Há muito queria escrever sobre o carnaval ou sobre os carnavais. O de ontem e o de hoje. Como mudou! Como evoluiu! O carnaval que teve inicio na rua, foi para os salões e voltou para as ruas e praças numa explosão de alegria e cores que apenas três dias, em datas previamente definidas no calendário gregoriano não bastam, hoje existem até os “carnavais fora de época”, que ocorrem em qualquer época do ano.
Mas o que é mesmo CARNAVAL?
Festa popular, o carnaval ocorre em regiões católicas, mas sua origem é obscura. No Brasil, o primeiro carnaval surgiu em 1641, promovido pelo governador Salvador Correia de Sá e Benevides em homenagem ao rei Dom João IV, restaurador do trono de Portugal. Hoje é uma das manifestações mais populares do país e festejado em todo o território nacional.
O carnaval é considerado uma das festas populares mais animadas e representativas do mundo. Tem sua origem no entrudo português, onde, no passado, as pessoas jogavam uma nas outras, água, ovos e farinha. O entrudo acontecia num período anterior a quaresma e, portanto, tinha um significado ligado à liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje no Carnaval.
O termo carnaval é de origem incerta, embora seja encontrado já no latim medieval, como carnem levare ou carnelevarium, palavra dos séculos XI e XII, que significava a véspera da quarta-feira de cinzas, isto é, a hora em que começava a abstinência da carne durante os quarenta dias nos quais, no passado, os católicos eram proibidos pela igreja de comer carne.
A própria origem do carnaval é obscura. É possível que suas raízes se encontrem num festival religioso primitivo, pagão, que homenageava o início do Ano Novo e o ressurgimento da natureza, mas há quem diga que suas primeiras manifestações ocorreram na Roma dos Césares, ligadas às famosas saturnálias, de caráter orgíaco. Contudo, o rei Momo é uma das formas de Dionísio — o deus Baco, patrono do vinho e do seu cultivo, e isto faz recuar a origem do carnaval para a Grécia arcaica, para os festejos que honravam a colheita. Sempre uma forma de comemorar, com muita alegria e desenvoltura, os atos de alimentar-se e beber, elementos indispensáveis à vida.
No Brasil
O entrudo chegou ao Brasil por volta do século XVII e foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens como a Colombina, o Pierrô e o Rei Momo também foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia.
No Brasil, no final do século XIX, começam a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos "corsos". Estes últimos, tornaram-se mais populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está ai a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais.
No século XX, o carnaval foi crescendo e tornando-se cada vez mais uma festa popular. Esse crescimento ocorreu com a ajuda das marchinhas carnavalescas. As músicas deixavam o carnaval cada vez mais animado. Hoje, uma enxurrada de ritmos invade ruas e avenidas. Em cada região sua musica específica embala os foliões.
Aqui, em solo joanino, esta mudança é facilmente percebida.
Antes podíamos perceber que as pessoas se preparavam para o período carnavalesco. Os matinais nos clubes carnavalescos tinham a missão de garantir a alegria das crianças e dos mais jovens. Os desfiles das Escolas de Samba, organizadas por funcionários públicos, trabalhadores autônomos, enchiam as ruas de alegria nas tardes dos domingos e terças-feiras de carnaval.
Estes desfiles, cada vez mais concorridos, com batucadas cadenciadas, atraiam multidões de todos os povoados que se aglomeravam ao longo do extenso trajeto do desfile.
A Turma de Mangueira do saudoso Edinho Serra, de Mequinho, de Aderson, de Brás e tantos outros; a Turma do Quinto de Mariano, de Zé Batata, de Procopinho; o Coração do Samba que reunia todos da Rua Nova e o ainda resistente Salgueiro do Samba de Bigurrilho e demais moradores da Beirada eram as estrelas da passarela daqueles tempos memoráveis.
À noite, era a vez dos bailes de salão. O baile das famílias, do banho de talco cheiroso, do whiski, do lança-perfume verdadeiro, das marchinhas ( olha a cabeleira do Zezé, será que ele é? será que ele é?; ô jardineira por que estás tão triste?, e outras tantas). Como se vê todos brincavam. Experimentava-se uma paz, pois só era permitido transgredir de alegria e exagerar só na fantasia.
Atualmente, alguns poucos resistentes ainda fazem este tipo de carnaval. Mas não há mais os bailes de clube, as crianças não têm mais seus matinais. Tudo agora é uma festa só. Todos juntos. Velhos e novos, foliões e expectadores se misturam num verdadeiro “empurra-empurra”. Os salões cederam vez para as praças e não necessariamente se precisa de fantasia. Só se precisa de disposição, energia e muita, mas muita alegria.
Como numa verdadeira “piracema”, cujos peixes buscam a renovação de suas vidas nas vidas postas, o carnaval vai se transformando no universo de cada um.
Mas como diria o poeta português Fernando Pessoa: “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Que sobrevivam os carnavais de ontem, que vivam os carnavais de hoje!