domingo, 24 de agosto de 2014

COLUNA DO JERSAN (Jornal Pequeno)

CONVERSANDO COM O POVO
Nos últimos dez dias andei na Baixada Maranhense. Exclui dos meus contatos lideranças e autoridades políticas. Conversei com o povo, ouvindo a opinião dele sobre a política e os políticos. Colhi decepções e desesperanças e, consequentemente, o desinteresse de votar. A classe política de um modo geral está desgastada. Os mandatários, aqueles que têm a obrigação de fazer e não fazem são diretamente responsabilizados por essa realidade. A ausência de governos nos assuntos de interesse da população justifica a inércia e o descalabro presente na maioria dos municípios.
A Insegurança, a educação ineficiente, a omissão das autoridades que “deixam rolar” a desqualificação de professores e a proliferação das drogas nos mais longínquos povoados provocam desassossegos, inquietações e desesperanças nas comunidades. A violência e a consequente criminalidade aumentam a cada dia sem que as providências sejam tomadas. A evasão escolar é grande e não é maior porque as famílias pobres vivem dos programas sociais mantidos pelo Governo Federal que, de uma forma ou de outra, obrigam os beneficiários a manterem seus filhos na escola.
“A maioria dos professores não ensina nada” – desabafa um aluno de uma escola do povoado Santana, em São João Batista. “Eu sei mais do que alguns deles” – desabafa outra estudante, acrescentando que só “continuo lá (na escola) porque gosto dos meus colegas, brinco e me divirto durante as aulas” – disse.

Por tudo isso o povão está ausente da discussão sobre política. Há candidatos para todos os gostos, mas não conseguiram, até agora tirar o eleitor da sua acomodação e indiferença com relação à escolha de um deles. “São todos iguais: chegam com cara de bons amigos e depois de eleitos desaparecem” – desabafou um lavrador em processo de aposentadoria.
Isso é o que se percebe no interior – o descrédito dos políticos junto à opinião pública. Os líderes não despertam o respeito e a admiração do povo. Não se fazem merecedor desses sentimentos porque não cumprem promessas de campanha, não executam programas de governos em sintonia com a vontade das comunidades, não respeitam opiniões, enfim, não ouvem o povo.
Essa constatação nos leva a acreditar que nas eleições deste ano teremos o registro da maior abstenção, votos nulos e em branco da nossa história. E de quem é a culpa?
FILHOS DA OLIGARQUIA
Políticos que cresceram sob a sombra da ditadura e do Sarney ismo, nos últimos 50 anos no Maranhão, em fim de carreira, apostam nos filhos para continuarem no poder. Sarney Filho, deputado federal de vários mandatos é candidato à reeleição e colocou o filho Adriano candidato a deputado estadual. Ricardo Murad preferiu ficar na Secretaria de Saúde e lançou a filha e o genro que disputarão cadeiras do Poder Legislativo. Arnaldo Mello aventura-se como candidato a vice na chapa de Edinho Lobão, mas, por via das dúvidas, também candidatou a filha à Assembleia Legislativa. Em Caxias o filho de Paulo Marinho é candidato a deputado federal. Existem outros muitos outros filhos da ditadura colocando filhos como tábua de salvação.
NÃO ESTÁ FÁCIL
A situação, hoje, não está fácil para o candidato do PMDB ao governo do estado, Edinho Lobão. Mesmo um tanto quanto apático o povo demonstra interesse em mudar e quem melhor representa esse sentimento é o candidato do PCdoB, Flávio Dino. A indiferença da governadora Roseana Sarney, com relação à campanha, segundo observadores, passa a ideia de que ela não tem candidato, que lavou as mãos e só pensa em passar o “bastão” a quem quer que seja. Mas há quem interprete essa posição de forma diferente, ou seja, mostrar ao Maranhão que os dois principais candidatos (Dino e Lobão) são iguais em termos de independência em relação a ela e ao seu governo, mas isso não tem ajudado Lobão Filho que tem se esforçado para alcançar o adversário, mas as pesquisas não o ajudam. É difícil não identificá-lo como membro da oligarquia decadente.
LULA COM EDINHO
O ex-presidente Lula da Silva, como foi anunciado pela coluna anteriormente, virou “garoto propaganda” da campanha de Edinho Lobão e, indiretamente de Gastão Vieira (senador). Já a presidenta Dilma Rousseff pede votos para Gastão Vieira e, indiretamente, para Lobão. Um jogo bem articulado que poderá contribuir para melhorar a posição dos candidatos do PMDB. O candidato Flávio Dino insiste em exibir fotos com a presidenta Dilma. Na minha modesta opinião, um erro.
TORNEIO DE LAÇO
Está marcado para os dias 30 e 31 deste mês, no Parque Paz e Amor – fazenda Jardim, no município de Matinha, o 1º Torneio de Laço organizado por Junior Carreteiro e Manga Rosa. Fazendeiros e vaqueiros da região deverão participar do grande evento, além, é claro, de candidatos a cargos políticos. Acontecimento desse porte reúne número muito grande de pessoas que admiram esse tipo de esporte e desta vez não será diferente. Segundo os organizadores, representantes dos municípios da baixada já confirmaram presença e participação no torneio.
DISPUTA PELO CREA-MA
Pelo menos duas candidaturas estão postas e disputarão em novembro próximo a presidência do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Maranhão. Os engenheiros Arnaldo Carvalho Muniz e Murilo Alfinete, declaram-se candidatos ao cargo, interessados em representar a classe e defender um programa de ações importantes para o Maranhão. Além deles outros nomes deverão surgir e contribuir para a democratização cada vez mais eficaz naquela instituição classista.


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Alguns dogmas universais da política

Por Joaquim Haickel
joaquimDepois de ter sido eleito o mais jovem deputado estadual do Brasil em 1982 e de sido deputado federal na Assembleia Nacional Constituinte na legislatura seguinte, resolvi colocar no papel alguns princípios que deveriam balizar a minha jornada como político. Lendo-os recentemente vi que precisava atualizá-los, mas garanto que não os modifiquei em sua essência. Publico-os hoje no intuito de que sirvam de alguma coisa para alguém.
1 – Política se faz é com políticos. Sem eles o que se faz é coisa diversa. É como futebol profissional e de várzea. As regras até são, ou deveriam ser, as mesmas. Os jogadores chutam uma bola com os mesmos fundamentos e com o mesmo intuito, mas as duas práticas são coisas bem diferentes. Na várzea às vezes não há impedimento, mas mão na bola sempre haverá. O profissionalismo e a expertise fazem com que um e outro sejam coisas bem distintas.
2 – Só terá verdadeiramente sucesso em política quem tiver um grande e forte grupo, espalhado por todas as regiões eleitorais de seu território. Esse ensinamento vem sendo propagado de geração em geração desde que o mundo é mundo. Sem soldado não há exército, sem exército não há batalha. Sem batalha não há vitória. Ninguém entrega o poder de mão beijada. Se o indivíduo especializado em política é indispensável, um grupo deles compondo um exército será vitorioso à medida que seus comandantes lhes derem as armas necessárias e as ordens certas.
3 – É impossível fazer tudo o que as pessoas desejam que façamos, mas é indispensável que se faça tudo aquilo com que nos comprometamos. Ninguém é obrigado a prometer nada, mas tendo prometido é obrigado a cumprir, pois é com atitudes como essa que se forjam os grandes líderes. Não tema dizer não quando precisar, mas sempre que puder, diga sim. Isso fará com que sua palavra seja reconhecidamente honrada. Isso lhe dará não só respeito, mas admiração e o que é principal, sua fama de correto voará pelos quatro cantos e todos irão querer honrá-lo com suas lealdades, para em troca receberem, no mínimo, a mesma coisa.
4 – O apoio da máquina governamental facilita muito no trato da política, pois é o governo, em seus três níveis, o maior transformador da sociedade. Mas é muito importante que quem opere essa máquina o saiba fazer, sob pena de atropelar sua própria gente com ela. Caso a operação da máquina governamental não seja o forte de um líder, ele deve ter alguém de sua total confiança que o faça, com correção e dentro da legalidade.
5 – Não se deve jamais subir uma montanha carregando mais peso que o minimamente indispensável. O ar rarefeito das grandes altitudes castiga o físico. Da mesma maneira, enfrentar uma batalha política e eleitoral preocupado em ganhar o principal, mas tentar emplacar pequenas vitórias localizadas é um risco inconcebível e quase sempre desastroso. Jogue fora o peso morto e dê forças a quem verdadeiramente pode lhe ajudar a subir a montanha.
6 – Não é mais possível se fazer uma campanha, seja ela qual for, sem os instrumentos básicos para essa jornada. Entre eles estão a pesquisa e o marketing. O avanço tecnológico e o desenvolvimento da sociedade obrigam a invasão competente e o domínio correto da informação, através dos meios tradicionais como os jornais, da mídia eletrônica como emissoras de rádio, TV, e da internet pelos blogs e pelas diversas redes sociais como Facebook, Instagram, WhatsApp, Twitter… Antes que esqueça: carisma é algo fundamental, mas hoje, somente ele serve de pouco ou de nada, principalmente se você não souber usar a mídia.
7 – A opinião sobre o pior defeito que um político pode ter varia de pesquisa para pesquisa, de um público consultado para outro, no entanto existem alguns defeitos que estão sempre presentes entre os mais citados: arrogância, hipocrisia, corrupção, incompetência, deslealdade e covardia. Olhando rapidamente parece que não só os políticos, mas todas as pessoas são bem propensas a esses defeitos. Nos políticos a comprovação de um desses defeitos pode ser fatal.
8 – Um bom líder político tem que ser uma pessoa aplicada, dedicada e disponível, ele deve se envolver com as coisas, deve conhecê-las. Acessível e estudioso, deve saber tudo o que puder sobre a história, sobre seus eventos, sobre como as pessoas se comportaram através do tempo. Não é obrigado a ser cultíssimo ou inteligentíssimo, mas precisa se cercar de quem tenha essas qualidades e deve saber fazer com que estes trabalhem no sentido de suprir-lhe as deficiências. Dizer que o político tem que ser bem intencionado poderia dar margem àquele comentário de que o inferno está cheio destes, mas a verdadeira boa intenção é captada e reconhecida imediatamente pelo homem comum, que pode não saber o que é commodities, mas sabe que o preço do tomate está pela hora da morte.
9 – O isolamento é um veneno. Estar próximo das pessoas de seu círculo mais fechado é indispensável, mas sempre que possível o bom líder político deve conviver mais de perto com as pessoas comuns, de grupos diversos. Deve estar sempre aberto a ouvir e só depois disso tirar suas conclusões e tomar suas decisões, que não devem ser imutáveis por serem suas, mas mutáveis se as circunstancias assim exigir. A imagem do grande líder insone, que vai na madrugada à cozinha para comer alguma coisa e lá encontra o servente e com ele divide suas dúvidas, mesmo que metaforicamente, é o clichê da humildade e da solução simples dos problemas. Isso dá realmente certo.
10 – Na política, como na vida, o seu maior adversário é sempre você mesmo. Só você é capaz de estabelecer o seu limite. Seu limite não pode ser superado por outros, seu limite é seu. Os outros terão de superar os deles. Se você não for competitivo, se não tiver aptidão para sê-lo, se seus limites não o credenciarem a uma disputa, desista. Você tem que ter um senso crítico extremamente apurado e um senso auto-crítico extremamente honesto. Quando o filósofo disse “conheça-te a ti mesmo” ele estava falando sério. Sem isso ninguém vai a lugar algum. Somente sabendo de nossos limites é que podemos superá-los. Se nos acostumarmos a diariamente superar nossos limites, se estivermos abertos para o mundo, para nos renovarmos diariamente, jamais pararemos de superar nossos limites e será muito difícil que outros nos superem.
Existem mais dogmas na política, mas acredito que por hoje esses 10 já bastam.
(Do Blog do Gilberto Leda)