sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Apelo ao novo governo: as potencialidades da Baixada Maranhense.

Por Flávio Braga

Senhor governador, a Baixada Maranhense é uma microrregião de 20 mil quilômetros quadrados, composta por 21 municípios e habitada por mais de 500.000 habitantes. Na estação chuvosa, a Baixada se transforma em uma imensa planície alagada, que forma o majestoso Pantanal Maranhense, com toda a sua diversidade de fauna e de flora que ornamentam os seus campos naturais. É um santuário ecológico de rara beleza onde a paisagem muda de acordo com a época do ano. É uma região vocacionada ao ecoturismo sustentável.

Encravada às margens do Golfão Maranhense e ostentando diferentes ecossistemas e características bem peculiares, a Baixada Maranhense é banhada pelos rios Aurá, Maracu, Mearim, Pericumã, Pindaré e Turi, reunindo um dos maiores e mais belos conjuntos de lagos e lagoas do mundo, onde está situado o mais extenso refúgio de aves aquáticas da região Nordeste. A Baixada Maranhense foi transformada em Área de Proteção Ambiental (APA), por meio do Decreto Estadual nº 11.900, de 11 de junho de 1991, em face da sua importância ecológica, especialmente para as numerosas espécies de aves migratórias, que utilizam a região como ponto de descanso, alimentação e reprodução.

Além do maior conjunto de bacias lacustres do Nordeste, onde se destacam os lagos Aquiri, Cajari, Capivari, Coqueiro, Formoso, Itans, Lontra, Maraçumé e Viana, a região possui extensos manguezais e babaçuais. O complexo de lagos da Baixada constitui uma região ecológica de destacada importância no Estado do Maranhão, não só como potencial hídrico, mas pela importância socioeconômica que representa para as comunidades rurais, tendo em vista a intensa atividade de pesca artesanal que alimenta a população dos municípios baixadeiros, bem como parte da Capital do Estado.

Malgrado os seus encantos e belezas naturais (que a tornam potencialmente rica), a Baixada tem sido desprezada pelos sucessivos governos estaduais. Temos a população mais pobre do Estado, que sobrevive basicamente dos programas de transferência de renda e da pequena agricultura rudimentar. Na época da estiagem (outubro a janeiro), o cenário de extrema miséria desperta piedade em qualquer pessoa. Nesse contexto, políticas públicas destinadas à melhoria da qualidade de vida do campesinato baixadeiro se tornaram inadiáveis e merecem ingressar na agenda da gestão progressista do camarada Flávio Dino.

À guisa de contribuição, sugerimos algumas obras emergenciais e estruturantes que produzirão benefícios imediatos à sofrida população baixadeira: apoio à construção dos diques da Baixada, recuperação da barragem do Rio Pericumã em Pinheiro, pavimentação da estrada de Pedro do Rosário ao povoado Cocalinho em Zé Doca, construção da ponte sobre o rio Pericumã ligando Bequimão ao litoral ocidental do Estado, construção das vicinais de campo para represar água em fundos de enseadas, construção da barragem do rio Maracu em Cajari, pavimentação da estrada de escoamento do pescado de Itans a Matinha, reconstrução da barragem da Maria Rita (beneficiando os municípios de São Bento, Palmeirândia Peri-Mirim e Bequimão), implantação do pólo turístico da Região dos Lagos e reconstrução da barragem do Félix entre Bequimão e Peri-Mirim. Governador, a Baixada espera a sua ajuda. Forte abraço e votos de muito sucesso.


ARISBRITH TINOCO: Uma eterna e agradável lembrança...

Quando eu quis ser professor da minha Escola Cenecista “José Maria de Araújo, em São João Batista, nos idos de 93 a 95, por aí, eu já vinha de muitas outras lousas. E foi assim que tive a honra de lecionar para muitos jovens da minha terra. Dentre todos um grupo se destacava. Não porque eram estudiosos, mas exatamente pelo contrário. Não eram adeptos do estudo, nem da leitura, nem da escrita. Mas eram mestres de suas tarefas cotidianas. Aribrith, por exemplo, era magarefe. Um astro na arte de retalhar um boi. Os outros daquele grupo eram Elsinho e Neto.

Eu já tinha naquela época amizade com todos, por essa razão, a disciplina que eu lecionava, perdera um pouco do caráter acadêmico. O que sobrava era apenas a admiração pelo ensinar. E isso eles me tinham de sobra. E eles ali, no fundão, vivendo suas galhofas juvenis, ficavam boquiabertos muitas vezes... E o Português passando! E a Literatura? Pra que eu quero isso...

E assim concluíram...

Tornamo-nos cada vez mais amigos. Eu e Arisbrith. Aliás sempre me invocava aquele nome. De onde Baco teria tirado aquele nome? O certo é que ele estava ali, e se fazia amigo de todos. Afinal tinha um jeito único de misturar o feio e o belo. Se para alguns não tinha os traços dos gregos, nem dos romanos, tinha em demasia o jeito nosso, o jeito joanino de ser: belo por dentro.

Sua beleza interior era o que valia..., afinal somos estereótipos de pó, escultura do nada!
E assim em vida viveu a intensidade do seu tempo. Até que a morte, nossa única certeza e temida algoz, viesse sentar-se à mesa.

Arisbrith Tinoco deixou-nos nesta quarta-feira de cinzas, como se quisesse tão-somente deixar passar o seu último carnaval. Estava enfermo já havia algum tempo. Buscou em terras outras, os saberes médicos que pudessem reverter-lhe o destino. Deus, porém, o quis agora. E ele foi, deixando-nos saudosos, a todos que o conheceram.

Desfalcado, o grupo segue! Aliás a vida continua com vidas e saudades!

O homem de ombros largos sucumbiu à força do que lhe reservara o destino. Certamente cumprirás em outro plano sua missão, uma vez que aqui serás agora o menino de sempre e uma eterna e agradável lembrança: Arisbrith Tinoco.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Velhos carnavais...


Ouve-se dizer nas principais rodas de conversas que pras bandas daqui já não se faz mais carnaval como antigamente. É verdade. Foi-se um tempo em que o carnaval era a festa da espontânea alegria e da irreverência gostosa de se ver... 

Era o momento das brincadeiras de fofão, das charangas, dos blocos de sujo, do talco cheiroso (Gessy e Tabu, só para lembrar alguns), do verdadeiro lança-perfume, dos foliões solitários que se punham a arrastar latas-velhas, pinicos e outras quinquilharias, quase sempre a entoarem uma “jardineira” descompassada. O velho alfaiate Gama fazia isto como ninguém. Era mestre na arte de brincar carnaval de um jeito só seu. De qualquer jeito valia era estar na alegria. As marchinhas davam o tom, e como esta era um ritmo aparentemente fácil de compor, alguns inveterados "foliões¨ como Tarquínio de Buca, Mariano de Nhá-Deca, Procopinho e Edinho Serra compunham suas próprias marchas carnavalescas. E não era raro cair na boca do povo. Faziam o maior sucesso. E tome carnaval!

A nossa São João Batista se enchia. Saía gente do arco da velha. A maioria mesmo vinha da capital. Os joaninos, estudantes das escolas da capital, vinham quase todos e em suas companhias, alguns amigos, visitantes, que aqui se encantavam com a hospitalidade do povo baixadeiro. 

Era um tempo em que as fantasias faziam a diferença e para isso, os que integravam as agremiações carnavalescas costumavam guardar alguns trocados, a custo da labuta nas olerias após alguns meses de trabalho para que assim pudessem comprar suas fantasias, sejam as dos blocos, ou mesmo aquelas que lhe dariam algum destaque.

Lembro-me de três cavaleiros e uma amazona que nas tardes de domingo, vestidos como generais, em luzidia seda, desfilavam em seus cavalos bem arreiados. Eram Boca e seu irmão Dico de Celina, acompanhados de Leci e seu companheiro Brás Dominice. Era de chamar a atenção. 

A Getúlio Vargas era o palco maior.  Chegava a ficar pequena, tal era a quantidade de pessoas que se aglomeravam nas esquinas para verem os blocos passarem. As torcidas se dividiam. Turma de Mangueira, Turma do Quinto, Coração do Samba, Salgueiro, Morcego do Samba, estas eram as nossas Escolas de Samba, as mais tradicionais e antigas.  O sotaque característico que vinha do tambores cobertos com couro de cobra era contagiante. Os sambas de cada um eram produções próprias. Não se cantava música dos outros. Os blocos tradicionais também brilhavam com uma cadência singular que vinha dos tamborzões. Esta modalidade geralmente reunia a juventude mais elitizada da época. Neste rítmo brilharam "Os Piratas", "Carrossel", "Orgulho Joanino", e  os "Tartaranas", um projeto da emergente juventude da época, mas que só apareceu por um carnaval apenas.

A tribo de índios, denominada "Tupi-guarani", de iniciativa do protético João Andrade, também brilhou por algum tempo naqueles velhos carnavais.  A charanga eletrizada, ao som  da velha  rabeca de Zé Barros, também marcou tempo. Foi daqui a evolução para os "blocos alternativos". 

Os velhos fofões
Naqueles tempos algumas casas eram escolhidas para recepcionarem as brincadeiras que desfilavam nas tardes de domingo e terças-feiras. Era o momento de correr o grode. Meu pai costuma servir uma novidade da época: Jurubeba indiano!

São desta época também as pérolas de Adelson e Edinho, compositores da Turma de Mangueira.  " ... o enredo de Mangueira, é pura inspiração/ é sobre a vida e a morte/ de Lólo de São João..."  ou ainda o samba que, já na época, falava das belezas naturais do Lago de Coqueiro, e a lenda de que por lá antes havia uma cidade encantada... "este ano Mangueira apresenta/ seu enredo  de real valor/ a história de um Lago encantado/ do guerreiro e do velho pescador...¨  Bons tempos aqueles...! Tudo era lícito. Aliás não se conhecia o ilícito. O que rolava, às vezes, era tão somente "alguns baseados" que vinham lá do encruzo feliz. De resto, a festa era regada com muito vermute, conhaques e muitas louras... 

E assim, ao cair das tardes dos domingos e das terças-feiras de carnaval, nossos artistas e homens comuns se tornavam generais da banda. Faziam das suas alegrias as alegrias de muitos... Tudo era festa, e tudo era carnaval!
Hoje nossos velhos foliões sucumbiram. Calaram suas vozes. Suas fantasias são retratos em alguma parede, lembranças de muitos baús, ou simplesmente cinzas de um carnaval que já não temos mais...