João Batista Azevedo (Interino)
O tiro que saiu pela culatra
Quando
o PSDB armou a cama de gato para o PT, após as eleições presidenciais em que o
derrotado Aécio Neves, inconformado, começou a questionar na justiça a vitória
de Dilma Roussef, que se reelegeu para o segundo mandato, certamente não
imaginou que quase quatro anos depois seus alcaides também estivessem com as
vísceras à mostra. Certamente imaginaram que forçando a barra e se estruturando
nas mídias sociais, colocando aos poucos a população contra o ineficiente
governo da presidenta Dilma, estivessem pavimentando a derrocada do PT, como em
parte aconteceu, mas que sobretudo ressurgiriam como o maior partido do Brasil,
e que seus expoentes da vez seriam realmente capaz de colocar o cambaleante Brasil
nos trilhos do desenvolvimento. Enganaram-se redondamente. Colocaram tanta
pólvora que o tiro saiu pela culatra. O Aécio Neves tão sujo como pau de
galinheiro é hoje carta fora do baralho. Alckmin que posava de homem correto,
anda atrapalhado com algumas denúncias também de corrupção no seu governo no
Estado de São Paulo. O seu nome como o púlpito dos tucanos não ata nem desata,
mesmo no estado que foi governador por quatro mandatos. O PSDB não somente
errou no que arquitetou como fez ressurgir a figura de Lula, que se fez
candidato, mesmo contra as ameaças e a consolidação de sua prisão. Hoje mesmo
preso, Luiz Inácio Lula da Silva, contrariando todas as expectativas, continua
imbatível nas pesquisas.
Que tiro foi esse?
O
golpe engendrado por Aécio Neves e seus culiados tomou outro rumo e fez ser
parida a figura estapafúrdia de Jair Bolsonaro. Na esteira de um discurso
moralizador, a figura coronelesca de Bolsonaro foi quem ganhou vida diante da
guinada à direita dada pelos tucanos. O blablabá contra o “bolivarianismo”,
o financiamento de “movimentos de rua”, “o sentimento anti-PT”, “anti-Lula” só
fez crescer a mais bizarras das criaturas políticas do Brasil moderno. O bumerangue
lançado por Aécio atingiu-lhe de morte. Fê-lo descer do céu ao inferno em tempo
recorde. Por outro lado, para quem gosta desse estilo de político, Bolsonaro parece
ser a coisa autêntica. Representa o antipetismo. É a extrema direita que o PSDB
tentava esconder no armário. Para isso, claro, teve-se uma boa ajuda da
imprensa e sua demonização contra o PT. De certo é que estamos na iminência de
mergulhar num fascismo, não fosse o desbanque e a sistemática desconstrução das
figuras de Lula e do PT, cuidadosamente orquestrada por parte daqueles que
pensaram o poder para si.
Cafeteira: a fibra de um lutador
O ex-senador Epitácio Cafeteira foi
desses políticos que os tempos atuais não produz mais. A exemplo de figuras
emblemáticas da nossa política, ele foi mais um que deixou muitas histórias.
Cafeteira entrou na política como deputado federal, candidato que foi nas
eleições de 1962. Não se elegendo. Ficara na suplência. Assumiu ainda na mesma
legislatura por ocasião de licença de seus titulares, neste caso específico
José Sarney. Nesta condição, Cafeteira cuidou de propor uma
emenda constitucional, dando autonomia política a São Luís e outras capitais.
Os prefeitos eram nomeados pelo governador. A proposta foi aprovada e ele já
terminou a interinidade na Câmara como candidato a prefeito sob o lema
“Prometeu e Cumpriu”, que virou marca de sua gestão na capital.
Cafeteira, o político (I)
Eleito com
esmagadora votação, Cafeteira, que assumira papel de opositor e que tinha um
discurso hilário e ferino, tratou de impor sua marca. Construiu inúmeros postos
de saúde e costumava andar em suas obras e repartições. Ficou célebre também a
distribuição de brinquedos pelo Natal para as crianças nos bairros. Sempre
simpático Cafeteira caiu no gosto do eleitor da capital e reinou imbatível
sempre com esmagadora votação nas eleições a que concorreu. Como Governador,
reaproximado desta feita com o então presidente José Sarney, Cafeteira fora
eleito com cerca de 80 por cento da votação. Assim que assumiu o cargo
de governador do Maranhão, em 1987, Epitácio Cafeteira encontrou um estado
falido, devendo o funcionalismo público, fornecedores e prestadores de
serviços. Cafeteira chamou inicialmente para a mesa as folhas em atraso e
descobriu que a pior situação era dos funcionários lotados no interior. Com a
ajuda do governo federal ajustou as finanças do estado, regularizou o
calendário de pagamentos dentro do mês e com aumentos reais, progressões e
vários outros benefícios. Nesta trajetória também lhe coube os mandatos de
deputado federal nas eleições de 1974, 1978 e 1982. Foi senador de 1991 a 199,
e de 2007 a 2015.
Cafeteira, o político (II)
O
político carismático que arrastava multidões também teve seus momentos
inglórios. Quando prefeito logo no início do mandato Cafeteira proibiu a
realização de baile de máscaras, o que causou um alvoroço na cidade. Segundo o
historiador Nascimento Moraes, muitas damas da alta sociedade valiam-se
do anonimato e aproveitavam para tirar a desforra e cair na gandaia. Os
bailes eram tradicionais e muitos não gostaram, sobretudo os frequentadores da
“Gruta de Satã”, do “Bigorrilho”, e do “Berimbau”. A justificativa de moralidade
do Cafeteria causou mesmo uma revolta dentre os carnavalescos. Segundo diziam,
a proibição do uso de máscaras era para facilitar a identificação de
subversivos pelas autoridades policiais. Este fato lhe rendeu sérias dores de
cabeça inclusive no trato com a câmara de vereadores que instalou uma Comissão
Parlamentar de Inquérito para apurar eventuais “irregularidades” em sua administração.
Rendeu-lhe também o apelido de “Cafeteira da família dos bules”, dado pelo
cronista Stanislaw Ponte Preta que o citou no livro Fepeapá (O Festival de besteiras que assola o país).
Como
governador Cafeteira também foi acusado de enterrar 60 milhões numa obra mal
entendida até hoje: o aterro do Bacanga.
Para
alguns, Cafeteira foi “um déspota esclarecido dos tempos modernos”.
Concentrador. “Reluzia o seu incontrolável estrelismo pessoal”, disse Buzar em um dos seus artigos. Em suas gestões
nada saia do seu controle. Esse era o jeito sui generis de ser Cafeteira.
Em viagem
Estaremos a substituir o
titular desta coluna, o amigo Jersan Araújo, no tempo em que ele estiver
ausente de São Luis. O ilustre jornalista estará em breve “tour” pelos Estados
Unidos. De volta ao Brasil, também passará alguns dias em sua aprazível Olinda
dos Aranhas, em São
João Batista. Boas férias, companheiro!
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