Por Caio Fernandes
Francis
Bacon é autor de uma frase que costumo usar em momentos históricos como o de
hoje, 17 de maio de 2017. Dizia ele que a verdade é filha do tempo e não da
imposição.
Nada mais apropriado para o dia em que caiu por terra, definitivamente,
a máscara de soberba e hipocrisia que encobria a decrepitude de um sistema
político dominado por uma escória que foi capaz de arruinar uma democracia
inteira em defesa dos mais inconfessáveis interesses.
Ironia das ironias, foi por medo do mais atual instrumento de tortura
da idade moderna, a prisão preventiva indefinida, que os donos da JBS, Joesley
e Wesley Batista, proporcionaram a mais avassaladora delação premiada de toda a
operação Lava Jato.
Não deixa de haver nesse episódio uma espécie de justiça providencial.
Utilizados como ferramentas medievais na insana busca de argumentos
minimamente aceitáveis para incriminar Lula, Dilma e o PT, prisão preventiva e
delações foram exatamente os recursos que acabaram por provar a escandalosa
conspiração que depôs uma presidenta honesta e perpetuou uma caçada jurídica e
midiática de décadas ao maior líder popular desse país.
Iniciada desde os primeiros minutos em que Dilma Rousseff foi reeleita
em outubro de 2014, o conluio capitaneado pelo projeto de poder derrotado nas
urnas utilizou-se de todos os meios, instituições inclusive, para minar e
inviabilizar o governo reconduzido pelo povo ao poder.
Munidos com o capital do alto empresariado, do jornalismo de guerra da
mídia familiar e da justiça cooptada da primeira instância até a mais alta
corte, a nata da corrupção política brasileira enganou descaradamente uma
parcela significativa da população buscando a desestabilização do governo.
Nada representa melhor o que significou o golpe de Estado sofrido pelo
país do que a aceitação do processo de impeachment ter sido feita por um
criminoso como Eduardo Cunha. O mesmo que, agora está provado, confabulava com
o vice decorativo e sua quadrilha, a tomada violenta do poder.
Poucos messes após uma das mais vergonhosas sessões já vistas na Câmara
dos Deputados, o Senado dava cabo de um projeto vitorioso de inclusão social e
redução da desigualdade que perdurou por mais de uma década.
Entrou em cena a mais pavorosa malta já reunida no Palácio do Planalto.
A truculência, o machismo, a misoginia, a incompetência e a falta de diálogo
foram postos em ação para ruir a soberania brasileira em pagamento dos
relevantes serviços prestados pelos grandes interesses internacionais.
Em apenas um ano de governo, o Brasil retrocedeu décadas. Ficamos mais
pobres, mais desiguais, mais desempregados. Fatiamos e doamos a Petrobrás a
empresas internacionais. Condenamos a educação e a saúde a décadas sem
investimentos. Perdemos todo o prestígio internacional que conseguimos a duras
penas.
Em resumo, um escândalo num dia, um desastre no outro. Quando não os
dois.
A delação dos donos da JBS vem pôr fim a um dos mais obscuros momentos
políticos de nossa história. Restou desmoralizado todo o governo Temer, o
Supremo Tribunal Federal que foi incapaz de impedir os atos de Eduardo Cunha e
a operação Lava Jato que terá agora que lidar, fatalmente, com aqueles a quem
tanto tentou proteger.
Escrevi em 7 de julho de 2016, pouco antes da votação do impeachment no
Senado Federal, um artigo intitulado “O desfecho de Temer será ainda pior do
que o de Cunha”.
Não resta dúvidas que esse medíocre que ora rasteja no lamaçal de
imundície que ele próprio criou, entrará para a história do Brasil como o
político mais odiado de todos os tempos.
Que a profecia seja cumprida e que este seja o triste fim de uma
canalha.
Caio Fernandes - Economista com MBA na PUC-Rio,
Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições
financeiras da América Latina.
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