sábado, 23 de janeiro de 2021

AS VELAS DO RIO PINDARÉ

 Por Expedito Moraes (*)



Na minha infância passava horas e horas espiando a subida dos barcos no rio Pindaré.

Surgiam de repente no estirão, quase que na preamar, e o rio se transformava em uma imensa passarela com espetaculares desfiles de barcos. Não sei de onde apareciam tantos. Vinham em bando, um atrás do outro, deslizando silenciosamente com seus panos (velas) de lona triangulares em cores diversas: azul, encarnada, amarela, branca, verde, marrom; com seus cascos bem crenados e pintados com tintas de tons fortes; com nomes escritos com letras bem desenhadas de santos, de estrelas, de mulheres, de peixes, de amores... era um colorido fantástico.

Estes barcos, não motorizados, dependiam das forças da natureza ou das mãos humanas. Hora empurrados pela força das marés (pororocas) que invertiam a corrente do rio e, dependendo das fases da lua cheia ou nova, a velocidade da correnteza rio a cima era muito maior e permanecia durante quase 3 horas elevando a lâmina d'agua até o cimo da barreira, principalmente entre os meses de setembro a dezembro. Nesses dias, entre às 11 e 12 horas da noite ou do dia, quando a pororoca vinha ouvíamos o ronco da “bicha” à distância. Era um "Deus nos acuda". Vinha "lambendo barreira" com mais de cinco metros de altura.

Outras horas eram empurrados rio a cima pelo vento que, quando forte, estufava seus panos e imprimia maior velocidade. E, dependendo do sentido que sopravam, em cada estirão singravam as águas em reta ou bolinando, movimento que consiste ir de uma margem a outra aproveitando a força do vento e que exige do governante uma destreza enorme de lidar com o leme e a mudança do pano de um lado para outro no momento da manobra, que não sendo sincronizados pode causar sérios acidentes, inclusive o naufrágio ou encalhamento da embarcação.

Na falta do vento os barqueiros o chamavam com assobios agudos. E quando este não vinha o jeito era usar a força dos braços vogando ou empurrando à vara. As varas de mais ou menos 7 metros eram usadas pelos barqueiros com o barco abeirando as margens até uma profundidade máxima da metade da vara, de modo que a ponta ficasse à altura do peito e apoiada na mão em concha sobre o tórax empurravam o barco rio acima e contra a correnteza.

Esses tipos de embarcações eram lentos e subiam o rio carregados de sal grosso, querosene, pedras de amolar e outras mercadorias. Passavam dias e dias viajando entre a "Cidade" - expressão ribeirinha interiorana para se referir a SÃO LUÍS -  e o Pindaré. Por onde passavam vendiam suas cargas. Comprávamos o sal em latas de querosene, depois socávamos no pilão pra salgar peixes, carnes, que depois pendurávamos na ponta de um caibro do lado de fora da casa para escorrer a salmoura.

Saudades disso. Não existe mais.

(*) Expedito Moraes é natural de Cajari. É administrador e ex-Deputado Estadual.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

TOMOU A VACINA AMARRADO QUE NEM GADO CONTRA AFTOSA

 Por Nonato Reis

 

Imagem ilustrativa/O Globo


As cenas de pessoas vociferando contra vacinas anti-Covid-19 e até maluquices como achar que, recebendo o seu princípio ativo no organismo, o sujeito pode sofrer mutações, a ponto de se transformar em réptil, remetem, inevitavelmente, a um tempo distante no Brasil, quando os moradores eram vacinados à força.

Isso aconteceu em 1904, no Rio de Janeiro, com a primeira campanha de vacinação em massa no país, para combater a varíola, que grassava na cidade. O episódio, considerado épico pelo seu ineditismo, fora patrocinado por agentes sanitários, que invadiam as casas e vacinavam as pessoas que nem gado.

Culpa do governo federal que não teve o cuidado de preparar a população, informando-a devidamente sobre a vacina e a sua importância no combate à epidemia. Boa parte da população não sabia do que se tratava e temia ser infectado pelo vírus da doença a partir da injeção, e essa desinformação acabou por provocar uma grande reação popular, que entrou para a história como a “Revolta da Vacina”.

A origem das vacinas remete ao século 10, na China, quando surgem os primeiros vestígios do uso de imunizantes, com a introdução de versões atenuadas de vírus no corpo humano. Só que a técnica aplicada nem de longe lembrava os métodos atuais. Os chineses trituravam cascas de feridas provocadas pela varíola e assopravam o pó, com o vírus morto, sobre o rosto das pessoas.

O termo “vacina” surgiu pela primeira vez, em 1798, a partir de uma experiência do médico e cientista inglês Edward Jenner. Ele ouviu relatos de que trabalhadores da zona rural não pegavam varíola, por haverem contraído a versão bovina, de menor impacto no corpo humano. Então introduziu os dois vírus em um garoto de oito anos e percebeu que aquilo tinha de fato uma base científica. A palavra vacina deriva justamente de Variolae vaccinae, nome científico dado à varíola bovina.

O certo é que, apesar de comprovadamente eficazes, e de produzirem reações mínimas no organismo das pessoas, as vacinas, até hoje são recebidas com desconfiança por parcelas da sociedade. Só para se ter uma ideia do tamanho dessa resistência, uma pesquisa de 2014, feita a pedido do Ministério da Saúde, mostrou que a média de vacinação no país era de 81,4%, enquanto que entre os mais ricos ficava em 76,3%.

 Se nas grandes cidades há rejeição contra as vacinas, imagine-se nas localidades da zona rural de difícil acesso. No Ibacazinho dos anos dominados pela luz do querosene, tomar vacina era um drama. Eu mesmo atravessei toda a infância sem receber um soro imunizante, sequer. Não por que temesse algum efeito colateral, mas por sentir pavor de injeção. Só de olhar uma seringa com agulha eu tremia feito vara verde.

Lembro de uma campanha de vacinação contra sarampo levada a efeito no início dos anos 70. Os moleques eram resgatados de dentro do mato, como se fossem rês desgarradas do rebanho. Sebastião Xoxota, personagem do romance “A Saga de Amaralinda”, deu show. Quando os agentes chegaram na casa dos pais dele com aquelas caixas de isopor a tiracolo. Tião fugiu por uma das janelas e desapareceu no mato. O pai, esbravejando, ordenou para os outros filhos: “peguem esse moleque”. Os irmãos se lançaram em perseguição a Tião, rasgando a floresta de cipó e cauaçu, que guarnecia a entrada da casa.

Tião acabou capturado em pleno Cemitério dos Anjos, quando tentou escapulir do cerco pulando entre duas sepulturas, escorregou e caiu. Os irmãos, tendo à frente “Cajueiro, o Grande”, amarraram os pés e as mãos dele com corda de prender garrote e o levaram até a presença dos agentes, que, assim, puderam vaciná-lo. Concluída a operação, um dos técnicos quis saber se a picada doera, ao que Tião reagiu, os olhos faiscando. “Meta um ferrão desse na bunda e o senhor vai ver se dói”.

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Djalma Campos, um jogador político.

 Por Nilo Dias

Djalma Campos foi um dos maiores jogadores surgidos no futebol maranhense, em todas as épocas. Nasceu na cidade de Viana e ainda pequeno mudou-se com a família para o bairro do Desterro, no centro histórico de São Luiz. Com apenas 12 anos de idade já mostrava muita intimidade com a bola. Deu seus primeiros chutes no campo frente à igreja do Desterro, junto de outros garotos que se destacaram no futebol do Maranhão, como Santana, João Bala, Jovenilo e Fifi. Jogou depois no São Cristóvão, no Santos e Botafogo do Anil, do “seu Chuva” e no segundo quadro do Esporte Clube Desterro, que era dirigido por seu pai, Djalma Gomes Campos.

A habilidade que mostrou nos campos de futebol foi adquirida nas quadras de futebol de salão. Desde garoto, com 16 anos já se sobressaia no Atenas, time do bairro do Desterro. Quando o Sampaio montou sua equipe juvenil, ele foi convidado a fazer parte dela. Era a época de times como Vitex, Elmo, Flamengo (Monte Castelo), Real Madri e ainda o Drible.

Em 1968, quando já era jogador profissional foi convidado a jogar a Copa do Brasil de Futsal pelo Drible, tendo sido inscrito com o nome do seu irmão Delmar. Como o time não se preparou adequadamente não venceu nenhum jogo, mas ainda assim Djalma foi considerado o melhor jogador da competição. Ele era incomparável com a bola nos pés, não dava chutes à toa e costumava desmoralizar os goleiros com colocadas geniais. Apesar de ter marcado inúmeros gols, sua maior preocupação era armar as jogadas para outros artilheiros.

A primeira oportunidade que Djalma teve para jogar em um dos “grandes” do futebol maranhense foi através do goleiro Campos, que o levou para o Maranhão Atlético Clube (MAC), junto com os amigos João Bala, Santana, Fifi e Jovenilo. Mas não deram sorte, o técnico Calazans nem se dignou a assisti-los jogando. E o quinteto foi parar no Graça Aranha F.C., e por lá permaneceu por um bom tempo.

Anos depois, Calazans teve a humildade de reconhecer que errou ao barrar Djalma no início de sua carreira como jogador. Mas depois conviveu com ele no Sampaio, por isso dizia que o jogador nasceu numa época e no lugar errado: “Se Djalma Campos tivesse jogado num grande centro, com certeza teria sido o dono da camisa 7 da seleção brasileira”.

Em 1968 Djalma já era já era o destaque do time do Graça Aranha, chamando a atenção do desportista Guido Bettega que comprou seu passe e o deu de presente ao Moto Clube. Por jogar no adversário do Sampaio Corrêa, a família inteira de Djalma virou-lhe as costas. Naquele mesmo ano o Moto foi campeão estadual e campeão do Norte. O time formava com Vila Nova – Paulo - Alzimar - Alvindaguia e Corrêa - Ronaldo - Santana - Djalma e Amauri - Pelezinho e Ribamar. Em 1969 o Moto perdeu o título para o Maranhão Atlético Clube.

O Sampaio, que não fazia boa campanha no “Nordestão”, resolveu lançar o “Sampaio Setentão”, um projeto para montar um grande time. O primeiro contratado foi Djalma que ganhara passe livre no Moto Clube. Finalmente, aos 23 anos de idade o jogador vestiu a camisa do time da sua família. E não deixou por menos, encantou a todos, dirigentes, torcedores e imprensa. Era a época dos dirigentes José Carlos Macieira, Humberto Trovão, Ari e Zé Barbosa. O presidente era Rupert Macieira, que substituiu Walter Zaidan. O técnico era o paraibano Edésio Leitão.

Uma curiosidade, é que Djalma, mesmo tendo jogado profissionalmente pelo Moto Clube, não se adaptava ao uso de chuteiras. Para resolver o problema, passou a andar em casa de chuteiras. No gramado, após os treinos ficava sozinho cobrando faltas e aperfeiçoando seus chutes. Mas o Maranhão conquistou o bicampeonato.

Em 1970, já consagrado como um verdadeiro craque foi convidado a concorrer a Câmara Municipal de São Luis. E foi eleito com mais de 2.500 votos. Passou então, a dividir suas atenções entre a política e o futebol. O Sampaio tinha um timaço, onde se destacavam Edimilson Leite, Gojoba e Pelezinho, mas ainda assim o campeão foi o Ferroviário.

Em 1972 o Sampaio Corrêa foi campeão do “Brasileirinho” (2ª Divisão), derrotando o Campinense da Paraíba, no jogo final. Naquela época, o Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão não era oficial e não dava acesso à primeira divisão, já que os times disputavam o Brasileirão por convites da antiga CBD, hoje CBF.

Djalma teve oportunidade de se consolidar como o grande ídolo da torcida. Sob o comando do técnico Marçal Tolentino Serra, o time campeão formou com Jurandir - Célio Rodrigues - Neguinho - Nivaldo e Valdecir Lima - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma Campos - Pelezinho e Jaldemir. Destes, Valdecir também já é falecido.

Aproveitando o sucesso, Djalma se candidatou a reeleição na Câmara Municipal. E ai aconteceu um verdadeiro clássico nas urnas. O jogador Faísca, do Moto também concorreu. Todos queriam saber quem venceria esse duelo político. Deu Djalma, que conquistou mais de 4.500 votos, contra 3.100 de Faísca, que também se elegeu.

Depois da conquista do “Brasileirinho” a meta do Sampaio Corrêa era o título estadual. No jogo decisivo contra o Moto aconteceu o inesperado: o goleiro Jurandir pediu dispensa e o reserva Campos estava doente. O atacante Zezé teve que ser improvisado no gol. O resto do time tinha Ferreira – Neguinho - Nivaldo e Eraldo (Valdecy - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma - Pelezinho e Jaldeny (Vamberto). O empate em 1 x 1 deu o título de campeão maranhense de 1972 ao Sampaio Corrêa.

Em 1973 Djalma deu um passo maior na política, concorrendo a deputado estadual. E se elegeu com facilidade, foi o terceiro mais votado, com quase 14 mil votos. No futebol, o Sampaio montou um grande time para disputar o Campeonato Nacional: Orlando (Portuguesa) - Marinho (Paraná) - Moraes (bi-campeão pelo Cruzeiro) - Raimundo e Santos (Portuguesa) - Lourival (Sudeste) - Sérgio Lopes (Curitiba) - Buião (Atlético MG) - Dionísio (Flamengo) - Ailton (São Paulo) e Djalma. Técnico: Alfredo Gonzalez. Preparador Físico: Gualter Aguirre.

Os resultados positivos apareceram de imediato. Jogando em São Luiz o Sampaio Corrêa derrotou todos os times cariocas que enfrentou: Vasco da Gama, 2 X 0, Botafogo , também 2 X 0, Fluminense 3 X 1 e América, 1 x 0. Nesse jogo, já em fim de carreira, Djalma foi autor de uma jogada inesquecível: aplicou uma “barata” (enfiou a bola entre as pernas) do jogador Ivo, que recentemente havia sido convocado para a seleção brasileira. Ivo, até que tentou evitar o vexame, mas não conseguiu. O inesperado sempre fez parte dos desconcertantes dribles de Djalma. O Sampaio, não alcançou classificação porque fora de casa perdeu todos os jogos.

Djalma parou de jogar em 1974. No ano seguinte, quando já era presidente do Sampaio, foi obrigado a voltar aos gramados, porque às vésperas da decisão estadual o meia Joel adoeceu e não havia substituto para ele. Atendendo pedido do técnico Rinaldi Maya, Djalma passou a presidência do clube ao vice-presidente Chafi Braide e voltou a jogar, ajudando o time a vencer o campeonato estadual.

Na decisão contra o Moto o Sampaio venceu por 1 x 0, gol de Acy, quebrando um tabu de dois anos e 11 meses sem vitória sobre o time rubro-negro. Em 1976 Djalma deixou definitivamente os gramados e reassumiu a condição de presidente. O Sampaio sagrou-se bicampeão maranhense.

No Campeonato Brasileiro, o Sampaio contratou para técnico o famoso Djalma Santos. Quando de um jogo no Rio, o treinador deu entrevistas à imprensa falando mal do trabalho desenvolvido pelo clube. Foi demitido na hora. E nem assim os bons resultados apareceram. Pelo contrário, o vexame de duas goleadas seguidas: 5 x 0 para o Volta Redonda e 7 x 1 para o Flamengo. Sobrou para o presidente Djalma Campos que assumiu a culpa pelo fracasso e renunciou ao cargo.

Em 1978 concorreu a reeleição de deputado estadual, mas não venceu. Por volta de 1985, quando Antônio Bento Farias, já falecido vendeu quase todo o time profissional do Sampaio, Djalma foi convidado a ficar no banco de reservas. No segundo tempo entrou em campo e apesar da idade, mostrou toda a técnica que o consagrou como o melhor jogador do futebol maranhense em todos os tempos.

Levantou o público, dando um verdadeiro show com a incrível habilidade que Deus lhe deu, herança dos seus tempos de futsal. Naquela época a televisão não dava a cobertura esperada aos jogos de futebol. Por isso seu talento ficou reservado apenas aos que o viram jogar. Djalma foi um atleta completo. Além de se dedicar inteiramente à prática desportiva, não fumava e não ingeria nenhuma bebida alcoólica.

Em 1988 concorreu às eleições para prefeito de sua terra natal, Viana e venceu. Ao longo de sua vida pública foi ainda diretor executivo e vice-presidente do Instituto de Previdência do Estado do Maranhão (Ipem). Em 2005, como assessor da presidência da Assembleia Legislativa, por gratidão ao deputado Manoel Ribeiro, resolveu assumir ao lado de Humberto Trovão, o departamento de futebol do Sampaio Corrêa.

Por desentendimentos dentro do clube, Djalma se afastou do Sampaio e junto com Isaias Pereirinha e Humberto Trovão ajudou a fundar o Iape, o clube caçula do futebol maranhense, à época na primeira divisão.

Djalma faleceu no dia 7 de agosto de 2009. Eram 5 horas da manhã quando ele se sentiu mal e foi levado pela esposa para o hospital UDI. Lá ele teve um infarto e faleceu. Na noite anterior, o ex-jogador esteve no estádio municipal Nhozinho Santos, junto com o presidente do Iape, Isaías Pereirinha assistindo o jogo em que seu clube derrotou o Sampaio Corrêa por 2 X 1. Djalma, que era diretor de futebol teria dito ao final do jogo: “velho, missão cumprida". Como se soubesse o que iria ocorrer, ao sair do estádio passou pela casa onde seus pais haviam morado, na Rua da Palma no bairro do Desterro, para visitar alguns parentes.

O ex-craque foi velado na rua da Palma, 652, no bairro do Desterro, próximo à igreja. O sepultamento aconteceu no cemitério Parque da Saudade, no Vinhais, onde seus pais estão enterrados. Djalma deixou três filhos adultos do primeiro casamento: Djalma Neto, Soraya e Solange. Do segundo casamento com a vereadora vianense Maria José, teve Fábio.

Texto escrito em 2010 e atualizado com adaptações.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Hiroshima e o Capitólio

 Por José Sarney

 


Hiroshima é uma mancha indelével na História americana. Agora surgiu outra: Trump comandando uma horda de apátridas, acabando com o que os Estados Unidos tinham como sua mais sagrada instituição, o American Dream, o sonho que fascinou a humanidade e os fez conquistar o mundo. O sonho de construir um mundo de liberdade, cujos fundamentos constam da Declaração de Independência, quando os pais fundadores fizeram a sua Tábua da Lei, como a maneira de construir a Democracia: “Consideramos estas verdades como evidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos Direitos inalienáveis, que entre estes são Vida, Liberdade e busca da Felicidade.”

 

Louvamos que tenha saído da América o país que encontrou a fórmula das ideias e não da força para constituir governos baseados na liberdade e hoje é o maior país do mundo, político, militar, cultural, econômico, científico e tecnológico. Sou daqueles que acreditam que não foi o poder econômico que o fez líder, mas as ideias de liberdade, dignidade e direitos humanos.

 

Todos estes direitos criaram o sonho americano, que se expandiu pelo mundo inteiro e, com outras nações, ficou responsável pela paz mundial.

Agora, que vergonha, é seu próprio Presidente quem comanda a destruição da grande bandeira dos Estados Unidos perante o mundo.

 

A partir de agora que autoridade têm os EUA para pedir respeito aos direitos e à igualdade dos homens? Para ser o guardião da Declaração dos Diretos Humanos, cujas ideias fundamentais foram construídas por eles mesmos, desde o rascunho de Jefferson da Declaração de Independência, passando pelo Bill of Rights e pregando a liberdade, a Democracia, como a grande revolução salvadora mundial?

 

Que diferença podem invocar de Maduro fazer a representação parlamentar com a violência de leis fruto da chicana e unicamente destinadas à manutenção do poder? Que argumentos têm perante Erdogan e todos os líderes de extrema e radical direita, agora em ascensão, buscando ocupar a liderança de diversas nações? Que autoridade os Estados Unidos podem usar para defesa da democracia contra a força e o anarcopopulismo, diante do exemplo do Trump — pois, se a democracia é o maior e melhor regime, os Estados Unidos o maior exemplo disso, o Capitólio o coração da democracia, constituído pelas leis e pelo povo, como o Trump comanda sua invasão e sua destruição?

As consequências desse fato não se sabe como vão repercutir e influenciar o futuro da humanidade. Como apagar essa mancha da História americana? Só com a punição do Presidente, pois mostrará que a democracia é tão forte que até o sumo-sacerdote do seu templo, quando viola seus dogmas, é banido da política, como indigno dela.

 

Trump passou a ser o Bin Laden do American Dream: um destruiu as Torres Gêmeas; o outro, o Capitólio, Catedral da Democracia.

 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Nas entrelinhas da política

 Por Marcondes Serra Ribeiro

 

Promessas de empenho e esperanças de melhorias compõem basicamente o duo que ainda assegura a política, que a cada gestão ímproba, torna-se mais desacreditada, decepcionantemente corruptiva, tanto por parte dos políticos, quanto dos eleitores. Muitos se jogam nesse bloco e, consolidados seguramente por suas dantescas índoles, praticam a filosófica folia brasileira de “tirar proveito de tudo”, mas há aqueles que esperançam a aplicabilidade de políticas públicas eficientes, adequadas, resolutivas dos problemas públicos mais cruciais, trabalhadas honestamente pelos gestores da base – as unidades menores da administração pública – os municípios.

Um bom motivo assegurador da quase sempre malograda, frustrada, ludibriada esperança do povo, é a possível pretensão do gestor em seguir na vida pública e que, por isso, esforce-se para executar um bom mandato,  encerrando-o de forma positiva, com bom  julgamento da maioria, embora seja de bom alvitre observar que, em maior  ou menor intensidade, haverá oposição, adversidades, alegações devidas ou indevidas de falhas, erros, improbidades, atitudes que também asseguram a política em sua disforme variação popularesca e viciosa – a politicagem, ou politiquice que tanto caracteriza e funda os anais de nossa gente!

Muitos, ou melhor, quase todos, preocupam-se somente com os planos, destacando midiaticamente as ações que serão aplicadas logo no “promissor” início. Instigam a opinião pública, mexem e intumescem o brio esperançoso dos cidadãos, projetam um perfil de empreendedor eficiente e até começam bem, mas depois que atentam à real importância do exercício do poder e ao “poder” do dinheiro público, mergulham de cabeça no mar de improbidades e falcatruas, tão sedutoramente à sua disponibilidade, promotor de regalias e excentricidades, e perdem-se em atitudes mercenárias, desumanas, desonestas, desrespeitosas, até se  referindo ao município com acintosas afirmativas, tais ou similares a “ eu sou o prefeito daquela ..., eu que mando naquela ...”, como se sabe, palavras proferidas por gestores ímprobos, com caracteres de “Césares Romanos”, senhores de todos os poderes, consequentes náufragos da política local, corajosos  “caras de pau” e afrontadores da memória do povo, porque ainda palanqueiam descaradamente em apoio aos candidatos, almejando “um lugarzinho ao sol”, uma oportunidade a mais de “sugar a teta da vaca leiteira”. Mas... vergonha não ficou para qualquer um e político, em maioria, tem esse perfil intrepidamente desavergonhado!

Depois da incursão no indevido, no desonesto, logo em meados do primeiro ano, prolongando-se pelo segundo e terceiro, costumam voltar às realizações no quarto e último ano e aplicam-se em fazer o quê não fizeram nos três anos anteriores, “esquecidos” das regras especiais que balizam a execução orçamentária das prefeituras, relaxam a necessária prudência diante do fechamento de caixa, porque de fato, “não estão nem aí” àquilo que é lícito, previsto legalmente e comprometem-se com despesas que não poderão quitar até o término do mandato, confiam nas gambiarras financeiras e “encorpam o presente de grego” para o substituto.

São muitas as proibições legais direcionados aos gestores em final de mandato, mas também têm sido bem avolumadas as desobediências e o desrespeito aos servidores e ao povo. As normas reguladoras existem, são rigorosas e dependem unicamente do caráter, da honradez, da honestidade pessoal do gestor e sua condução exigente junto a seus secretários – quase sempre com histórico comprometedor por onde passaram profissionalmente e tendenciosamente coniventes e colaboradores direto de uma gestão fraudulenta, como se tem visto tanto. Ressalto que há exceções respeitosamente aplaudíveis à essa abjeta regra, graças a Deus!

Somos um povo que ainda cultua esperanças, mesmo minguada, quanto aos eleitos para o Executivo e Legislativo Municipal, cujas ações precisam ser fundadas, garantidas pelo bom senso, boa conduta e obediência honesta aos princípios gerais da administração pública.

Trabalhar eficientemente, dedicar-se respeitosamente à construção do Bem Comum, posicionar-se honradamente, de “cabeça erguida” frente ao povo, prestar contas eventualmente, demonstrando a inteligente e legal contenção das despesas e o equilíbrio das contas públicas, sempre será amplamente benéfico ao município e ao prefeito que pretende a reeleição, disputar outros cargos políticos ou destacar-se em apoio àqueles que apresenta como seus candidatos em futuros pleitos. Mas tudo isso que naturalmente dá confiabilidade e convence a comunidade, tem obviamente estrita relação com o melhor exercício do poder, em consonância com a legislação vigente, contas devidamente aprovadas e perfeita condição de briosa e exemplar postura administrativa.

Que tenhamos o primor de uma gestão honrada, eficiente e digna de continuidade!