terça-feira, 6 de junho de 2017

Rui, Jorge e Damasceno: Os irmãos Figueiredo juntos novamente.

Os irmãos Rui, Jorge e Damasceno Figueiredo
Soube ainda há pouco, ao abrir minha rede social Facebook do falecimento de um grande amigo do meu pai, e por extensão também meu amigo. Refiro-me a Rui Gonçalves Figueiredo. Já era um senhor idoso. Vivera 84 anos. Natural de São João Batista, Rui, que segundo informações sofria do Mal de Alzheimer, faleceu na cidade de Parauapebas, Estado Pará.

O fato em si me comoveu, mas o que me chamou a atenção, além das muitas condolências manifestadas por muitos dos que o conheceram e por ele tinham alguma afinidade, ainda que a de simples conterrâneo, foi a foto postada por um dos seus sobrinhos. Na imagem ali estavam os três filhos de seu Artur Marques Figueiredo. Todos já falecidos: Rui, Jorge e Damasceno.

Fiquei a pensar como é de fato a vida. E como ela é de maneira frágil. Um dia estamos aqui, em outro dia não. Me fez reafirmar o que já passei a cultivar há um certo tempo: o tempo de hoje. Valorizar, respeitar e amar os verdadeiros amigos. Irmanar-se cada vez mais com aqueles que são o sangue do nosso sangue. Entendo cada vez mais que a vida é um permanente tecer de sentimentos bons, afinal, como diria o poeta, cada um compõe a sua história. Fazer o bem é mágica para se ter o bem.

Em pose de irmãos que se amavam, se respeitavam e se davam muito bem, os três aparecem abraçados. Comovente, sem dúvida. O registro se nos traz lembrança, aos familiares traz muito mais, pois era um tempo de vida e aqui eles estavam. Hoje não estão mais. Trouxeram consigo a marca familiar dos Gonçalves Figueiredo, ao lado de mais duas irmãs, Zinaura e Naura Gonçalves Figueiredo, ainda vivas.

João Damasceno o mais novo dos três foi o primeiro a se ir. Faleceu em 2004, vitimado por um câncer de próstata.  Era um boêmio. Poeta nas horas vagas. Convivi com ele alguns momentos de poesia. Vi-o recitar muitos dos seus poemas, infelizmente dispersos e levados consigo. De boa instrução, Damasceno sempre exercia funções cidadãs na nossa cidade. Foi funcionário público estadual. Serviu por muitos anos como vigilante do Colégio Acrísio Figueiredo. Sempre foi afeito ao trabalho, seja como lavrador, pois sempre tinha sua roça, seja como proprietário de olarias. Porém era com a função de açougueiro que mais se identificava. Era um exímio magarefe. Trabalhou por muitos anos nos mercados de nossa cidade.

Jorge Figueiredo tem destaque sobretudo na vida política de nossa cidade. E assim já tem seu nome na história joanina. Reservo em especial outros escritos sobre a vida e a obra política deste que foi de simples chofer de caminhão a ser uma das grandes lideranças políticas de sua terra. Um ano após a morte do seu irmão mais moço, o coração do ex-coletor estadual, ex-vereador e ex-prefeito não resistiu. Jorge faleceu em 2005. Era um homem por quem eu tinha um profundo respeito, cujo sentimento ele me retribuía com grande admiração.

Rui, o mais velho, foi-se hoje. Foi pra mim, o mais hábil dos velhos cortadores de carne do antigo mercado municipal, que ficava onde hoje é a praça de eventos. Foi lá que o conheci, nas minhas primeiras responsabilidades de rapazinho, quando ainda de madrugada era preciso estar no mercado. Naquela época de pouco provimento, era preciso ser astuto, pois o mercado era um lugar também de barulho. Era preciso gritar alto para se fazer ouvido. Talvez por isso o velho Rui fora aos poucos perdendo a audição. Tinha que se falar alto para que ele nos ouvisse. E nem se zangava quando a gente o chamava de “surdo”.   Foi também funcionário público estadual. Era vigia. Foi lotado por muitos anos até se aposentar no Colégio Acrísio Figueiredo.  Sempre que nos encontrávamos, ele perguntava pelo meu pai, e fazia questão de dizer que eram amigos. E isso, como se fosse uma missão, me fazia mais amigo dele.

Hoje os três filhos-homens de seu Artur não estão mais aqui, mas a fotografia agora se repete, só que em outro plano, o dos céus. O de Deus. Se aqui no plano dos homens, pairam as dores, as lembranças, as lágrimas, no plano celestial, os irmãos se reencontram. E certamente abrirão sorrisos ao se abraçarem, afinal, a vida segue, e a morte é só passagem. E o céu é um lugar de plena felicidade.

Aos familiares o nosso profundo pesar.



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