sábado, 30 de setembro de 2017

Aos 91 anos morreu hoje Matias Barros

Matias Barros
Faleceu agora no começo da noite em São Luís o senhor Matias Barros aos 91 anos de idade. Um dos mais antigos comerciantes de São João Batista, Matias estava internado em São Luís onde era acompanhado por médicos e familiares. Sempre com boa saúde, o velho Matica, como era carinhosamente chamado apresentou nos últimos dias um leve cansaço, certamente provocado pelo já fraco coração.

Hospitalizado e sob cuidados médicos, o coração do velho comerciante, que era estimado por muitos, não resistiu e ele veio a falecer. O corpo seguirá para São João Batista, onde residia, e onde passou toda a sua vida.

Matias era um dos moradores mais antigos de nossa cidade. Sempre trabalhando no comércio, foi dono de Mercearia e loja de tecidos. Trabalhou também no ramo de panificação por muitos anos. Fora lá, na sua padaria, por muitos anos, vendido o “refresco de coco” mais gostoso que se tinha em nossa cidade. Mesmo já aposentado, nunca deixou de ter o seu comércio.

Ainda que lhe pesasse a idade, era sempre figura marcante nos eventos da sociedade joanina, quando era levado por seus filhos, genros ou netos. Costumava celebrar a vida com seus amigos. Sempre comemorava religiosamente o seu aniversário todos os anos. Fazia questão disso.

Era alegre e carregava consigo a vaidade masculina, o que lhe era marca característica, pois apesar da idade, gostava de estar sempre bem vestido, bem penteado e perfumado. Era um verdadeiro cavalheiro.

A cidade de São João Batista fica triste com certeza com a partida de um dos homens que ajudaram a construir a nossa história.


A todos os familiares do agora saudoso Matias Barros o nosso sincero pesar. 

A CRÔNICA DO DIA

HOJE É DIA DE... 


INÁCIO, O JAPA!

(*) Nonato Reis

Nonato Reis
Ainda hoje, quase quarenta anos depois, não consigo conter uma onda de riso sempre que me lembro de Inácio. Eu o conheci no primeiro ano do ensino básico. Chegara de Viana recentemente, onde terminara o curso ginasial, e me preparava para dar início a um novo ciclo de estudos. O colégio ficava no Bairro de Fátima e a turma, em pouco tempo, ganharia projeção dentro e fora dos muros da escola, pelas armações e trapalhadas que ocorriam frequentemente em sala de aula.
De todos os alunos Inácio era o mais canalha, capaz de arquitetar as tramas mais ousadas, como a que culminou com a queda literal da professora de educação moral e cívica sobre a mesa posta na frente das carteiras, que chamava de posto de observação, e fora preparada, ardilosamente, por ele para desabar justo na hora em que ela sentasse sobre o móvel. A professora, baixinha, atarracada e braba, costumava sentar na mesa, sempre que aplicava provas, para que, em um plano mais elevado, pudesse observar quem tentava colar.
Inácio descobriu que as peças da mesa eram apenas encaixadas. Então as juntou de tal forma que bastava uma pressão maior sobre elas para que desintegrassem o conjunto. Jamais esqueci a imagem da professora de pernas para o alto, toda desengonçada, para o delírio da turma. E depois o diretor assomando na sala, vermelho de raiva, louco para saber quem havia sido o autor daquela trama. Como todos se mantivessem em silêncio, impingiu à turma inteira três dias de suspensão que, longe de representar uma punição, fora recebida como prêmio.
Inácio era um negro alto e forte. Tinha as mãos e os pés enormes. Usava cabelo black power (que à época se penteava com um garfo, em forma de pente), calça boca de sino e tamancos de salto. Sua maior proeza era falar ou fazer as coisas mais absurdas e se manter sério, o olhar grave, como se nada de anormal houvesse acontecido.
Para o meu azar, achou de dividir a carteira dupla comigo. Assim, ele aprontava e eu, que tinha o riso solto, acabava assumindo a culpa. A professora de química era uma loira alta, do tipo tanajura. Usava calças justas que realçavam ainda mais o traseiro imenso. Quando passava por nossa carteira, a bunda quase roçando o meu braço, Inácio pegava uma espécie de palmatória de madeira, que guardava no interior da carteira, e ameaçava bater na bunda da professora, levando a turma a uma sonora sessão de riso.
A professora imediatamente se virava, para saber de quem partira a “gracinha”. Inácio se mantinha impassível feito estátua, ao passo que eu gargalhava e a custo evitava botar os bofes pela boca de tanto rir. Então, o dedo em riste sobre mim e a cara enfezada de general, bradava: “rua, seu moleque!”. Eu deixava a sala com o sangue fervendo, mas não sem antes apontar o dedo para Inácio e ameaçá-lo: “tu me pagas, filho da puta!”.
E acabou que de tanto aprontar, o dia de Inácio chegou. Foi numa tarde em que o professor de Física, encharcado de álcool até a tampa, faltou ao expediente, deixando a turma entregue à própria sorte. 
No meio da algazarra, alguém apontou para a bunda de Inácio e gritou: “negão, tu estás sem cueca!”. Inácio não se deu por achado e ainda colocou lenha na fogueira. “Meu irmão, o termo certo não é “está sem”, porque na verdade eu não uso mesmo. Cueca só serve para esconder o pinto. Eu não tenho por que esconder”.

Luíza, uma garota debochada, que assistia à cena, interveio,
- Eu acho que tu mentes, Inácio. Eu só acredito vendo. 
A turma entrou num clima de suspense, logo desfeito por Inácio que, resoluto, baixou a calça até o joelho, escancarando as partes íntimas.
Foi uma gritaria dos diabos. Os homens assobiavam e riam. Parte das mulheres tratou de sair da turma; outra parte, estupefata, cobria os olhos. A exceção foi Luíza que, calma, os braços cruzados, fitou o ventre de Inácio, como que decepcionada.
- Poxa, Inácio, eu que pensei que tu eras todo grande ... Isso é pinto que se apresente? Parece prego de japonês.
A turma foi ao delírio, e Inácio, pela primeira vez abatido, subiu as calças, sem saber aonde pôr a cara. Na mesma hora colei nele um aposto e para sempre ficaria conhecido como “Inácio, o japa”.
(*) Nonato Reis é jornalista, poeta e cronista, natural de Viana, Maranhão.


domingo, 17 de setembro de 2017

Nossa homenagem a Madá...

Soube por meio das redes sociais do passamento de uma conterrânea muito estimada, a senhora Maria Madalena Silva Costa, mais conhecida como Madá. Dito assim, muitos ainda podem se perguntar quem seria tão destacada senhora. Mas todos de muitas gerações de joaninos que estudaram no Grupo Escolar Estado de Santa Catarina hão de lembrar-se de tão magnânima senhora. Uns por que foram seus alunos, outros porque a conviveram sob o seu olhar disciplinador e de sempre eficiente servidora pública.

Madá era uma dádiva de pessoa. Sempre muito simpática. Lembro muito de sua lida diária na nossa velha escola. Ainda repicam aos meus ouvidos os tilintar da sineta tocada por Madá que anunciava o começo ou fim de nosso recreio no velho grupo escolar.

Se faz necessário que a minha geração e a de muitos homens e mulheres rendemos homenagens a essa nossa conterrânea, irmã de Brígido, de Bizica, e mãe de Marcelo, Nailton e Tutuca. E acho que as melhores palavras para justificar tamanho apreço, foram escritas pelo professor Marcondes, e eu as reproduzo na íntegra com a sua “data vênia”, estendendo aos familiares o meu sincero pesar.


Venerável dama

(*)  Por Marcondes Serra Ribeiro

A evolução da enfermidade, a idade avançada e a consequente debilidade já nos deixavam apreensivos com nossa querida Madá. Em nós, a natural relutância à aceitação de que não tardaria em deixar-nos e ascenderia ao encontro do Pai e de seus amados em outro plano. Hoje, ela nos dobra a resistência e despede-se calmamente, deixando-nos doridos, lamentosos por sua perda, mansa e reconhecidamente levados à exaltação de nosso profundo respeito, reverência digna às grandes e importantes figuras de nossa vida educacional. Familiares e amigos consternam-se, enchem-se de um sentimento triste e parece-me que nosso São João Batista veste-se lamentoso de um luto de lágrimas mansas e merecidamente sinceras. 

Sentimos que sua natureza abrandou os ventos enchendo o tempo com a melancolia típica dos ares bucólicos, prostrando-se respeitosos aos desígnios de Deus ao levar para junto de si uma de nossas ilustres filhas, uma destacada, entre as importantes profissionais que construíram dedicada e prazerosamente nossa história instrucional nos primeiros passos de tantos conterrâneos!

E na mente de cada um certamente afloram lembranças daquela senhora de aspecto franzino, porém firme. Assim é que recordarei Madalena, sempre comunicativa, expressivamente falante, receptiva e hospitaleira, generosa em seus conceitos e atitudes – uma verdadeira grande Dama, que esteve sempre ligada aos atos e fatos joaninos, pois sempre que conversávamos, mostrava-se a par da situação e sabiamente sempre apontava soluções, sem nunca descartar o valor do próximo. 

Virtuosa Madalena! Foi decisiva na construção da respeitosa história familiar, com grandioso senso de humanidade, que lhe fizera respeitada, amada e enlaçada a tantos por gestos de carinho e atitudes de amor. 

É verdadeiro e justo que se admita reverentemente que Madalena foi guerreira de muitas conquistas e construtora habilidosa, com requintes de mãe generosa, de nossa história, da história de nossa gente, da história de São João Batista! 

Siga em paz, Venerável Dama! 

Rendo-me respeitoso e humilde aos seus anos de lutas e abnegados exemplos. 
Meus aplausos, Grande Senhora. Meus pêsames à família enlutada!

(*) Marcondes Serra Ribeiro é funcionário publico e Professor.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Baixada Maranhense: graves problemas, singelas soluções

Campos da Baixada / Foto: Herberth Figueiredo
Por Flávio Braga(*)

A despeito dos seus encantos e belezas naturais (que a tornam potencialmente rica), a Baixada continua bastante desassistida pelas diversas esferas governamentais. Embora detenha um abundante potencial hídrico nos meses de abril a agosto, o drama da escassez de água ainda é o principal tormento das comunidades baixadeiras no segundo semestre de cada ano.

Nesse contexto, existe um pormenor que diferencia substancialmente a Baixada das outras regiões pobres do Maranhão: as medidas para melhorar as condições de vida do seu povo são baratas, simples e de fácil resolutividade. Só depende da vontade política dos nossos governantes, no sentido da construção de barragens, açudes e canais que promovam a conservação da água doce em nossos campos.
A esse propósito, destacamos algumas intervenções administrativas de pequeno porte que produziram resultados impactantes na qualidade de vida dos munícipes baixadeiros, como segue:

Em São Bento, na gestão de Bitinha Dias (1993-1996), foi executada a dragagem dos campos inundáveis, serviço considerado a maior ação de combate à estiagem e à fome na região da Baixada. Foram escavados mais de 18km de canais, com profundidade média de 6 metros. Essa obra beneficiou a população de diversos municípios do entorno.
Em Anajatuba, o Igarapé de Troitá mede 8km de comprimento, 10m de largura e 2m de profundidade, e foi dragado, no governo de José Reinaldo, para garantir a retenção da água doce durante todo o ano, proporcionado a permanência e reprodução dos peixes nativos e outras pequenas criações (bois, porcos, patos etc).

Ainda em Anajatuba, no povoado Pacas, foi desenvolvido um projeto consorciado de piscicultura nativa e fruticultura (banana, açaí e maracujá), a um custo de 200 mil reais, que garante o sustento de 42 famílias, numa área de apenas 3 hectares. Nesse arranjo produtivo são produzidas 4500 bananas por mês e 15 toneladas de peixes nativos por ano, sem qualquer ônus para os beneficiários do projeto.
Foto: Herberth Figueiredo
Em Viana, na gestão do prefeito Chico Gomes, foi construído o dique do Igarapé do Jitiba (complementando uma barragem de quase 3,5km de extensão, edificada na gestão do prefeito Messias Costa), que serviu para preservar água doce e proteger os numerosos cardumes de peixes. Na localidade Ponta do Mangue, Chico Gomes ainda construiu uma barragem de um 1,5km, a qual serviu para armazenar água e impedir a salinização do povoado Capim-Açu.

Em Bequimão, o prefeito Zé Martins recuperou 6km da Barragem Maria Rita (também conhecida como Barragem do Defunto), proporcionando enormes benefícios para as atividades econômicas da região, ao garantir a preservação de água doce nos campos e conter o avanço da água salgada.
Em Pinheiro, o ex-prefeito Filuca Mendes edificou a Barragem do Cerro, com capacidade para represar 30 milhões de litros de água doce e fomentar prosperidade para centenas de famílias ribeirinhas. A obra também serviu para fazer a ligação entre a zona rural e a urbana. O trajeto que era percorrido em quase uma hora, hoje dura alguns minutos.
Como se vê, a Baixada tem jeito, visto que as soluções para melhorar a vida do seu povo são viáveis, exequíveis e de baixíssimo custo material. Basta  a "força do querer"…, e aqui é o problema!
(*) Flávio Braga, é advogado e escritor, natural de Peri-Mirim.