Cid Gomes ficou menos de três meses no comando do Ministério da Educação,
mas o fato é que a educação no país já está sem rumo há algum tempo. O próximo
ministro será o quinto, em cinco anos, num cargo que vem cumprindo um papel
mais político do que estratégico. Isso é muito grave, dada a importância dessa
área para o desenvolvimento do país.
O novo
ministro encontrará enormes desafios. O primeiro deles é reduzir as
desigualdades educacionais, melhorando a qualidade das escolas públicas. Hoje,
enquanto alguns poucos alunos se destacam, a nota média não chega a 4,0.
É um desafio
de gestão. Requer estabelecer um currículo mínimo comum, definir metas de
desempenho com as instituições, alinhar práticas de estados e municípios, fazer
diagnósticos para detectar deficiências e implementar planos de ação
específicos, alocando os recursos da maneira mais eficaz.
O segundo
grande desafio está no sistema educacional. Começa na educação infantil, onde
faltam vagas e educadores bem preparados, justamente numa fase em que se
desenvolvem aspectos cognitivos e sócio-emocionais decisivos para a vida
escolar.
A questão se
agrava no ensino fundamental. Nessa etapa, uma parte significativa dos alunos
não está desenvolvendo hábitos de leitura e estudo, nem competências básicas
ligadas a português, matemática e ciências. A indisciplina vem aumentando e não
há como ignorar problemas relacionados a drogas e violência, inclusive contra
professores.
A corda
arrebenta no ensino médio, com jovens em idade acima da série, que acumulam
histórico de reprovações. Muitos chegam a este segmento quase analfabetos
funcionais – não é à toa que o último Enem registrou meio milhão de notas zero
e apenas 256 notas máximas na redação.
Nossa escola é
do século passado. Há que valorizar e capacitar os docentes, garantir
infraestrutura e recursos compatíveis com o aluno do século XXI, da geração Z,
da interatividade. Renovar as formas de ensinar e aprender. Escola em tempo
integral, do jeito que está, é absurdo: seria fazer mais do mesmo. Há que
reforçar também a importância da contribuição das famílias. Sem que a família
faça a sua parte em casa, as melhores políticas públicas fracassam.
O terceiro
desafio é ligado ao ensino superior. Primeiro, no estímulo à pesquisa e
inovação, que vêm sendo tratados de forma secundária. Além disso, o governo
abriu as portas das faculdades para muitos estudantes sem base acadêmica, e não
é toda instituição que faz trabalhos de suplência para ajudar o aluno a
avançar.
Nesse ponto, a
visão de Cid Gomes era temerária, pois fazer Enem on-line “qualquer dia, qualquer
hora” não resolve: ao contrário, só agrava os riscos de deixar passar alunos
despreparados. Essa bomba-relógio pode estourar no mercado de trabalho, com
profissionais pouco qualificados, colocando em risco a capacidade produtiva e o
crescimento do país.
Por tudo isso,
a educação se tornou o ministério mais decisivo do momento. Tratá-lo de forma
responsável é condição essencial para garantir o avanço do país nas próximas
décadas.