*Por Natalino Salgado
Dr. Natalino Salgado |
Na semana passada, fui
alcançado por diversas mensagens de baixadeiros que se identificaram com o
artigo que aqui publiquei, constatando que há naquela região uma terra santa.
Fiz referência ao meu torrão natal, minha amada Cururupu; mas diversos leitores
me disseram que a descrição que apresentei os fez recordarem de suas próprias
cidades natais, dadas as semelhanças dos aspectos geográficos que irmanam cada
uma das cidades da Baixada Maranhense.
Uma obra que também pode
fazer surgir esse amálgama de sentimentos, por elencar uma série de escritos de
elementos nostálgicos comuns, atende pelo nome de Ecos da Baixada – coletânea
de crônicas sobre a Baixada Maranhense, e que se constitui numa daquelas
iniciativas que a arte, na forma de literatura, pode se propor, quando tudo o
mais, ao longo de anos, falhou por incontáveis razões. O eco é aquilo que
reverbera, mesmo depois da fonte originária ter cessado. Ele ricocheteia e se
espalha, repetindo a palavra várias vezes, para que seja ouvida e, quem sabe,
desperte em seus ouvintes passivos, esquecidos e alheios, a atenção necessária.
A publicação é uma
iniciativa do Fórum da Baixada Maranhense e reúne uma plêiade de baixadeiros
escritores, amantes de sua terra que, a despeito da riqueza natural, da
diversidade multifacetada de mar, terra, rios, florestas, lagos, flora e fauna,
de ter uma riquíssima cultura – até um sotaque peculiar, um léxico de palavras
únicas – tem amargado, ao longo de seus breves séculos de ocupação, o esquecimento
e um desenvolvimento espasmódico que alcançam, só precariamente, sua gente
lutadora.
Campos da Baixada |
Ler o livro é fazer uma
impressionante viagem por todos os rios e ter à mão uma ictiografia detalhada.
Confesso que aprendi mais nomes de árvores que em todas as minhas leituras
anteriores. O livro é feito por apaixonados que foram reunidos por iniciativa
do advogado – devo acrescentar o epíteto “embaixador baixadeiro” – Flávio
Braga, presidente do Fórum EM Defesa da Baixada Maranhense.
A propósito, a palavra
baixadeiro é desconhecida pelos dicionários com o sentido carinhoso que aqui
menciono, como uma designação, uma naturalidade. Mas encontrei a palavra
associada a um tipo de cavalo rústico, que se desenvolveu naturalmente, e por
alguma intervenção humana, justamente em nossa baixada, desde o Brasil Colônia.
É um animal pequeno, resistente, totalmente aclimatado aos extremos de seca e
cheia da região. É uma raça antiga e um patrimônio genético que honra a
comparação com habitantes da região, no aspecto tenacidade e resistência às
intempéries.
Na obra que mencionei –
ainda inédita – há ao mesmo tempo um toque de tristeza, quando se lê, por
exemplo, na crônica de Nonato Reis, um lamento pelo Rio Maracu que, como outros
no Maranhão, e talvez em estado mais grave, morre à míngua ano a ano. Mas toda
a hidrografia da Baixada está gravemente comprometida e as iniciativas até hoje
são, na melhor das hipóteses, tímidas.
O Ecos da Baixada deve
ser distribuído nas escolas, na esperança de que crianças e jovens
sensibilizados, se tornem ainda agora aqueles que farão de suas jovens vidas
ecoar o chamado, não para salvar a natureza manifesta na Baixada, mas para se
harmonizarem com ela, como se seus rios e igarapés fossem as veias que irrigam
suas vidas.
A pena destes
escritores, que integram a obra, faz as vezes de gritos proféticos. Clamam
pelos rios como os elementos fundamentais de todo um ecossistema único e que
arqueja, como se fosse a materialização das palavras do apóstolo Paulo que, em
sua Carta aos Romanos, diz: “Sabemos que toda a natureza criada geme até agora,
como em dores de parto.” (Romanos 8:22).
Quem nasceu naquele
lugar sabe do que falo. A baixada, a despeito de todos os maus-tratos a que foi
submetida, vive e resiste. Viva a Baixada!
*Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA,
membro da AML, ANM, AMM, IHGMA e SOBRAMES.
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