Por Natalino Salgado
Profº Natalino Salgado |
“Esse horizonte usa um tom de paz”, disse
Manoel de Barros, em sua obra “O livro das ignorãças”, ao discorrer
poeticamente sobre os fins de tarde no Pantanal. Tomo emprestadas as palavras
do poeta para também falar sobre o entardecer da minha sempiterna Cururupu,
cenário de tantas boas lembranças de minha infância, e sobre a paisagem da
Baixada Maranhense, que não me sai da memória.
Trago à baila esse assunto
porque estive em Pinheiro, no início da semana passada, participando da
cerimônia de instalação da primeira turma de licenciatura em Educação Física da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Campus instalado naquela cidade,
evento este concorridíssimo e que contou com a presença de autoridades
municipais, técnicos administrativos, professores e alunos. Àquela ocasião,
quarenta estudantes deram o primeiro passo rumo ao tão sonhado diploma de
Educação Física. Além da motivação dos estudantes, o curso também inicia com um
excelente corpo docente, de vasta experiência profissional. É nossa intenção, com
a aprovação do conselho universitário, transformar o Campus de Pinheiro no
terceiro centro de ensino dessa Instituição no continente.
A cada ida àquela região, volto com o ânimo
renovado por constatar a vontade e a determinação de seus habitantes para o desenvolvimento.
Nesse contexto, além das anteriormente referidas, outras iniciativas dignas de
elogio estão sendo realizadas, a exemplo do recém-instalado Fórum da Baixada
Maranhense. Aqui destaco o papel do advogado Flávio Braga, um dos principais
defensores desse projeto.
A Baixada Maranhense compreende 21
municípios, que se distribuem em quase dezoito mil quilômetros quadrados na
região noroeste do Estado. Com uma população de mais de 518 mil habitantes
(dados de 2006), tem sua economia ancorada no extrativismo, agricultura de
subsistência, pesca e pecuária cuja expressão principal é a bubalinocultura,
visto que estes animais se adaptam perfeitamente às condições de grande parte
da região, caracterizada por campos inundáveis.
Mas,
infelizmente, a economia baseada na exploração de atividades do campo e com
escassa aplicação de tecnologia resulta em baixos índices de produtividade e
coopera para manter o quadro de pobreza geral, que se expressaem
insatisfatórios índices de progresso. Como exemplo disso, temos a cidade de
Pinheiro, a principal da microrregião, que exemplifica com bastante acuidade a
condição que se perpetua ao longo de décadas. Nessa cidade, o IDHM (Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal), que avalia a qualidade de vida, como a longevidade,
renda e educação da população, é de apenas 0,637, o que representa um
crescimento médio. Sobre isso, a dinâmica é a seguinte: quanto mais próximo de
1, maior o desenvolvimento. Registre-se que outras cidades do entorno possuem
dados semelhantes. O quadro só não é mais desolador por causa do
comprometimento de alguns poucos governantes da região que se esforçam para
debelar os inúmeros problemas e desafios hercúleos, embalados pela determinação
de um povo honesto, cordato e trabalhador.
No entanto, nem tudo é desanimador, pois há
na região uma rica diversidade da fauna e flora e o maior conjunto de bacias
lacustres do Nordeste. A transição entre o cerrado e a floresta amazônica criou
um lugar único de campos dominados pelas águas, particularmente no período
chuvoso, que transforma a região com seus rios e lagos num pantanal tão
grandioso e exuberante quanto o equivalente mais famoso no Mato Grosso. Aquele
cenário que não deixa a desejar a nenhum cartão postal do mundo. Volto a Manoel
de Barros, no mesmo livro já citado, ao falar de seu pantanal, de forma
modesta: “o mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores”.
A Baixada Maranhense tem vocação natural
para a grandeza. Por isso mesmo, engajada no desafio de tornar essa região
ainda melhor e mais próspera, a Universidade Federal do Maranhão (já tivemos a
oportunidade de escrever sobre isso noutro momento) faz sua parte: iniciou o
que considero um novo ciclo de crescimento. O campus de Pinheiro, que antes
funcionava com os cursos interdisciplinares em ciências humanas (com
habilitação em História ou Filosofia) e naturais (com habilitação em Biologia),
conta hoje com os de Medicina e Enfermagem e, mais recentemente, com o curso de
Educação Física, que teve sua aula inaugural no dia 16 (segunda-feira). Essas
três últimas graduações atenderão a uma demanda crescente de saúde de
qualidade, o que propiciará um efeito catalisador à formação dos profissionais
e à produção de conhecimento. E, ainda este ano, no segundo semestre, teremos a
honra de iniciar o curso de Engenharia de Pesca em Cururupu, cidade cuja
economia está intimamente ligada à pesca marítima.
“Deus governa grandezas”, diz Guimarães Rosa
pela boca de Riobaldo em “Grande sertão veredas”. O potencial da Baixada
Maranhense, somado à fé e à coragem de seu povo, haverá de legar às próximas
gerações uma herança de grandes conquistas, pois as esperanças mais
incompatíveis podem conviver sem dificuldades, alerta Jorge Luís Borges. Que
essas ações em favor daquela região encontrem corações maduros para que as
sementes do crescimento e da prosperidade possam gerar bons frutos. * Doutor em
Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da ACM, AMC e AML.
Nenhum comentário:
Postar um comentário