segunda-feira, 30 de novembro de 2020

A ELEIÇÃO DE EDUARDO BRAIDE E AS LIÇÕES PARA 2022

 Por Nonato Reis


Os erros oferecem um sentido pedagógico absolutamente importante. Mais do que os acertos, eles jogam luz sobre nossas atitudes e nos permitem enxergar as causas que levaram a desfechos indesejados. Um provérbio chinês, largamente conhecido, diz que “Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota”. Guevara, espécie de farol das esquerdas revolucionárias, ensinava que, “de derrota em derrota se chega à vitória”.

Faço este preâmbulo em face do resultado das eleições para Prefeito de São Luís. Se há uma coisa que Flávio Dino não pode dizer com relação à verdade das urnas, é que foi apanhado de surpresa ou que não previsse o comportamento dissidente de alguns aliados. Na política, como no xadrez, um movimento de peça pode provocar alterações substanciais no jogo.

A pedra representada por Eduardo Braide começou a se deslocar em 2016, quando, mesmo com poucos recursos e uma estrutura de campanha pífia, conseguiu chegar ao segundo turno, e só não ganhou a eleição pela entrada em cena das máquinas da Prefeitura e do Governo do Estado, que atuaram fortemente em favor de Edivaldo Holanda Júnior.

Mas ali estava marcado o horizonte de 2020. E qual foi o erro de Flavio Dino? Até os fungos do Palácio dos Leões sabiam que Eduardo Braide seria protagonista nas eleições seguintes para a Prefeitura de São Luís. Ou seja: o governador teve tempo de sobra para manobrar as peças no tabuleiro e manter o jogo sob o seu comando.


De que forma? Cooptando Eduardo Braide para o seu grupo. Afinal, ele nunca foi um adversário visceral do governo. Nunca fez oposição ostensiva a Flávio Dino ou mesmo a Edivaldo Júnior. Preferiu trabalhar em silêncio em Brasília, fazendo valer o seu mandato de deputado federal. Nunca se ligou a grupos, seja a favor ou contra o governo do Estado.

Mesmo na campanha deste ano, quando questionado sobre suas aproximações com Roberto Rocha e a ligação histórica com os Sarney, ele tangenciava, classificando-se como candidato independente, o que era uma retórica, mas que serve para avaliar o tom moderado que empregou como estratégia de marketing.

E o que fez o governador? Achou que podia subjugar o oponente com o peso da sua liderança e a força do cargo. Criou assim um consórcio de candidatos com vistas a levar a eleição para o segundo turno, e assim, entrar de corpo e alma na campanha do vencedor do seu grupo. O primeiro objetivo ele conseguiu, só que com Duarte Júnior, um nome sem apelo popular, com pouco ou quase nenhum carisma.

Me fez lembrar dois episódios parecidos, ocorridos nos anos 80, também envolvendo a sucessão para a Prefeitura de São Luís. Em 1985, Sarney, então Presidente da República, achou que elegeria um poste como Jaime Santana, sem a menor empatia com o eleitor. Seu slogan, “Força Total”, dava a ideia exata de rolo compressor com que a dinastia pretendia tratar a eleição. Gardênia Gonçalves preferiu o meloso “vem tratar São Luís com amor” e se deu bem.

Três anos depois, Cafeteira, tratado como mito da política maranhense, ignorou os apelos do eleitor, que clamava por Jackson Lago, e tentou emplacar Carlos Guterres, insípido e carrancudo. Resultado: Jackson ganhou enfrentando todo o poderio da máquina e a arrogância de Cafeteira.

Flávio Dino, pelo visto, não aprendeu as lições, e achou que, na condição de líder nacional, reverenciado pelas esquerdas como um nome provável para disputar a Presidência da República, poderia impor um aliado do seu agrado contra aquele a quem o eleitor deu sinais claros de preferência, desde 2016. Pior do que amargar uma derrota foi o desarranjo que provocou na sua base de sustentação.


Weverton Rocha, candidatíssimo em 2022, se fortaleceu ainda mais, porque agora ele vai posar como fiador da eleição de Braide, muito mais do que Roberto Rocha. Weverton decidiu apoiar Braide num momento crucial da campanha, em que todos os candidatos da cooperativa fechavam com Duarte, atendendo às ordens do Palácio. Pode-se dizer que a entrada em cena de Neto Evangelista, terceiro colocado no primeiro turno, com o apoio decidido do PDT de Weverton, foi crucial para o desfecho do segundo turno.

O cidadão interessado em política há de se perguntar: e agora? O que fará Flávio Dino? Para onde vai Weverton e seu grupo? Como se posicionará Eduardo Braide daqui para frente? Creio que até aqui houve apenas um sacolejo no grupo do governador e ele ainda tem as cartas na manga. Basta querer. Não creio que Weverton vá, de imediato, romper com o governador. Seria pura burrice e Weverton não é de cometer ato falho. Também Braide não vai recusar a mão estendida do governador, especialmente neste período de pandemia , em que os municípios carecem de ajuda financeira, bem mais que antes.

Se Flávio Dino quiser salvar seu projeto político, terá, em primeiro lugar, que aprender com os erros. Isso implica não tratar Eduardo Braide como inimigo, nem Weverton como traidor. Só que o jogo sucessório do Palácio dos Leões se delineou com a eleição deste ano. Não dá mais para Flávio Dino insistir com Brandão para sucedê-lo, nem menosprezar a força de Weverton Rocha, até porque esse é um cenário criado pelo próprio governador.

Quando ele decidiu chancelar o nome de Weverton em 2018, como um dos seus dois candidatos para o Senado, sabia perfeitamente que lhe estendia o tapete para 2022. Dino, porém, ainda tem a chance de salvar os dedos, e quem sabe até os anéis. Basta exercer a humildade, trazer os dissidentes de volta e parar de tentar mudar o que não dá mais. Tal como Eduardo Braide lá atrás, Weverton é o nome de 2022. Querendo ou não Flávio Dino.

 

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