Por
Antonio
Noberto(*)
Quando se digita no Google imagem as palavras “Campo de Perizes” o que se vê são inúmeras fotos de
engarrafamentos e acidentes de trânsito. Carros completamente destruídos,
pessoas mortas e feridas, polícia, bombeiro e coisas do gênero. São problemas
provocados por “erros” de construção cometidos em outros tempos.
A rodovia foi feita colada ao trilho da antiga Rede
Ferroviária Federal S.A – REFFSA, o que se tornou uma anomalia na via, sem
acostamento no sentido crescente. E para o (des)serviço ficar completo, com os
dois lados prejudicados, foi colocado um outro problema, a tubulação do sistema
Italuís na outra margem. Tudo isso aliado à falta de duplicação (que só agora
está acontecendo) tem-se o cenário perfeito para algumas das tragédias
verificadas no lugar. Mas a primeira vítima a agonizar no Campo é o vernáculo,
pois o nome correto do lugar não é Campo de Perizes, como comumente citado,
inclusive pela mídia.
A
Expressão carece de melhor atenção, de um revisionamento.
O
Campo faz parte da Baixada maranhense, formada por grandes planícies baixas,
alagadas no primeiro semestre do ano, o que resulta em uma espécie de pântano
setentrional do Brasil, refúgio de diversos animais e aves migratórias, que
aqui descansam, alimentam-se e reproduzem-se.
A Baixada é formada por duas dezenas de municípios e
possui quase vinte mil quilômetros quadrados, que reúnem um dos mais belos
conjuntos de lagos e lagoas naturais do país. Lago Açu e o Lago de Viana se
destacam na produção regional de pescado, de onde são retiradas anualmente
muitas toneladas de diversos peixes.
Além do manguezal, existe uma vegetação típica nos campos
alagados, um capim alto ou junco próprio de terreno pantanoso, o Peri. Daí o
termo que designa o famoso Campo que margeia os dezenove quilômetros da BR 135
na circunscrição do município de Bacabeira/MA. Peri é o substantivo primitivo
de onde deriva a discrepância Perizes.
A origem do termo equivocado é desconhecida. Muito
provavelmente foi extraída de outro erro: Periz, com “z” no final. Se o termo
inicial é Peri, então, segundo a gramática brasileira, forma-se o plural
acrescentando-se “s” (e não “z”), resultando, então, o termo Peris. Estaria
justificada, assim, a pronúncia Campo de Peris, expressão já usada por muitos.
Resolvido o problema de número, resta ainda observar um detalhe: o termo é de
origem tupi e deve ser grafado com dois “i”, resultando em piri, que deu nome a
lugares como Piripiri, no Piauí, Peri Mirim (que quer dizer capim ou junco
pequeno) e Peritoró, no Maranhão. A forma mais correta, portanto, deveria ser
Campo de Piris.
Pronunciar e escrever Campo de Peris já
seria um bom começo. O que não dá é para continuar a agressão à gramática com a
utilização do termo Perizes, pois muita gente o faz pensando se tratar de
alguma ave, como perdiz. Pronunciando o termo correto, Piris, ou sua variante
aportuguesada (digamos) aceitável, Peris, estaremos prezando pela língua e
cultivando uma das mais ricas línguas da América, o tupi-guarani.
Continuar pronunciando e escrevendo Campo de Perizes é
negar que em São Luís se fala ou se falou o melhor português do Brasil ou que
algum dia existiu uma Atenas nestas plagas de escritores e poetas.
Se no próximo ano vamos melhorar a fluidez do trânsito no
Campo a partir da duplicação da BR 135, então, nada melhor que nos anteciparmos
com a correta escrita e pronúncia do termo.
Salve o vernáculo, viva o tupi e o Campo de Piris ou de
Peris.
(*) Turismólogo, escritor, sócio-efetivo do IHGM, membro
fundador da Academia Ludovicense de Letras.