Por Nilo Dias
Djalma Campos foi um dos maiores
jogadores surgidos no futebol maranhense, em todas as épocas. Nasceu na cidade
de Viana e ainda pequeno mudou-se com a família para o bairro do Desterro, no
centro histórico de São Luiz. Com apenas 12 anos de idade já mostrava muita
intimidade com a bola. Deu seus primeiros chutes no campo frente à igreja do
Desterro, junto de outros garotos que se destacaram no futebol do Maranhão,
como Santana, João Bala, Jovenilo e Fifi. Jogou depois no São Cristóvão, no
Santos e Botafogo do Anil, do “seu Chuva” e no segundo quadro do Esporte Clube
Desterro, que era dirigido por seu pai, Djalma Gomes Campos.
A habilidade que mostrou nos campos
de futebol foi adquirida nas quadras de futebol de salão. Desde garoto, com 16
anos já se sobressaia no Atenas, time do bairro do Desterro. Quando o Sampaio
montou sua equipe juvenil, ele foi convidado a fazer parte dela. Era a época de
times como Vitex, Elmo, Flamengo (Monte Castelo), Real Madri e ainda o Drible.
Em 1968, quando já era jogador profissional
foi convidado a jogar a Copa do Brasil de Futsal pelo Drible, tendo sido
inscrito com o nome do seu irmão Delmar. Como o time não se preparou
adequadamente não venceu nenhum jogo, mas ainda assim Djalma foi considerado o
melhor jogador da competição. Ele era incomparável com a bola nos pés, não dava
chutes à toa e costumava desmoralizar os goleiros com colocadas geniais. Apesar
de ter marcado inúmeros gols, sua maior preocupação era armar as jogadas para
outros artilheiros.
A primeira oportunidade que Djalma
teve para jogar em um dos “grandes” do futebol maranhense foi através do
goleiro Campos, que o levou para o Maranhão Atlético Clube (MAC), junto com os
amigos João Bala, Santana, Fifi e Jovenilo. Mas não deram sorte, o técnico
Calazans nem se dignou a assisti-los jogando. E o quinteto foi parar no Graça
Aranha F.C., e por lá permaneceu por um bom tempo.
Anos depois, Calazans teve a
humildade de reconhecer que errou ao barrar Djalma no início de sua carreira
como jogador. Mas depois conviveu com ele no Sampaio, por isso dizia que o
jogador nasceu numa época e no lugar errado: “Se Djalma Campos tivesse jogado
num grande centro, com certeza teria sido o dono da camisa 7 da seleção
brasileira”.
Em 1968 Djalma já era já era o
destaque do time do Graça Aranha, chamando a atenção do desportista Guido
Bettega que comprou seu passe e o deu de presente ao Moto Clube. Por jogar no
adversário do Sampaio Corrêa, a família inteira de Djalma virou-lhe as costas.
Naquele mesmo ano o Moto foi campeão estadual e campeão do Norte. O time
formava com Vila Nova – Paulo - Alzimar - Alvindaguia e Corrêa - Ronaldo -
Santana - Djalma e Amauri - Pelezinho e Ribamar. Em 1969 o Moto perdeu o título
para o Maranhão Atlético Clube.
O Sampaio, que não fazia boa campanha
no “Nordestão”, resolveu lançar o “Sampaio Setentão”, um projeto para montar um
grande time. O primeiro contratado foi Djalma que ganhara passe livre no Moto
Clube. Finalmente, aos 23 anos de idade o jogador vestiu a camisa do time da
sua família. E não deixou por menos, encantou a todos, dirigentes, torcedores e
imprensa. Era a época dos dirigentes José Carlos Macieira, Humberto Trovão, Ari
e Zé Barbosa. O presidente era Rupert Macieira, que substituiu Walter Zaidan. O
técnico era o paraibano Edésio Leitão.
Uma curiosidade, é que Djalma, mesmo
tendo jogado profissionalmente pelo Moto Clube, não se adaptava ao uso de
chuteiras. Para resolver o problema, passou a andar em casa de chuteiras. No
gramado, após os treinos ficava sozinho cobrando faltas e aperfeiçoando seus
chutes. Mas o Maranhão conquistou o bicampeonato.
Em 1970, já consagrado como um
verdadeiro craque foi convidado a concorrer a Câmara Municipal de São Luis. E
foi eleito com mais de 2.500 votos. Passou então, a dividir suas atenções entre
a política e o futebol. O Sampaio tinha um timaço, onde se destacavam Edimilson
Leite, Gojoba e Pelezinho, mas ainda assim o campeão foi o Ferroviário.
Em 1972 o Sampaio Corrêa foi campeão
do “Brasileirinho” (2ª Divisão), derrotando o Campinense da Paraíba, no jogo
final. Naquela época, o Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão não era
oficial e não dava acesso à primeira divisão, já que os times disputavam o
Brasileirão por convites da antiga CBD, hoje CBF.
Djalma teve oportunidade de se
consolidar como o grande ídolo da torcida. Sob o comando do técnico Marçal
Tolentino Serra, o time campeão formou com Jurandir - Célio Rodrigues -
Neguinho - Nivaldo e Valdecir Lima - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma Campos
- Pelezinho e Jaldemir. Destes, Valdecir também já é falecido.
Aproveitando o sucesso, Djalma se
candidatou a reeleição na Câmara Municipal. E ai aconteceu um verdadeiro
clássico nas urnas. O jogador Faísca, do Moto também concorreu. Todos queriam saber
quem venceria esse duelo político. Deu Djalma, que conquistou mais de 4.500
votos, contra 3.100 de Faísca, que também se elegeu.
Depois da conquista do
“Brasileirinho” a meta do Sampaio Corrêa era o título estadual. No jogo
decisivo contra o Moto aconteceu o inesperado: o goleiro Jurandir pediu
dispensa e o reserva Campos estava doente. O atacante Zezé teve que ser
improvisado no gol. O resto do time tinha Ferreira – Neguinho - Nivaldo e
Eraldo (Valdecy - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma - Pelezinho e Jaldeny
(Vamberto). O empate em 1 x 1 deu o título de campeão maranhense de 1972 ao
Sampaio Corrêa.
Em 1973 Djalma deu um passo maior na
política, concorrendo a deputado estadual. E se elegeu com facilidade, foi o
terceiro mais votado, com quase 14 mil votos. No futebol, o Sampaio montou um
grande time para disputar o Campeonato Nacional: Orlando (Portuguesa) - Marinho
(Paraná) - Moraes (bi-campeão pelo Cruzeiro) - Raimundo e Santos (Portuguesa) -
Lourival (Sudeste) - Sérgio Lopes (Curitiba) - Buião (Atlético MG) - Dionísio
(Flamengo) - Ailton (São Paulo) e Djalma. Técnico: Alfredo Gonzalez. Preparador
Físico: Gualter Aguirre.
Os resultados positivos apareceram de
imediato. Jogando em São Luiz o Sampaio Corrêa derrotou todos os times cariocas
que enfrentou: Vasco da Gama, 2 X 0, Botafogo , também 2 X 0, Fluminense 3 X 1
e América, 1 x 0. Nesse jogo, já em fim de carreira, Djalma foi autor de uma
jogada inesquecível: aplicou uma “barata” (enfiou a bola entre as pernas) do
jogador Ivo, que recentemente havia sido convocado para a seleção brasileira.
Ivo, até que tentou evitar o vexame, mas não conseguiu. O inesperado sempre fez
parte dos desconcertantes dribles de Djalma. O Sampaio, não alcançou
classificação porque fora de casa perdeu todos os jogos.
Djalma parou de jogar em 1974. No ano
seguinte, quando já era presidente do Sampaio, foi obrigado a voltar aos
gramados, porque às vésperas da decisão estadual o meia Joel adoeceu e não
havia substituto para ele. Atendendo pedido do técnico Rinaldi Maya, Djalma
passou a presidência do clube ao vice-presidente Chafi Braide e voltou a jogar,
ajudando o time a vencer o campeonato estadual.
Na decisão contra o Moto o Sampaio
venceu por 1 x 0, gol de Acy, quebrando um tabu de dois anos e 11 meses sem
vitória sobre o time rubro-negro. Em 1976 Djalma deixou definitivamente os
gramados e reassumiu a condição de presidente. O Sampaio sagrou-se bicampeão
maranhense.
No Campeonato Brasileiro, o Sampaio
contratou para técnico o famoso Djalma Santos. Quando de um jogo no Rio, o
treinador deu entrevistas à imprensa falando mal do trabalho desenvolvido pelo
clube. Foi demitido na hora. E nem assim os bons resultados apareceram. Pelo
contrário, o vexame de duas goleadas seguidas: 5 x 0 para o Volta Redonda e 7 x
1 para o Flamengo. Sobrou para o presidente Djalma Campos que assumiu a culpa
pelo fracasso e renunciou ao cargo.
Em 1978 concorreu a reeleição de
deputado estadual, mas não venceu. Por volta de 1985, quando Antônio Bento
Farias, já falecido vendeu quase todo o time profissional do Sampaio, Djalma
foi convidado a ficar no banco de reservas. No segundo tempo entrou em campo e
apesar da idade, mostrou toda a técnica que o consagrou como o melhor jogador
do futebol maranhense em todos os tempos.
Levantou o público, dando um
verdadeiro show com a incrível habilidade que Deus lhe deu, herança dos seus
tempos de futsal. Naquela época a televisão não dava a cobertura esperada aos
jogos de futebol. Por isso seu talento ficou reservado apenas aos que o viram
jogar. Djalma foi um atleta completo. Além de se dedicar inteiramente à prática
desportiva, não fumava e não ingeria nenhuma bebida alcoólica.
Em 1988 concorreu às eleições para
prefeito de sua terra natal, Viana e venceu. Ao longo de sua vida pública foi
ainda diretor executivo e vice-presidente do Instituto de Previdência do Estado
do Maranhão (Ipem). Em 2005, como assessor da presidência da Assembleia
Legislativa, por gratidão ao deputado Manoel Ribeiro, resolveu assumir ao lado
de Humberto Trovão, o departamento de futebol do Sampaio Corrêa.
Por desentendimentos dentro do clube,
Djalma se afastou do Sampaio e junto com Isaias Pereirinha e Humberto Trovão
ajudou a fundar o Iape, o clube caçula do futebol maranhense, à época na
primeira divisão.
Djalma faleceu no dia 7 de agosto de
2009. Eram 5 horas da manhã quando ele se sentiu mal e foi levado pela esposa
para o hospital UDI. Lá ele teve um infarto e faleceu. Na noite anterior, o
ex-jogador esteve no estádio municipal Nhozinho Santos, junto com o presidente
do Iape, Isaías Pereirinha assistindo o jogo em que seu clube derrotou o
Sampaio Corrêa por 2 X 1. Djalma, que era diretor de futebol teria dito ao
final do jogo: “velho, missão cumprida". Como se soubesse o que iria
ocorrer, ao sair do estádio passou pela casa onde seus pais haviam morado, na
Rua da Palma no bairro do Desterro, para visitar alguns parentes.
O ex-craque foi velado na rua da
Palma, 652, no bairro do Desterro, próximo à igreja. O sepultamento aconteceu
no cemitério Parque da Saudade, no Vinhais, onde seus pais estão enterrados.
Djalma deixou três filhos adultos do primeiro casamento: Djalma Neto, Soraya e
Solange. Do segundo casamento com a vereadora vianense Maria José, teve Fábio.
Texto escrito em 2010 e atualizado com
adaptações.