sábado, 20 de março de 2021

Considerações sobre a nossa Educação

Por Marcondes Ribeiro Serra

É necessário lembrar, a priori, que nosso Brasil é um dos maiores países do planeta, o quinto em área territorial e o sexto em população - grandezas que realçam a profunda diversidade vivida pelos brasileiros, em muitas expressões. A educação tem sido um grande problema, consequência direta da desigualdade social onde uma minoria é favorecida e a maior parte, prejudicada, que se arrasta sob o peso das soluções paliativas mantidas por gestões fraudulentas, incompetentes e desumanas.

Em 2020, nos últimos dias de fevereiro, quando o surto pandêmico repentinamente nos atingiu, sentimo-nos sem condições de iniciar o ano letivo, previsto para a primeira quinzena de março, situação diferente de algumas localidades e algumas instituições educacionais, que suspenderam as atividades e puderam montar um esquema funcional obediente às orientações preventivas, retomando o processo educacional de forma remota – o que lhes dá créditos para a discussão do significado e operacionalidade do ensino conectado.

Fazemos parte do grupo que atendeu precariamente a necessária mudança. Um quantitativo ínfimo de nossos alunos participou das escassas atividades impressas propostas, visto que a falta de recursos tecnológicos por parte de muitos alunos e o conhecimento adequado das ferramentas, por parte de muitos professores, influenciaram na condução das aulas conectadas. Faz-se mister colocar que já tinham atendimento escolar muito inferior ao desejado. Com o surto do Covid-19, o resultado para nosso alunado foi desastroso. Essa situação conduz-nos à obviedade de que precisamos de um Plano de Trabalho para 2021 que implique em atenuação dos efeitos pandêmicos, minimize as perdas resultantes do ano passado não trabalhado, diferentemente daqueles que fizeram alguma coisa. Temos a distinta obrigação de empregar todo esforço possível no disciplinamento da prestação do trabalho professoral, acompanhar a funcionalidade de nossas escolas, adapta-las estruturalmente, para ofertarmos a melhor educação - a maior ferramenta para a formação do cidadão.


Enquanto durar a pandemia, não poderemos ter aulas presenciais nos moldes de antes. Se a opção for o processo híbrido, precisaremos ter todos os cuidados na aplicação dos protocolos preventivos, isto todos sabem, como também são conscientes que a forma de ensino à distância contrasta com a presencial, porque ocorrem dúvidas no processo comunicativo propensas à não identificação do professor e consequente prejuízo no aprendizado. Presencialmente, o docente tem muito mais possibilidades de perceber quando não há entendimento do assunto exposto e condições de promover explicações e exemplificações que esclareçam as dúvidas constatadas, engrandecendo mais facilmente o aprendizado. É de grande conveniência a observação quanto a ausência de recursos suficientes por parte das escolas e de muitos responsáveis dos alunos para implementação das estratégias de educação a distância e isto implica em exclusão, situação que desconfigura a aplicação democrática do direito à educação.

Poderíamos aproveitar a situação imposta pela necessidade de mudar a forma de condução do processo educacional e extinguirmos as classes multisseriadas. Muitas escolas de nossa rede ainda trabalham com esse sistema - uma forma organizacional de ensino na qual o(s) professor(es) trabalha(m), na mesma sala de aula, com várias séries do Ensino Fundamental ao mesmo tempo, atendendo alunos com idades e níveis de conhecimento diferentes. Ainda é adotado no Brasil em significativo número de localidades e total de alunos, mas não é exclusividade brasileira. Países como o Canadá e alguns europeus adotam o sistema, para permitir que a população de áreas rurais tenha acesso à Educação, fundados em explicações como dificuldade de acesso, baixa densidade demográfica de algumas regiões e o consequente pequeno número de alunos, que inviabilizam a criação de turmas voltadas ao atendimento de séries ou anos específicos.

 Julgo a necessidade de manutenção do sistema como um problema que emperra o progresso da educação nacional, especialmente a joanina, porque o aprendizado é bem mais lento, muito conturbado, quase inexistente. Os desafios enfrentados são grandes, sobremaneira a prática docente, onde o professor precisa “se virar no turno” para dar conta de vários níveis de aprendizagem, aplicar as atividades de cada ano, resultando em muitas ações para um espaço de tempo que se torna exíguo. Classes diferentes ocupam o mesmo espaço, a mesma sala de aula, algumas vezes com professores diferentes. Enquanto um fala, o outro cala! Mas a situação típica do processo é como a nossa, em que o mesmo professor tem a responsabilidade de trabalhar com todas as séries – o que resulta em menos aproveitamento dos conteúdos.


Seria até aceitável a composição de uma classe com alunos de duas séries, no máximo. Mas a manutenção do sistema, com três ou mais séries, é improdutivo e absurdo. Temos classes multisseriadas com crianças da Educação Infantil e outras dos primeiros anos do Ensino Fundamental. Um verdadeiro despautério!

Em ambas as situações, há inconveniências e dependências de maior preparo e esforço dos professores. É muito difícil trabalhar em uma sala extremamente heterogênea contemplando todos os alunos, independentemente do nível de conhecimento de cada um. É difícil estabelecer uma divisão do tempo didático eficazmente. Enquanto uma parte da turma, constituída por alunos de determinada série está recebendo explicações ou desenvolvendo uma tarefa, os alunos de outra série estão desocupados e mesmo que tenham uma atividade para desenvolver, ficam desconcentrados, pela interatividade que o professor tenta exercitar com a série que trabalha naquele momento. A concentração fica limitada e o processo além de ser lento, acaba sendo prejudicado, pois não há como desenvolver um assunto sem interrupções. Como professor, afirmo que não é fácil para as crianças se concentrarem em uma tarefa com a professora explicando matérias diferentes aos colegas.

A maioria dos professores tem dificuldades de realizar atendimento individual aos estudantes e planejar as aulas de várias séries e diferentes níveis do Ensino Fundamental para uma mesma turma. A falta de material didático e bibliotecas no ambiente rural também é um entrave rotineiro na realidade das classes multisseriadas. O resultado é exatamente aquele que vem se perpetuando e crescendo ao longo de cada ano letivo: déficit de aprendizado.

Os professores do Ensino Médio são testemunhas do quão desprovidos de conhecimentos fundamentais são os jovens egressos das escolas públicas, que chegam a este nível mais avançado, tanto aqueles que provém do seriado, quanto do multisseriado, mesmo quando compõem classes de número reduzido de alunos. Normalmente, as classes do Ensino Médio têm número elevado de alunos e essa realidade quantitativa dificulta o trabalho nesta etapa, acarretando no insucesso da Educação Básica, o que leva os poucos interessados e os possuidores de melhores condições financeiras a implementarem seus estudos, com vistas ao ingresso no Ensino Superior em aulas particulares e dedicadas horas de estudo.


Com convicta certeza, o aprendizado poderia ser melhor se erradicássemos o sistema de classes unificadas em um só espaço. Se cada turma ocupasse uma sala de aula, seria bom para o professor e para o aluno, bom para a EDUCAÇÃO.

O sistema multisseriado interfere no processo de aprendizado de forma prejudicial. Onde for possível a instalação do seriado, que seja feita. É de bom alvitre o reconhecimento de que é melhor que nada, mas deve ser mantido somente onde lamentavelmente funcionalidade do seriado seja difícil, no entanto, com a implantação de programas e projetos de letramento, melhor capacitação dos professores que atuem nessas classes e reforço com professor de apoio, como alternativa de melhorar seus resultados.

Aproveitemos as necessárias mudanças no processo educacional e erradiquemos nossos problemas cruciais, a fim de evoluirmos. Mudar é para gente inteligente, desprendida e aberta ao racional empreendedorismo, afinal, os bons resultados sempre promovem a felicidade de todos!