irmanar-se cada vez mais com
aqueles que são o sangue do nosso sangue. Entendo cada vez mais que a vida é um
permanente tecer de sentimentos bons, afinal, como diria o poeta, cada um
compõe a sua história. Fazer o bem é mágica para se ter o bem.
Em pose de irmãos que se
amavam, se respeitavam e se davam muito bem, os três aparecem abraçados.
Comovente, sem dúvida. O registro se nos traz lembrança, aos familiares traz
muito mais, pois era um tempo de vida e aqui eles estavam. Hoje não estão mais.
Trouxeram consigo a marca familiar dos Gonçalves Figueiredo, ao lado de mais
duas irmãs, Zinaura e Naura Gonçalves Figueiredo, ainda vivas.
João Damasceno o mais novo dos
três foi o primeiro a se ir. Faleceu em 2004, vitimado por um câncer de
próstata. Era um boêmio. Poeta nas horas
vagas. Convivi com ele alguns momentos de poesia. Vi-o recitar muitos dos seus
poemas, infelizmente dispersos e levados consigo. De boa instrução, Damasceno
sempre exercia funções cidadãs na nossa cidade. Foi funcionário público
estadual. Serviu por muitos anos como vigilante do Colégio Acrísio Figueiredo. Sempre
foi afeito ao trabalho, seja como lavrador, pois sempre tinha sua roça, seja
como proprietário de olarias. Porém era com a função de açougueiro que mais se
identificava. Era um exímio magarefe. Trabalhou por muitos anos nos mercados de
nossa cidade.
Jorge Figueiredo tem destaque
sobretudo na vida política de nossa cidade. E assim já tem seu nome na história
joanina. Reservo em especial outros escritos sobre a vida e a obra política
deste que foi de simples chofer de caminhão a ser uma das grandes lideranças
políticas de sua terra. Um ano após a morte do seu irmão mais moço, o coração do
ex-coletor estadual, ex-vereador e ex-prefeito não resistiu. Jorge faleceu em
2005. Era um homem por quem eu tinha um profundo respeito, cujo sentimento ele
me retribuía com grande admiração.
Rui, o mais velho, foi-se hoje.
Foi pra mim, o mais hábil dos velhos cortadores de carne do antigo mercado
municipal, que ficava onde hoje é a praça de eventos. Foi lá que o conheci, nas
minhas primeiras responsabilidades de rapazinho, quando ainda de madrugada era
preciso estar no mercado. Naquela época de pouco provimento, era preciso ser
astuto, pois o mercado era um lugar também de barulho. Era preciso gritar alto
para se fazer ouvido. Talvez por isso o velho Rui fora aos poucos perdendo a
audição. Tinha que se falar alto para que ele nos ouvisse. E nem se zangava
quando a gente o chamava de “surdo”. Foi também funcionário público estadual. Era
vigia. Foi lotado por muitos anos até se aposentar no Colégio Acrísio
Figueiredo. Sempre que nos
encontrávamos, ele perguntava pelo meu pai, e fazia questão de dizer que eram
amigos. E isso, como se fosse uma missão, me fazia mais amigo dele.
Hoje os três filhos-homens de
seu Artur não estão mais aqui, mas a fotografia agora se repete, só que em outro
plano, o dos céus. O de Deus. Se aqui no plano dos homens, pairam as dores, as
lembranças, as lágrimas, no plano celestial, os irmãos se reencontram. E
certamente abrirão sorrisos ao se abraçarem, afinal, a vida segue, e a morte
é só passagem. E o céu é um lugar de plena felicidade.
Aos familiares o nosso profundo
pesar.
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