domingo, 29 de setembro de 2019

“A FAZENDA BACAZINHO”: Nonato Reis lança em outubro o seu novo livro


“A Fazenda Bacazinho”, livro que assinala a estreia do jornalista e escritor Nonato Reis na crônica e no conto, é uma das atrações da Feira do Livro de São Luís deste ano, a XIII FeliS, que acontecerá no período de 11 a 20 de outubro, no Multicenter Sebrae. São 60 textos ambientados em uma velha fazenda do povoado de Ibacazinho, município de Viana, às margens do lendário rio Maracu.

O lançamento do livro está programado para o dia 19/10, às 19h30, no Café Literário da FeliS, no Multicenter Sebrae.

Afora o estilo leve e objetivo que caracteriza a literatura do autor – antes ele já havia publicado os romances “Lipe e Juliana” e “A Saga de Amaralinda” – uma das curiosidades deste novo livro é o local onde as histórias se passam: no entorno de uma fazenda que pertenceu à santa padroeira de Viana, Nossa Senhora da Conceição.

De acordo com o autor, a origem da fazenda remonta ao século XIX, e ninguém sabe ao certo quando o empreendimento teve início. “Conta a lenda que durante uma travessia do gado dos campos alagados para os tesos, os criadores teriam sido surpreendidos por um forte temporal, e um deles, temendo perder toda a criação e a própria vida, fizera uma promessa à santa, de dar a ela metade da sua criação, caso saíssem ilesos daquela tempestade”.

Feita a promessa, o temporal, como que por encanto, se dissipara e o sol voltara a brilhar sob céu claro. “O fazendeiro, porém, voltara atrás na promessa, ficando em dívida com a santa. Uma forte praga se abatera, então, sobre sua fazenda, matando toda forma de vida ali existente, inclusive, o dono da propriedade”.

Depois disso, temendo serem atingidos pela maldição, todos os anos, cada criador doava duas reses para a santa, nascendo daí um imenso patrimônio. Conforme Nonato Reis, no período áureo da fazenda, entre 1962 e 1978, a santa chegou a dispor de mais de 2.000 cabeças de gado, tornando-se uma das maiores fazendeiras da região.

O livro aborda os hábitos e costumes do Ibacazinho, um povoado surgido na esteira da catequese jesuítica. Os textos falam de lendas, mistérios e tradições do lugar, com destaque para aparição de espíritos e figuras alegóricas da cultura da Baixada. “A Fazenda Bacazinho” presta também homenagem a personagens que fizeram a história do povoado, no espaço temporal de 100 anos, a partir do final do século XIX.

(Do Blog de Waldemar Ter)

sábado, 7 de setembro de 2019

A propósito da música “Eu te amo, meu Brasil”


A música de autoria de Dom da dupla Dom e Ravel, a contrário de que muitos pensam não foi uma composição encomendada pelo regime militar, na pessoa do Presidente da República à época Emílio Garrastazu Médice.

Ainda que usada pelo governo em suas propagandas como forma de exaltar o civismo e o sentimento ufanista, a música fora composta e gravada em 1970 pela Banda “Os Incríveis” por conta do clima da Copa de 70, e que dada a sua execução e sucesso chegou a ser mais popular do que a música oficial da competição “Pra frente Brasil”, de Miguel Gustavo.

Na época do lançamento o governo fazia uma forte propaganda nacionalista, que ia muito além dos slogans “Brasil, ame-o ou deixe-o”. A paixão e a expectativa pelo tricampeonato da Copa de 1970 eram usadas como forte apelo à aprovação do novo regime autoritário. Também acontecia uma guerra ideológica dentro da indústria fonográfica. A maioria dos artistas intelectualizados, como Chico BuarqueCaetano VelosoGilberto Gil e Milton Nascimento eram opositores ao militarismo, e escreviam letras politizadas como forma de protesto.

Foi dessa treta entre os artistas da música brasileira que se dividiram entre os que eram contra o regime militar e faziam sutis letras politizadas contra a ditadura militar, a exemplo da música de Sérgio Sampaio, “Eu quero é botar meu bloco na rua”, ou mesmo a música “Calice” composição de Chico Buarque e Gilberto Gil, além da lendária “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, e os que ficaram impassíveis a esta luta e que por isso foram chamados de “adesistas”, mesmo sem nenhuma relação direta com o governo dos militares.

Havia portanto um mal-estar entre aqueles que não se posicionavam contra o governo, que eram tidos como “alienados”, como alguns dos astros da Jovem Guarda. Na esteira dessas ditas “injustiças” muitos artistas tiveram suas carreiras sacrificadas, como foi o caso de Wilson Simonal, que teve sua vida artística literalmente arruinada.

Don, um dos compositores da música ao lado de seu irmão Ravel, afirmou que a letra só buscava exaltar as belezas naturais do Brasil e de seu povo e que visava contrapor o sentimento nativista e nacional ao consumismo de coisas e modismos norte-americanos. Apesar do grande sucesso entre o público em geral, os irmãos não agradavam a esquerda do país, de políticos a artistas.

Eustáquio e Eduardo Gomes de Farias, ou melhor, Dom e Ravel chegaram em São Paulo ainda crianças, nos anos 50, vindos da pequena cidade de Itaiçaba, no Ceará. Já no final da década seguinte, tentaram uma carreira no disco e lançaram o LP Terra Boa, que trouxe o primeiro grande sucesso deles, a música Você Também é Responsável”, que acabou sendo usada dois anos depois como uma espécie de hino ao recém criado Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização – órgão criado no governo militar para melhorar o nível de alfabetização no país que buscava ser uma nação desenvolvida.

O fato, no entanto, não foi visto com bons olhos pela comunidade artística, que acabou taxando os irmãos de puxas-saco do governo militar, o que se agravava ainda mais com as novas composições da dupla, a maioria enaltecendo o Brasil, coisa que agradava muito aos militares do governo. São dessa fase os sucessos Obrigado ao Homem do Campo”, “Só o Amor Constrói, e principalmente “Eu Te Amo, Meu Brasil, composta pela dupla e gravada pelo conjunto Os Incríveis.

Como se vê, ainda que o ufanismo brotasse das letras das músicas de Dom e Ravel, suas composições nada tinham de intencional ou conluio com o governo dos militares. Mesmo assim, a dupla sofreu das injúrias da elite cultural e amargou o ostracismo a partir de então até o fim de suas vidas, restando então, a errônea concepção de que suas composições são mensagens da ditadura militar . Nada a ver.