sexta-feira, 22 de março de 2019

VIANA: O PROBLEMA DA FALTA D’ÁGUA


Viana faz parte da Convenção de Ramsar, que congrega áreas úmidas de interesse mundial. Rica em recursos naturais, em especial de lagos e, portanto, cercada de águas por todos os lados, sofre o inaceitável problema da falta d’água. Eleita com a esperança de resolver este desafio, a atual gestão do município, liderada pelo prefeito Magrado Barros, prometeu “água de qualidade, água mineral”. Até hoje não passou de promessa. O engenheiro ambiental, Adriano Castro, vianense, faz uma análise técnica da questão neste 22 de março, Dia Mundial da Água. Leia:

22 DE MARÇO

Adriano Castro*
“Minha terra tem grandes lagos,
Que mais se parecem com o mar
As águas que aqui cotejam,
Não cotejam como lá,
Porém nossa escassez de águas nas torneiras,
É pior que no grande sertão do Ceará …”

É com essa adaptação do poema Canção do Exílio para a realidade de Viana (MA), escrita pelo poeta romancista Gonçalves Dias, que vamos falar sobre o Dia Mundial da Água, 22 de março.
Essa data foi criada para alertar as populações sobre a importância da água para a manutenção da vida. Muitos falam que a água irá acabar, ledo engano! A quantidade de água no planeta continua a mesma desde que a terra tornou-se habitável, quer seja na forma de gelo, quer seja na forma liquida ou de vapor. Quando falamos em escassez de água, queremos dizer que cada dia que passa, poluímos mais e a água própria para o consumo anda se tornando cada vez menos e as tecnologias para desinfecção da mesma andam encarecendo mais.
O povo vianense enfrenta uma verdadeira “via crucis” em busca de água
Muitas populações sofrem o problema de escassez por vários motivos, São Paulo por exemplo, tem que buscar água própria para o consumo, cada vez mais distantes dos seus centros urbanos por causa das poluições. Já no sertão nordestino é por causa da falta de abundância deste liquido. E em Viana – pasmem! – por mais que seja localizada em uma península, da mesorregião denominada Baixada Maranhense e ainda participante da Convenção de Ramsar (áreas úmidas de interesse mundial), sendo ponto de passagens de aves migratórias fugindo do frio canadense, sofremos com escassez de água. E justamente de água nas torneiras.
O sistema de abastecimento de água municipal (SAAE), construído na década de 80 para ser um centro de referência, projetado com salas para laboratórios e salas de capacitação, para uma população que na época beirava os 25 mil habitantes, hoje ainda se encontra como os mesmos equipamentos daquela época e para atender a uma população que mais do que duplicou.
Os péssimos serviços municipais, como a recente queda da caixa d’água, deixam a população de Viana em situação vexatória
A atual gestão eleita com a esperança de “resolver a parada” prometeu “água de qualidade, água mineral” através de uma tecnologia simples e barata para os cofres municipais, que seria a instalação de dessalinizadores em alguns pontos de captação de água subterrânea – o que resolveria o problema de alguns bairros do município. Até hoje não passou de promessa.
A cidade de tempos em tempos sofre com o desabastecimento que, por vezes, perdura por mais de 15 dias por simples e falta de competência da gestão municipal na busca por melhorias e ampliação do sistema de abastecimento. As desculpas são as mais descabidas possível. Vamos a algumas delas e as soluções possíveis:
Limpeza dos filtros: ótimo, tem que acontecer, sim, a limpeza preventiva. Porém, que a população seja avisada com antecedência para que possa se programar para o período que ficará em água.
Falta de produtos: essa não tem justificativa, é incompetência mesmo.
Urubu bateu na rede elétrica: caso fortuito, que pode ser resolvido com a aquisição de um gerador.

A bomba quebrou: caso fortuito, que pode ser resolvido se o sistema tiver uma bomba reserva
Essas são as principais desculpas que escutamos na cidade. Há ainda que as ligações clandestinas, o não pagamento das contas e as bombas de sucção nas residências, fazem com que o sistema não seja eficiente. Ora veja! Na lei da selva de pedra, cada um usa as armas que tem pra sobreviver. Só há bombas porque o sistema não funciona como deveria, só há ligações clandestinas porque não há fiscalização e só há inadimplência porque não devemos pagar por aquilo que não temos.
Os fiscais do povo têm uma grande parcela de culpa nessa problemática, pois os vereadores não propõe leis que façam com que nosso sistema melhore, os responsáveis pela pasta não procuram maneiras de buscar recursos financeiros para aplicar no sistema, o gestor maior parece não dar a mínima para a problemática e a população é omissa na busca por seus direitos.
Viana: rica em água, mas enfrentando um problema crônico de falta d’água por falta de políticas públicas eficientes
Ora, Viana faz parte da convenção de Ramsar, como já falado anteriormente, tendo em vista que tem essa importância mundial. Vamos descruzar os braços e fazermos a nossa parte, cada um ajudando da maneira que pode, a população usando o bem precioso de maneira racional, desligando as torneiras a noite para não derramar, após encher seus reservatórios, o vereadores fiscalizando, cobrando e legislando em prol de melhorias, a gestão propiciando o bem comum a todos.
“Nossos lagos tem mais água,
Nossas várzeas são encharcadas,
Nos bosques são úmidos,
E nossas casas sem ser regadas”

*Adriano Castro, vianense e Engenheiro Ambiental


segunda-feira, 18 de março de 2019

Lula: eu avisei que os verdadeiros ladrões eram os que me condenaram!


Meus amigos e minhas amigas,

Quero, em primeiro lugar, agradecer a solidariedade e o carinho que tenho recebido do povo brasileiro e de lideranças de outros países, neste quase um ano em que me encontro preso injustamente. Agradeço especialmente aos companheiros da vigília em Curitiba, que me confortam todos os dias, aos companheiros que constituem os comitês Lula Livre dentro e fora do Brasil, aos advogados, juristas, intelectuais e cidadãos democratas que se manifestam pela minha libertação.

A força que me faz resistir a essa provação vem de vocês e da convicção de que sou inocente. Mas resisto principalmente porque sei que ainda tenho uma missão importante a cumprir neste momento em que a democracia, a soberania nacional e os direitos do povo brasileiro são ameaçados por interesses econômicos e políticos poderosos, inclusive de potências estrangeiras.

Como sempre fiz em minha vida, e lá se vão mais de 45 anos de atividade sindical e política, encaro essa missão como um desafio coletivo. A luta que faço para ter um julgamento justo, em que minha inocência seja reconhecida diante das provas irrefutáveis da defesa, só faz sentido se for compreendida como parte da defesa da democracia, da retomada do estado de direito e do projeto de desenvolvimento com inclusão social que o país quer reconstruir.

A cada dia que passa fica mais claro para a população e para a opinião pública internacional que fui condenado e preso pelo único motivo de que, livre e candidato, seria eleito presidente pela grande maioria da população. Minha candidatura era a resposta do povo ao entreguismo, ao abandono dos programas sociais, ao desemprego, à volta da fome, a todo o mal implantado pelo golpe do impeachment. É uma luta que temos de levar juntos, em nome de todos.

Para me tirar das eleições, montaram uma farsa judicial com a cobertura dos grandes meios de comunicação, tendo a Rede Globo à frente. Envenenaram a população com horas e horas de noticiário mentiroso, em que a Lava Jato acusava e minha defesa era menosprezada, quando não era simplesmente censurada. A Constituição e as leis foram desrespeitadas, como se houvesse um código penal de exceção, só para o Lula, no qual meus direitos foram sistematicamente negados.

Como se não bastasse me prender, por crimes que jamais cometi, proibiram que eu participasse dos debates e das sabatinas no processo eleitoral; proibiram minha candidatura, contrariando a lei e a ONU; proibiram que eu desse entrevistas, proibiram até que eu comparecesse ao velório de meu irmão mais velho. Querem que eu desapareça, mas não é de mim que têm medo: é do povo que se identifica com nosso projeto e viu em minha candidatura a esperança de recuperar o caminho de uma vida melhor.

Dias atrás, ao me despedir do meu querido neto Arthur, senti todo o peso da injustiça que atingiu minha família. O pequeno Arthur foi discriminado na escola por ser meu neto e sofreu muito com isso. Então, prometi a ele que não vou descansar até que minha inocência seja reconhecida num julgamento justo.

Na emoção daquele momento, recordo-me de ter dito: “Vou te mostrar que os verdadeiros ladrões são os que me condenaram”. Pouco depois, o jornalista Luís Nassif revelou ao público o acordo ilegal e secreto entre os procuradores da Lava Jato, a 13a. Vara Federal de Curitiba, o governo dos Estados Unidos e a Petrobras, envolvendo uma quantia de 2,5 bilhões de reais.

Essa quantia foi tomada à maior empresa do povo brasileiro por uma corte de Nova Iorque, com base em delações levadas a eles pelos procuradores do Brasil.
E eles foram lá aos Estados Unidos, com a cobertura do então procurador-geral da República, para fragilizar ainda mais uma empresa que é alvo de cobiça internacional.

Em troca dessa fortuna, a Lava Jato se comprometeu a entregar ao estrangeiro os segredos e informações estratégicas da nossa Petrobras.

Não se trata de convicções, mas de provas concretas: documentos assinados, atos de ofício de autoridades públicas. Estes moralistas sem moral ocupam hoje altos cargos no governo que só foi eleito porque eles impediram minha candidatura. Mas quem está preso é o Lula, que nunca foi dono de apartamento nem de sítio, que nunca assinou contratos da Petrobras, que nunca teve contas secretas como essa fundação que foi descoberta agora.

Mais do que manifestar indignação com esses fatos, quero dizer a vocês que o tempo está revelando a verdade. Que não podemos perder a esperança de que a verdade vencerá, e ela está do nosso lado. Por isso, peço a cada um e a cada uma que fortaleçam cada vez mais a nossa luta pela democracia e pela justiça. E só vamos alcançar esses objetivos defendendo os direitos do povo e a soberania nacional, porque foi contra estes valores que fizeram o golpe e interferiram na eleição. Foi para entregar nossas riquezas e reverter as conquistas sociais. Que os comitês Lula Livre tenham isso bem claro e atuem cada vez mais na sociedade, nas redes, nas escolas e nas ruas.

Tenho fé em Deus e confiança em nossa organização para afirmar com muita certeza: nosso reencontro virá. E o Brasil poderá sonhar novamente com futuro melhor para todos.

Muito obrigado, e vamos à luta, companheiros e companheiras.

Um grande abraço do

Luiz Inácio Lula da Silva
Curitiba, 16 de março de 2019


quinta-feira, 14 de março de 2019

Hospício Bolsonaro


Por Jorge Oliveira (*)


Jorge Oliveira
Aposta-se aqui, na imensidão da costa do Mar Egeu, na Grécia, quem é o mais pirado desse governo: o capitão, fã do ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner, que tenta controlar seus súditos desmiolados, ou especificamente três figuras, acopladas ao poder, que vêm se apresentando ao país como toscas, exóticas, esquizofrênicas, bizarras e hilariantes: Damares, ministra dos Direitos Humanos, Vélez, o colombiano da educação, e o Ernesto, que cuida do Brasil lá fora. Desde que assumiram o poder, os três não param de fazer loucuras como estivessem no recreio em um pátio de hospício.
Agora, dois deles tentaram instituir a deduragem no país. Estimulam uma geração a desde cedo conviver com a delação, prática nociva e ainda tão viva do regime militar. Querem que os alunos se perfilem diante da bandeira nacional e cantem o hino nacional. Acreditam que isso vai educá-los melhor, melhorar o ensino e dar-lhes cidadanias na falta de melhores escolas, mais professores e mais investimentos na educação. Os que se negarem a cantar terão suas imagens enviadas para o Ministério da Educação, como se ali fosse o DIP, a polícia fascista do Getúlio controlada por Filinto Muller.

A punição à meninada antipatriota, comunista, rebelde e desafiadora ainda não foi estabelecida, mas pelo que parece Vélez deve consultar o seu guru Olavo de Carvalho, nos Estados Unidos, responsável por sua indicação, para estudar caso a caso enquanto a educação, no caos, pede socorro.

Vélez, o nosso educador, foi mais longe numa tentativa servil de bajular o capitão. Enviou uma carta, escrita por ele mesmo, isso mesmo, do próprio punho, para toda rede escolar para que os alunos, perfilados, gritassem, como faziam os adoradores do nazi-fascismo, o slogan de campanha do governo: “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. A proposta é tão esdrúxula, tão idiota que assustou até o vice-presidente, o general Hamilton Mourão. “É contra a legislação. Você não pode colocar uma mensagem que não é de propaganda governamental a algo que seja ligado à propaganda”, disse ele, condenando a iniciativa de Vélez. A reação em cadeia de todos os setores educacionais e da cúpula do governo, logo teve o efeito esperado. Vélez desistiu da ideia do slogan até mesmo porque fere a legislação. Dois dias depois do anúncio, desistiu também de filmar os alunos nas escolas, uma decisão sensata que só aconteceu por causa da repercussão negativa do seu ato. O engraçado é que os bolsonaristas estão muito inquietos. Em um dia louvam o governo por algumas atitudes que consideram corretas, no outro frustram-se com os pedidos de desculpas.

 Lá do outro lado do Atlântico, onde estava numa audiência da ONU, Damares, a ministra biruta, apoiou a ideia de Vélez. Disse tanta besteira, jogou tanta conversa fora para se solidarizar com o colega que, francamente, não gostaria de registrar nesse artigo para não deseducar os brasileiros. É coisa para divã. Mas, infelizmente, quem poderia ajuda-la, a psiquiatra Nise da Silveira, já morreu. Por certo, do seu túmulo mandaria também um recado para que o governo não volte com o eletrochoque nos hospitais, como já anunciou. “Se fizer isso, por favor, comece pelos seus ministros”, diria ela do além-túmulo.

Este governo deveria estar preocupado em resolver os problemas cruciais do país, em coisas mais relevantes do que os factoides dos seus ministros que atraem a atenção para um país folclórico, cheio de alegorias ensandecidas. A professora Eliane da Costa Bruini, colaboradora do site Brasil Escola, chama a atenção para os problemas educacionais do país. Segundo ela, “o Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados.

Mesmo com o programa social que incentivou a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12 anos, 731 mil ainda estão fora da escola (IBGE). O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009; 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler; 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita. Professores recebem menos que o piso salarial”.

Ora, eis aí um problema que Vélez deveria se preocupar em vez de perfilar alunos para cantar o Hino Nacional como se isso fosse resolver os problemas na educação. Chamar-se-ia isso de “desocupação educacional”. Trata-se de um cara vazio de propostas que tenta cobrir a sua ignorância sobre o país que optou para viver com sandices e bajulações extremas para agradar o chefe. É mais reacionário do que o próprio que o alojou lá dentro do Ministério da Educação.

Esses factoides parecem uma coisa orquestrada, pois tiram da mídia o foco das notícias desagradáveis contra o capitão e seus familiares. Inclusive aquelas que botam no colo do Flávio, o Zero Um, a milícia do Rio de Janeiro, que tinha Queiroz como seu principal artífice na extorsão dos salários dos servidores do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio

(*) Jornalista.

domingo, 10 de março de 2019

O rei, a corte e o bobo



Por Nélio Júnior*

Nos tempos antigos, a vida era bem monótona, principalmente nas cortes. Foi então que, nos palácios dos reis, surgiu o Bobo da Corte. Era um humorista que fazia os nobres se divertirem, contando histórias e fazendo graças. Na vida moderna – e mais precisamente em nossa cidade de Viana (MA) – essa caricata figura se mostra cada vez mais presente.
Durante os dias de momo, os “bobos da corte” multiplicaram-se. Para além de um pequeno (e cada vez menor) séquito palaciano, o prefeito Magrado Barros (o macho véio) se viu regozijado pela plateia de milhares de foliões que se refestelaram ao som das famosas e cara bandas baianas, ao custo de milhares de reais públicos. Assim, durante os 6 dias (sim, em Viana são 6 dias de Carnaval, ao invés dos quatro tradicionais), tanto o rei quanto a corte suspenderam os inúmeros problemas que a terrinha de Conceição do Maracu possui e fizeram plateia.

Assolada pela falta de infraestrutura como ruas intrafegáveis, vicinais intransitáveis, bairros que nada perdem para cidades bombardeadas, além de carências na saúde e o ano letivo ainda não ter iniciado por falta de professores e condições adequadas nas escolas, o “rei” decide bancar o “maior carnaval do Maranhão”, segundo ele mesmo, levando a cortina de fumaça para estancar seu cada vez mais crescente desgaste frente aos mais de 14 mil eleitores que o escolheram para “resolver a parada” – seu principal mote de campanha.
O macho velho deveria ficar alerta. A história também fala que os bobos da corte não eram nada bobos. Tudo indica que eram os melhores comediantes da sua época, a Idade Média. Ao contrário do que muita gente pensa, esses plebeus pagos para entreter a nobreza e a realeza não eram loucos, nem faziam parte do time de vítimas de deformidades físicas, como corcundas e anões, que muitas cortes eram adotados como circo particular. Eles possuíam várias habilidades: versejavam, faziam malabarismos e mímica. Eram, principalmente, gente com talento, sabedoria e sensibilidade. Assim o vianense é.

Portanto, após a ressaca do carnaval essa corte e seus bobos, representado pela claque política que balança ao sabor do vento e que sempre está ao lado do poder, começarão a sentir a pressão das ruas e do povo, este já acordado e sem a anestesia do festejo popular. O dia a dia começa a bater forte no peito dos quase 60 mil habitantes que começarão novamente a indignar-se com suas latas d’água na cabeça, fila na madrugada para conseguir senhas de consulta e lembrar que seus filhos estão fadados ao fracasso pois sequer cumprirão o ano letivo de 2019.
Que comece 2019!
*Nélio Barros Júnior é historiador, acadêmico de Direito e especialista em Docência do Ensino Superior.


terça-feira, 5 de março de 2019

É carnaval, é folia. Saudades de outrora!


Por Marcondes Serra

Tudo acaba, tudo muda, tudo passa e com toda natural razão, pois esta é a lei suprema do universo! E a ocorrência e avanço dessas mudanças tem a conduta humana como resultado inelutavelmente óbvio, embora haja preservações, resistências, discussões, condenações, reprimendas e até castigos, quando os dependentes desobedientes incursionam nas situações dessa tal modernidade, ferem princípios tradicionais, autoridades familiares ou outras formas de preservação dos mais essenciais valores, em decadente ascensão. Isto também é aceitavelmente natural. 

Os inventos, a tecnologia sempre exerceu enorme influência sobre a conduta humana e, em paralelo com os fenômenos naturais, tornam-se as grandes causas das inevitáveis mudanças e fim de tudo. Assim se tem vivido e observado as lições da vida!

Tudo acaba, tudo muda, tudo passa e o Carnaval também mudou. Sou saudosista dos Carnavais de rua e bailes no Clube dos Jovens, com salão enfeitado e colorido, foliões animados, uns envergando vaidosamente suas fantasias, a maioria em trajes bem esportivos, descontraídos, coloridos, apropriados, levando a alegria esfuziante para o meio da pista. Aquilo sim era “carnaval” – entusiasmo, euforia, confetes e serpentinas. E o bom já começava pela expectativa imaginativa das brincadeiras, das festas animadas pelas marchinhas, do “cheirinho do rodó” de tão poucos privilegiados, das cervejinhas geladas, da cachacinha, da caipirinha ou meladinha e demais incentivos etílicos. Hoje, com a mudança, o ânimo para a folia começa mesmo com a ansiedade pela oportunidade facilitada do uso das drogas, permissividade e degradação sexual, confusão e demais desregramentos modernos que muitos jovens, sem nenhuma vergonha ou máscara protetora, expõem aos olhos de todos. Pra que máscaras, se não são “caretas”?

Os três dias de Momo já se estenderam ao início da noite de sexta-feira e vêm sofrendo modificações em sua expressão, perdendo a característica daquele tempo, seguindo a linha da lei suprema do universo, embora poucas pessoas tenham resistido às trocas da forma e dos ritmos, acabaram cedendo totalmente ou em parte, aquietaram-se em melancólicas recordações e pronto: Eis o Carnaval de agora, predominância do axé baiano, como se a Bahia se agigantasse Brasil afora, em sua atração carnavalesca. E como não podem ir a Salvador, improvisam facilmente “uma Salvador” aqui mesmo e tome axé!

Nosso carnaval de rua era peculiarmente expressivo, com diversidade de grupos carnavalescos, organizados com fantasias simples, baratas, originais, batuque acelerado à base de percussão de couro de animais e vozes empolgadas, cantado e brincado, num clima ameno, receptivo, alegre, contagiante, com um estandarte sempre à frente, evoluindo altivo, anunciando a “escola” – diminuta e humilíssima réplica dos carnavais cariocas. Assim foram a “Turma da Mangueira”, Boêmios do Ritmo”, “Salgueiro”, “Asas do Samba” e tantas outras. Não esqueço quando os grupos se encontravam e subiam a empolgação da batida, cantorias do samba e a animação do “saracoteado sambista” dos passistas. Era pra valer mesmo e o confronto “pegava fogo” sob os incentivos dos líderes aos gritos de “vamos, vamos”! Interessante é que, ao se encontrarem, postavam-se em círculo e confundiam os sons de seus sambas e batucadas. Naquele momento se mostrava “quem era quem”, porque era o instante esperado das “disputas” e nenhuma escola queria perder seu batuque, canto ou dispersar seu conjunto brincante, sufocada pela outra. Uma loucura maravilhosa!

Lembro que já tivemos o “Corso de Dona Ivete”, a “Casinha da Roça”, a “Tribo de João Andrade”, os fabulosos blocos do samba de tamborzão “Piratas” e “Carrossel”, todos foram grupos expressivos e destacados em nossos carnavais de antigamente. Tínhamos foliões que brincavam e esbaldavam-se sozinhos, cantando pelas ruas, encaretados de “maizena”, tomando sua bebidinha de bar em bar e Tarquino foi um desses foliões, dentre outros e outras lembranças neste bornal de saudades. Essas criaturas alegres faziam o “Bloco do eu Sozinho” cantando refrãos carnavalescos e deixaram marcas no tempo! 

Vale a pena ressaltar que as confusões eram raras. Eram dias de quebra de alguns perfis e até mesmo de alguns interditos, mas todos seguiam as regras ditadas para o evento, consistentes em não desprezar os direitos estabelecidos, mantendo a paz e a tranquilidade geral. Delegado e policiais eram figuras de grande respeito!

Duas páginas inesquecíveis nos anais de nossas histórias carnavalescas eu preciso citar: aquela que registrou nossa evolução até o “quase nudismo”, em um carro alegórico recheado de mulheres e homens ousados para a época, usando apenas um “tapa-sexo” - o frisson do ano, que deu muito “o que falar” e a imponência em luxo, originalidade, e estonteante surpresa promovida pela “Mocidade Independente”, bancada por Nato Figueiredo e organizada por mim e meus amigos, com a colaboração de Willame Barros. Foi algo surrealista para São João Batista, verdadeiro fenômeno de um carnaval apenas! 

Nossos hábitos e tradições estão direta e obviamente submissos à realidade do contexto político-sócio-econômico do país, também em constantes mudanças e experimentações. Entendo que a mudança acontecida com o carnaval, seja consequência da evolução e adequação à cultura vigente, permeada pela violência infrene que afeta doridamente a sociedade aqui e alhures.

As Artes e suas manifestações retratam a realidade da época em que acontecem e evidenciam os valores praticados pela sociedade. No período carnavalesco, como nos demais períodos festivos, é aconselhável que se coloquem algumas considerações que possam alertar, disciplinar a conduta coletiva, evitando surpresas e aborrecimentos, pois vivemos uma realidade onde é necessário cuidados para manutenção da segurança, preservando o espírito festivo, brincalhão, característico de nosso povo – nossa gente!

Portanto, longe de criticar, deve haver sim, um cuidado especial, preventivo, um toque de responsabilidade entre todos nós, para que se tenha um carnaval alegre, que não deixe lembranças tristes quando terminar!

Tudo acaba, tudo muda, tudo passa e com toda razão, pois esta é a lei suprema do universo! Estamos em novos tempos, mas que neste carnaval a ingestão de bebidas seja moderada, as transas fáceis aconteçam com preservativos e que as drogas sejam relaxadas e não desvirtuem o senso da boa conduta, cidadania e humanidade!

Que neste carnaval os foliões extravasem toda a alegria e divirtam-se sem comprometer sua segurança e a dos demais, brincando de forma saudável e lembrando que, mesmo em espaço comum, o direito e “espaço” de cada um termina onde começa o do outro, afinal, o RESPEITO é princípio e meio determinante da boa conduta e bom relacionamento social.

Bom Carnaval a todos!


segunda-feira, 4 de março de 2019

E viva o Carnaval!

Bloco "Vem comigo"

Carnaval é festa pra todos. Muitos o esperam chegar para cair na farra. Antes, quando era uma festa de fantasias, ainda se tinha esse gasto, porém hoje ninguém liga muito pra isso. Qualquer roupa serve, quanto menos melhor. Ou quando menos se espera, tem sempre um abadá batendo à sua porta.

De alguns anos pra cá, o carnaval também é termômetro político, seja de quem está no poder ou de quem quer chegar lá. Pode ser trampolim para alguns, ou um piso ensaboado para outros. Tenho visto muitos que se estatelam no chão e descem ladeira abaixo. Outros, como uma curica no ar, ganham voo dada à sua leveza.

Aqui em São João Batista há muito o carnaval é um termômetro político. Neste ano não podia ser diferente. Alguns blocos, organizados ou improvisados, vestem a cor do tom político das próximas eleições.

Na tarde de hoje uma multidão tomou as ruas da cidade num colorido de alma, alegria e espontaneidade. Era o Bloco “Vem comigo”. Os foliões eram simpatizantes do pré-candidato a prefeito Mecinho Soares, e desfilaram no trajeto Praça do Viva a Praça de Eventos, sob o comando da Banda Sircutico. O desfile, recheado de alegria, colocou ânimo nos foliões ao mesmo tempo em que acendeu as luzes nos demais grupos que pretendem lançar candidatos. Foi surpreendente e contagiante.

Amanhã, terça-feira, certamente outros haverão de afoitar-se ao prazer da folia e à simpatia dos eleitores-foliões. Pois sendo o último dia do carnaval, muitos blocos ganharão a avenida Getúlio Vargas, afinal, quem não brincar amanhã, só no próximo carnaval, o qual será a chave que verdadeiramente abrirá o processo eleitoral de 2020. Também, que não se duvide, que os que brincaram hoje, também brincarão amanhã; os que vestiram hoje uma fantasia, amanhã estarão com outro abadá, pois o tempo é de alegria, e tudo é carnaval.

Decerto, sem os aforismos pertinentes aos que querem ser, o povo vai levando a vida do jeito que a vida é, aqui e acolá, ali e lá, aproveitando as oportunidades, venham de onde vier.

E viva o carnaval!

sábado, 2 de março de 2019

NÃO AO ÓDIO!


Por Marcondes Ribeiro Serra 

Hoje, bem mais que antes, eu me apoio na Semântica para produzir esta nota. A palavra que me norteia é pesada e provavelmente remeterá aqueles que a lerem ao sentido de rebaixamento mais agressivamente depreciativo que se possa atribuir ao ser humano em relação a seu padrão de vida.  Refiro-me ao vocábulo MISERÁVEL. 

Mas não me refiro ao pobre excessivamente carente, indigente, mas àquele que desperta compaixão por ser desprezível, torpe, vil como todos que se mostraram desumanamente comemorativos com a dor do ex-presidente Lula e familiares, pela perda do belo anjo Arthur, vitimado fatal e precocemente pela terrível Meningite meningocócica (*). 

Já tinha visto condutas semelhantes, quando muitos, perversamente iguais, comemoraram efusivamente a facada sofrida por Bolsonaro, lamentavam a imprecisão do golpe e pediam que ele morresse.

Vi também manifestações abjetas quando Dona Mariza faleceu e estas posturas me levam deveras a temer a evolução do ódio, tornam-me descrente da possibilidade de reconstruirmos os valores pautados nos bons sentimentos, porque o mal cresce a cada dia e manifesta-se através de certas práticas que nem posso mais nomeá-las como politiqueiras, mas monstruosas, diabólicas, insanas. Parece-me que muitos estão à espreita de uma oportunidade de vencer o outro, tirar-lhe ou comemorar a perda de sua vida – o bem mais precioso que DEUS nos deu!

O mundo precisa de AMOR e esta necessidade não é suprida apenas com palavras, mas, muito significativamente mais, com atitudes que promovam a felicidade daquele que age e daquele que recebe um gesto de AMOR!

Vamos dizer NÃO a essas postagens infames, não as curtindo, comentando ou compartilhando, porque é uma forma de rebatê-las pelas redes sociais!
NÃO AO ÓDIO!

(*) Existem diferentes tipos de meningite, mas uma das mais perigosas e fatais é a meningite meningocócica. A meningite meningocócica é uma forma altamente infecciosa da bactéria da meningite e consiste em uma séria inflamação das meninges (a fina camada que circunda o cérebro e a medula espinhal).