Dinor e suas netas |
Valdino Pereira Assunção. Mas
todos o conheciam por Dinor (ou Dinô). Este nome caseiro certamente veio da intimidade da
família e dos amigos de infância. Mas se tornou um nome forte, dado ao caráter
e a personalidade de quem por este nome era conhecido. Um cidadão honesto.
Trabalhador. Exímio pai de família. Um amigo verdadeiro. Desses que a canção
manda guardar no lado esquerdo do peito.
Conheci mais de perto Dinor e
ficamos amigos por volta do ano de 1979. Éramos apenas dois adolescentes perdidos
em sonhos e fantasias, mas já focados com uma boa dose de responsabilidade.
Nunca soube ao certo sua idade, sempre achei que eu fosse mais velho do que ele.
Nessa época eu contava com meus dezoito anos incompletos. Eu tinha concluído o
segundo grau e tropecei na primeira tentativa de transpor a barreira para a
academia. Era difícil, uma verdadeira guerra, cujas batalhas precisavam ser
continuadas. Foi nesse momento, de volta à casa paterna, que, ao assumir uma
função na Câmara de Vereadores, fui companheiro de Dinor, que à época era uma
espécie de ASG da Prefeitura, onde trabalhava com um outro amigo, que também se
foi antes do combinado, Zeca de Neco. Foi um tempo bom.
Dinor sempre foi muito
responsável. Mas também era chegado a uma brincadeira com os amigos. Era de um
riso fácil. Com os amigos sempre usava de uma pilhéria. Mas sem nunca
ultrapassar os limites da amizade. Comigo sempre foi assim. Selamos uma grande
amizade.
Um ano depois àquela
convivência de trabalho e amizade nos afastamos por força do destino. Vim
prosseguir meus estudos na capital e ele ficara lá, na nossa terra. Perdemos o
elo que nos unia, porém a amizade não. Só fui reencontrá-lo novamente, alguns
anos depois, quando ele também já morando em São Luis, trabalhava no Armazém
Gonçalves Dias, onde começou como contínuo e chegando até ao posto de gerente
de loja.
Após alguns anos de trabalho e
dedicação, inclusive gerenciando nas cidades de Santa Inês e Bacabal, Dinor,
voltando pra sua terra, quis ter seu próprio negócio. Foi arrojado e montou sua
própria loja de confecção: Lojas Mayara. Era uma homenagem à sua primeira
filha, fruto do casamento com Ana. Aliás até nisso meu amigo demonstrou arrojo
e coragem, casou-se ainda muito cedo, aos vinte anos de idade. E essa
trajetória toda já se passara com a família constituída.
Certa vez combinamos uma
pescaria de piabas na beira de João Baixinho. Era época delas. Tava fácil a
pescaria. Ali mesmo montamos o fogão improvisado. Uma lata de flandres era a
nossa chapa e tudo que precisávamos, além de uns limões e sal. Com algumas
cervejas a nossa conversa corria solta e as gargalhadas fluíam mais
facilmente. Era o momento para
colocarmos a conversa em dia. E assim passamos parte do dia: rindo, comendo
piabas assadas e tomando cervejas. Sempre guardei aquele dia no baú das minhas
lembranças...
E a vida seguiu seu rumo. Há cerca
de alguns anos soube que meu amigo vivia um quadro depressivo. Ainda o visitei.
Já não tinha o mesmo brilho nos olhos. Saí então meio triste. Pensei em como é
a vida. O que fomos, o que somos e o que seremos.
Por fim vencido, Dinor perdeu o
gosto pelo colorido das manhãs. Pouco ou quase nada fazia sentido. O mal do século
o consumia. E o consumiu.
O meu amigo, sempre destemido,
partiu antes do combinado. E em meio às lágrimas, foi aí que eu descobri, que
tínhamos a mesma idade.
E eu, aqui sentado neste
apartamento, com os olhos marejados, encarando
a vida, só posso dizer: vai com Deus, Dinor!